25.5.12

Cretinice

A propósito da cretinice de que existiram dois lados no período da ditadura: "Por acaso a Resistência Francesa foi julgada em Nuremberg?" (Rose Nogueira)

19.5.12

Memórias de uma guerra suja

17.5.12

Discurso de Dilma na Comissão da Verdade

13.5.12

Oportunidades

Desperdicei as boas oportunidades que tive na vida – até a de morrer lutando contra o câncer.

11.5.12

A Comissão da Verdade vai convocar José Sarney?

Blog Este Mundo Possível, 11/05/2012:

A Comissão da Verdade vai convocar José Sarney?

Por: Altamir Tojal

Dirigentes civis da ditadura proveram os meios políticos para assassinatos e torturas.

A Comissão da Verdade nasce com o poder de convocar pessoas que tenham relação com casos de tortura, morte, desaparecimento e ocultação de cadáveres, identificando e tornando públicas as estruturas, locais, instituições e circunstâncias relacionados aos crimes contra os direitos humanos, entre 1946 e 1988. O foco vai ser a Ditadura Civil-Militar, que controlou o Brasil de 1964 a 1979 (ou até 1985, como consideram alguns).

Desde que o livro “1964: a conquista do Estado”, de René Armand Dreifuss, foi publicado em 1981, a expressão “ditadura civil-militar” passou a ser incorporada a qualquer iniciativa honesta de compreender e investigar o tema. Sobre isso, merece atenção o artigo “A ditadura civil-militar”, do professor Daniel Aarão Reis (O Globo, 31-3-2012).

Dirigente civil da ditadura

“A obsessão em caracterizar a ditadura como apenas militar levou, e leva até hoje, a marcar o ano de 1985 como o do fim da ditadura, porque ali se encerrou o mandato do último general-presidente. A ironia é que ele foi sucedido por um político — José Sarney — que desde o início apoiou o regime, tornando-se ao longo do tempo um de seus principais dirigentes…civis”.

Aarão Reis pergunta se estender a ditadura até 1985 não seria uma incongruência e observa que o adjetivo “militar” o requer: “Ora, desde 1979 o estado de exceção, que existe enquanto os governantes podem editar ou revogar as leis pelo exercício arbitrário de sua vontade, estava encerrado. E não foi preciso esperar 1985 para que não mais existissem presos políticos. Por outro lado, o Poder Judiciário recuperara a autonomia. Desde o início dos anos 1980, passou a haver pluralismo politico-partidário e sindical. Liberdade de expressão e de imprensa. Grandes movimentos puderam ocorrer livremente, como a Campanha das Diretas Já, mobilizando milhões de pessoas entre 1983-1984. Como sustentar que tudo isto acontecia no contexto de uma ditadura? Um equívoco?”.

Memória interessada

Como demonstra Aarão Reis (que combateu a ditadura, foi preso e exilado), não se trata de equívoco, mas de uma interessada memória. “São interessados na memória atual as lideranças e entidades civis que apoiaram a ditadura. Se ela foi “apenas” militar, todas elas passam para o campo das oposições. Desde sempre. Desaparecem os civis que se beneficiaram do regime ditatorial. Os que financiaram a máquina repressiva. Os que celebraram os atos de exceção. O mesmo se pode dizer dos segmentos sociais que, em algum momento, apoiaram a ditadura. E dos que defendem a ideia não demonstrada, mas assumida como verdade, de que a maioria das pessoas sempre fora — e foi — contra a ditadura”.

Fala-se que o Brasil e o povo não têm memória, mas o que se vê hoje no caso da Ditadura Brasileira é uma abundante memória seletiva e conveniente, como toda memória, produzida e difundida pelos poderosos e vencedores de sempre. Diz o professor Aarão Reis: “No exercício desta absolve-se a sociedade de qualquer tipo de participação nesse triste — e sinistro — processo. Apagam-se as pontes existentes entre a ditadura e os passados próximo e distante, assim como os desdobramentos dela na atual democracia, emblematicamente traduzidos na decisão do Supremo Tribunal Federal em 2010, impedindo a revisão da Lei da Anistia. Varridos para debaixo do tapete os fundamentos sociais e históricos da construção da ditadura”.

Rolo compressor

A “verdade”, pelo menos na política, é uma construção dos vencedores da ocasião e, portanto, o nome “Comissão da Verdade” é problemático. E, por enquanto, a possibilidade dessa comissão trabalhar com autonomia e alcançar algum êxito na sua missão é apenas uma aposta que se pode fazer. O Planalto avisa que ela terá caráter de órgão de estado, e não do governo petista. Os nomes parecem dignos da função. Mas não vamos esquecer que, há dez anos, os estado brasileiro passou a ser um aparelho do PT e qualquer desvio dessa regra, como ocorre agora com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com os ministros do STF, no caso do Julgamento do Mensalão, é atropelado pelo rolo compressor do partido e do governo. Se instituições como o Ministério Público e a Corte Suprema são pressionadas dessa forma, o que esperar de uma comissão de notáveis?

