27.11.16

“Transformações para a Paralimpíada criaram ilhas de acessibilidade”

Jornal da PUC, 16/09/2016:
“Transformações para a Paralimpíada criaram ilhas de acessibilidade”
Lucas Paes
A Paralimpíada de 2016 abre os olhos dos brasileiros para a realidade de 6,2 milhões de deficientes que vivem no país, cálculo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tão considerável quanto o número são as medidas que precisam ser tomadas para inserir as pessoas com deficiência na sociedade. Ao organizar o megaevento, o governo federal disse criar uma série de procedimentos para atender às necessidades dos deficientes, mas especialistas criticam o foco das ações. Para o jornalista Andrei Bastos, cadeirante e integrante do Fórum Nacional de Educação Inclusiva, “as melhorias foram implantadas apenas nos locais de competição ou com grande trânsito de turistas, o que gerou ilhas de acessibilidade”:
– A preparação paralímpica não trouxe nenhuma mudança significativa em termos de infraestrutura acessível, pois as transformações ocorreram em locais bem específicos, que se tornaram ilhas. No restante do espaço, entretanto, proliferam-se calçadas esburacadas e ônibus sem adaptação. Há um atraso no desenvolvimento da cidade como um todo. É preciso incorporar as mudanças no plano diretor, e não só fazê-las para estrangeiros verem – defende.
Entre os projetos governamentais esteve a vistoria dos equipamentos de acessibilidade nos aeroportos do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Salvador, Brasília e Manaus. A Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) coordenaram a fiscalização. A SDH também financiou cursos de atendimento às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, como o voltado aos hotéis cariocas e que originaram a publicação “Rio Abrace a Diferença – Recebendo o Turista com Deficiência”.
A vice-presidente do Centro de Vida Independente (CVI), Lilia Martins, concorda que as obras se concentraram em áreas reduzidas da cidade, mas ressalva reformas como a revitalização da Praça Mauá:
– Antes, a região do porto era precária e praticamente inutilizável para deficientes. Agora, o espaço público pode ser tranquilamente usado por todos, sem distinção.
Representante do CVI, associação de utilidade pública, dedicada à inclusão social de grupos deslocados socialmente e localizada no campus da PUC-Rio, Lilia acredita que o megaevento foi uma excelente oportunidade para a troca de conhecimentos e ideias entre paratletas.
Bastos tem uma visão menos positiva, e considera que o próprio perpetua a exclusão:
– A Paralimpíada, na minha visão, é um equívoco. Ela não deveria ser separada dos Jogos para pessoas sem deficiência, pois isso já representa uma exclusão. Atletas deficientes poderiam ser incluídos em categorias diferentes, ou seja, eles não disputariam diretamente com os demais, mas ainda assim estariam na mesma competição. Aí sim haveria inclusão. Não houve grande evolução, nesse sentido, ao longo da história. Desde Roma, em 1960, quando as Paralimpíadas surgiram, elas permanecem com viés discriminatório.
Mobilidade urbana
Um dos pontos mais destacados pelos dois especialistas no que diz respeito às dificuldades dos deficientes é o deslocamento entre diferentes áreas das cidades. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, somente 4,7% das vias urbanas brasileiras contam com rampas para cadeirantes. O Rio vive uma situação ainda mais complicada, porque, diferentemente de outras grandes cidades, as calçadas não são de responsabilidade do poder público. Na verdade, pertencem aos proprietários de casas e outras construções que ficam à beira da rua.
– Cada morador cuida das calçadas da maneira que bem entender, e isso dificulta a manutenção de boa infraestrutura. Em Londres, por exemplo, o governo é responsável pelos cuidados, o que permite a padronização de materiais e formas. Chegamos a ter o projeto Rio Cidade, que implantou a padronização na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Deu resultado, mas não houve conservação com o passar dos anos – explica Bastos.
A irregularidade na conservação de áreas urbanas dificulta ainda mais a locomoção dos deficientes. A professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio Sandra Bernardo, que é cadeirante, sente na pele a gravidade da situação:
– Preciso buscar alternativas por causa dos buracos, da ausência de espaço e de rebaixamentos nas calçadas. As poucas adaptações que existem são malfeitas, apenas para constar mesmo. A cidade não deveria ter degraus, visto que há idosos, bebês transportados em carrinhos, pessoas com diversos níveis de dificuldade – critica.
Somado à conservação das ruas, o transporte público também aparece como um entrave à mobilidade das pessoas com deficiência. Lilia lembra que melhorias vêm sendo feitas nos diferentes meios com o objetivo de facilitar o acesso e uso por parte dos deficientes. No entanto, é o longo caminho a ser percorrido para que, de fato, o sistema brasileiro seja digno de elogios.
– O transporte coletivo continua “para inglês ver”. Rotas acessíveis para lugares turísticos do Rio até foram criadas, mas o problema é como os deficientes poderão chegar a elas. Os ônibus mais adequados não são os com elevador, mas aqueles que têm piso baixo – testemunha Bastos.