Será que a Comissão da Verdade pode convocar José Sarney, o eterno vencedor da política brasileira? Presidente do Senado, ele é o maior avalista do governo petista no Congresso Nacional. Oligarca do Maranhão, o estado mais miserável do Brasil, foi eleito governador em 1965, com o apoio do primeiro ditador, o general Castelo Branco. Foi presidente da Arena e do PDS, os partidos que sustentaram a farsa do parlamento durante a ditadura. Mudou de lado com o vento da democratização e quis a nossa tragédia que se tornasse Presidente da República. Alguns dizem que Lula é o Macunaíma da política nacional, positivando a falta de caráter do herói. Mas esse título, se coubesse, teria de ser de José Sarney. De qualquer forma, comparar Lula e Sarney a Macunaíma é uma terrível falta de respeito para com o personagem de Mario de Andrade.

Inversão do aforismo de Clausewitz

Em seu curso no Collège de France, em 1975 e 1976, focado no tema do poder, Michel Foucault propôs a inversão do aforismo de Carl Von Clausewitz, segundo o qual “A guerra não é mais que a continuação da política por outros meios”. Foucault suspeita que ocorre o contrário: “A política é a continuação da guerra por outros meios”. Assim, diz, na aula de 7 de janeiro de 1976: “Sempre se escreveria a história dessa mesma guerra, mesmo quando se escrevesse a história da paz e de suas instituições”.

Vamos ver, portanto, a que veio a Comissão da Verdade: vai fundo sobre os dirigentes civis que proveram os meios políticos para assassinatos e torturas, ou vai se restringir aos militares e policiais que fizeram o trabalho sujo nos porões, simplesmente reescrevendo a velha história da mesma guerra?

NOTA: Antes que algum apressado diga que este texto é de um direitista que quer proteger militares assassinos e torturadores, informo que no dia 31 de março de 1964 eu era um estudante que militava no movimento secundarista do Rio de Janeiro. Fui para a rua no final daquela tarde logo que ouvi os primeiros rumores do golpe e só voltei para casa na noite de primeiro de abril, chorando, debaixo da chuva fina e do papel picado que caía dos prédios festejando a “revolução redentora”, depois de ter estado na porta de sindicatos, chamando trabalhadores para a resistência, de participar da ocupação da Faculdade de Filosofia, de levantar barricada na UNE, na Praia do Flamengo, e de protestar na Cinelândia, em frente ao Clube Militar, fugindo de lá debaixo de tiros. Desde aquele dia não parei um momento de lutar pela democracia. Fui preso, torturado e sofri perseguição durante anos. Com erros e acertos, derrotas e vitórias, sei que a vida não pode ser diferente para mim.

10.5.12

"Do túnel pra cá"

Folha ZN, 09/05/2012:

Cidadania e Inclusão Social
ANDREI BASTOS

“Do túnel pra cá”

TODOS CONHECEM A EXPRESSÃO “do túnel pra lá”, usada por moradores da Zona Sul em relação à região da cidade separada da sua pelo túnel Rebouças. Isso é dito como brincadeira, mas revela um preconceito que não existe do “túnel pra cá”. Sem medo de ser feliz, a gente de cá vai para lá nos fins de semana de sol, se bronzear e mostrar seu valor. Sem discriminar filhinhos de papai, de carango, busão ou metrô, a moçada esquenta os verões da orla com muito samba, suor e cerveja. Foi essa alegria de viver “do túnel pra cá”, que supera preconceitos com poesia, samba e carnaval, que me fez aceitar com prazer o convite da Folha ZN para escrever sobre cidadania e inclusão social.

O inimigo não é o crack
A CAPA DESTA FOLHA ZN é dedicada a mapeamento recente, feito pela Secretaria municipal de Assistência Social, que mostra a maioria das cracolândias do Rio na Zona Norte. O crack geralmente é apresentado como o inimigo e discutimos “soluções” para um crime consumado. Este crime, na verdade, antecede o vício a que são levadas pessoas sem perspectiva de vida produtiva. Se não nos anteciparmos à droga e incluírmos socialmente essas pessoas, o problema do crack, de responsabilidade pública, continuará. O que devemos combater é a incúria das autoridades.