Prefeitura do Rio refuta a crítica de que os projetos desenvolvidos atendam somente a áreas turísticas ou próximas das instalações esportivas. Destaca o Programa Bairro Maravilha, responsável pela urbanização e implantação de infraestrutura nas zonas Norte e Oeste. “As intervenções incluem pavimentação, implantação de sistemas de esgoto, drenagem, construção de rampas e calçadas e plantio de árvores”. De acordo com a prefeitura, até junho foram instaladas 8.245 rampas de acessibilidade, número que chegará a 10.643 até dezembro.
No que diz respeito ao transporte público, a Prefeitura defendeu o projeto Rotas Acessíveis, citado por Bastos, afirmando que “a intervenção oferece acessibilidade para portadores de necessidades especiais, ao ligar os principais modais de transporte (estações de metrô, pontos de ônibus, etc) às áreas turísticas da cidade”.
Foram investidos aproximadamente R$ 2 milhões na execução das obras e na instalação de piso tátil nas vias. As rotas beneficiadas foram Corcovado, Shopping Rio Sul – Pão de Açúcar, Cinelândia (Teatro Municipal, Museu de Belas Artes, Biblioteca Nacional), Barra da Tijuca (praia), Vista Chinesa, Mesa do Imperador, Jardim Botânico e Copacabana (praia).
Legislação brasileira
Tanto Bastos como Lilia avaliam que o Brasil avançou em políticas públicas para a inserção social dos deficientes. Dados do Ministério do Trabalho apontam que, entre 2010 e 2015, houve aumento de 20% no número de pessoas com deficiência atuantes no mercado de trabalho. Com base na última Relação Anual de Informações Sociais (Rais), 357,8 mil vagas de emprego estavam ocupadas por essas pessoas em 2013. Parte dos avanços pode ser creditada à chamada Lei das Cotas, de 1991, que obriga o preenchimento de 2% a 5% do quadro de funcionários de empresas com reabilitados ou deficientes:
– A lei garante uma inclusão que não haveria normalmente no mercado de trabalho. Empresas têm de contratar um percentual de pessoas com deficiência, dependendo do número de funcionários. Caso não respeitem as regras, multas são aplicadas. É o medo de punição que motiva os empresários a respeitarem regras – explica Lilia.
Outra ferramenta legislativa que tem a intenção de auxiliar os deficientes é a Lei Brasileira de Inclusão, em vigor desde janeiro deste ano. A medida prevê punições para atitudes discriminatórias e mudanças em áreas como a educação. A principal dessas transformações é a obrigatoriedade de escolas regulares matricularem alunos deficientes. Com o objetivo de incluir as crianças e jovens com deficiência no círculo social de suas idades, a lei pode ser, segundo Bastos, o pontapé para igualar as condições na disputa por espaço no mercado de trabalho:
– A inclusão integral da criança deficiente na educação formará adultos mais qualificados, capazes de competir com os considerados ‘normais’ – avalia.
A Lei Brasileira de Inclusão segue a Convenção da ONU para Pessoas com Deficiência, regimento que determina os princípios básicos de como a deficiência deve ser compreendida e inserida nos serviços sociais ao redor do mundo. Ainda que apresente, na visão de Lilia, “uma legislação avançada, o Brasil falha na fiscalização das regras”. Nessas brechas abertas, surge o desrespeito, principal empecilho para o sucesso absoluto das leis.
Preconceito
Mais antigo do que os demais problemas, o preconceito é, para Bastos, “ um fenômeno cultural”. O jornalista costuma dividir a história das pessoas com deficiência e a discriminação sofrida por elas de acordo com os diferentes estágios de evolução do homem:
– Quando os indivíduos eram nômades, abandonavam os deficientes, porque estes não tinham condições de acompanhar o ritmo de deslocamentos. Depois, com o fortalecimento do estilo de vida agrícola, as pessoas com deficiência ganharam importância e passaram ser responsáveis por cuidar das cabanas, das crianças e dos idosos. O passo seguinte foi a Revolução Industrial, com a valorização do trabalho manual, que prejudicou novamente os deficientes na competição direta por espaço. Por último, o progresso tecnológico facilitou a vida de todos, gerando, por exemplo, recursos de leitura para cegos e cadeiras de rodas mais evoluídas ­– analisa.
Lilia Martins também associa o surgimento do preconceito a tempos bem antigos, em que histórias, peças teatrais e espetáculos de circo abordavam a figura do deficiente como um ser estranho e risível, citando como exemplo o Corcunda de Notre Dame, personagem que sofria por ter uma deformação nas costas. “Por mais que hoje exista muito empenho em se criar um novo contexto de aceitação, algumas pessoas ainda olham com estranheza para o diferente”. Discurso parecido tem Sandra Bernardo, que atribui grande parte da melhora ao que chama de “época do politicamente correto”:
– Em tempos de leis e tudo mais, o preconceito está menos manifestado, mas ainda existe. Houve uma melhora no respeito, mas já presenciei dois rapazes reclamando e se recusando a cooperar, quando o ascensorista do elevador de um shopping perguntou se poderiam sair para eu entrar – relata.
A fim de manter firme a luta contra a discriminação, Bastos sugere estratégias que precisam ser inseridas desde cedo e, mais uma vez, retomam a importância do cuidado com os mais novos:
– A arma mais rápida para combater o preconceito é a inclusão das crianças e adolescentes com deficiência nas escolas regulares. A educação é um atalho para lidar com as raízes profundas do preconceito.