Rio+20 acessível
NÃO EXISTE MAIS desenvolvimento sem responsabilidade social e ambiental. Por isso, hoje em dia é cobrado respeito ao direito de ir e vir das pessoas com deficiência. Com tal preocupação, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que ocorrerá de 20 a 22 de junho, contratou a arquiteta Regina Cohen, do Núcleo Pró-Acesso da UFRJ (www.proacesso.fau.ufrj.br), como consultora de acessibilidade. Regina é cadeirante, o que associa vivência à técnica e é de grande valia para o evento (espero que para nossa cidade também).

ANDREI BASTOS é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ.
Blog: www.andreibastos.com.br/blog – Email: contato@andreibastos.com.br

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Link para a edição na web:
http://zncomunicacao.com.br/pub/edicao17/

Link para download do PDF:
http://zncomunicacao.com.br/pub/edicao17/files/17_fzn_grafica_17_fzn%20reduzido.pdf

4.5.12

Castigo dobrado

O Globo, Opinião, 04/05/2012:

Castigo dobrado

ANDREI BASTOS

Outro dia recebi uma cópia do “Manual da Pessoa Presa” elaborado pelo governo do Ceará, que parece ser único no Brasil. Li com bastante cuidado, particularmente o trecho que fala do direito do preso à assistência por parte do Estado, e não vi nenhuma referência aos presos com deficiência, o que não constitui novidade.

Se já não encontramos atenção às pessoas com deficiência em situações comuns, que dirá na condição de apenadas. E se já é difícil falar de direitos de presos, numa sociedade que entende o sistema carcerário como mero instrumento para se livrar de indesejáveis perigosos, é mais difícil ainda trazer à luz o problema do preso com deficiência, duplamente indesejável e invisível – pela deficiência e pela condição de preso.

Antes de tudo, é preciso entender que deficiência não é sinônimo de santidade e, assim como qualquer ser humano, que envelhece ou adoece, o deficiente também pode cometer crimes e ser preso. Além disso, a pessoa também pode ficar deficiente no momento da prisão, por causa de um tiro, por exemplo.

Estamos cansados de saber das péssimas condições de vida nas cadeias, mas nem por isso tais espaços deixam de ser extensões do nosso mundo e, como tal, devem ser objeto da mesma reflexão que dedicamos às cidades e suas construções, por mais difícil que seja denunciar a falta de atendimento às necessidades específicas de pessoas com deficiência presas.

Quando presos sem deficiência já vivem em condições sub-humanas, o que esperar das condições de vida dos que têm alguma deficiência e nenhuma atenção às suas características físicas, sensoriais ou intelectuais diferentes? Se as cidades e seus equipamentos, aqui fora, não oferecem atendimento satisfatório para seus deficientes, o que esperar das cadeias e penitenciárias?

E se já aqui fora os “diferentes” sofrem preconceito e discriminação, tornando-se invisíveis para os olhos e consciências dos outros, mesmo que não esperemos muita coisa, é preciso dizer que atrás das grades também existe gente com direitos, deficiente ou não. No caso das pessoas com deficiência, são direitos específicos, que nada têm a ver com outras questões, como a condição de presidiário, por exemplo.

Sempre foi impressionante o silêncio da sociedade em relação aos seus deficientes. Mais impressionante ainda é o mutismo em relação aos deficientes presos e o total desconhecimento das condições em que vivem. Quem quiser pode pesquisar à vontade, na internet e nas bibliotecas, mas não vai encontrar informações satisfatórias sobre o tema.

Não existe preocupação com esses presos, o que leva a se pensar que se o cumprimento da pena por um deficiente se dá em condições que não atendem a suas necessidades, tornando sua vida duplamente difícil na prisão, será possível pleitear reduções de penas para criminosos com deficiência por eles estarem recebendo castigo dobrado.

ANDREI BASTOS é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/Rio.

2.5.12

Unesco contrata para acessibilidade e direitos humanos

Blog da Audiodescrição, 01/05/2012:

Unesco abre edital para contratação na área de acessibilidade e direitos humanos

Acordo de cooperação assinado entre a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), prevê a contratação de empresas estabelecidas em países-membro da Organização das Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento de conteúdo e de materiais para cursos de formação continuada sobre acessibilidade e direitos humanos.

O objetivo do governo é estruturar um programa de capacitação para gestores, técnicos e agentes sociais em federal, estadual, municipal e no Distrito Federal. As empresas interessadas em participar do processo de seleção, conforme prevê o Edital nº 0031/2012, devem encaminhar propostas até o dia 29 de maio.

Plano Viver Sem Limite – A medida integra as ações do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite, lançado em novembro passado.

Eventuais dúvidas sobre o Edital devem ser encaminhadas para o e-mail:licita@unesco.org.br.

Nota do Blog: o edital prevê que a contratada deverá produzir livros e produtos audiovisuais com audiodescrição

Fonte: Assessoria de Comunicação da SDH

Cachoeiragate

Chegou a hora de o Brasil descobrir o Cabral.