19.11.16

Histórias de Amor


17.11.16

A "mãe" de todos os males

MAUSY SCHOMAKER E ANDREI BASTOS

As redes sociais estão tomadas por manifestações de alegria e muitas piadas pelos últimos acontecimentos. 

Claro que é muito bom assistir às prisões de nossos ex-dirigentes Sérgio Cabral e Anthony Garotinho. É ótimo.

Mas não dá para sentir alegria sabendo que nós, cariocas, somos roubados por nossos governantes, e há muito tempo. E que os roubos deles transformam a vida de milhões de cariocas em uma corrida de obstáculos para tentar atendimento nos hospitais, para tentar vagas nas escolas, para tentar pegar um ônibus sentado, para ter acesso a direitos básicos de cidadania. Para tentar não ser assaltado. 

O roubo sistemático praticado por esses senhores, e tantos outros que ainda não estão com seus nomes nos holofotes, às verbas que nos pertencem e que deveriam ser canalizadas para o bem público e não para compras em Paris, por exemplo, matam milhares de cidadãos nas filas dos hospitais, na desnutrição sem merenda escolar, no abandono da juventude que cheira cola nas nossas calçadas (aliás, esburacadas) - nos guetos das favelas, no abandono de nossos policiais - morrendo aos montes com seus coletes vencidos -, na humilhação do servidor público recebendo salários parcelados, nas praças e ruas escuras, mal cuidadas e sem policiamento, na degradação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - um dos símbolos do descaso com a Educação desses senhores acima citados.

Num ponto de ônibus mal iluminado, em frente a uma das maiores universidades do Brasil, a UFRJ (também abandonada pelo Estado brasileiro), nosso amado filho Alex Schomaker Bastos morreu num assalto por causa de um celular. Num lugar onde deveria haver iluminação, policiamento e a presença do Estado. Mas não havia nada disso porque os valores que deveriam estar investidos no cuidado com o cidadão estavam (e ainda devem estar) sendo desviados para nababescos jantares parisienses, anéis de 800 mil reais, helicópteros para passeios particulares, muita gasolina para uso de nossos deputados e para grandes acordos entre aqueles que se consideram acima da Lei. 

Esses senhores, todos, que agora são levados pela Polícia Federal, e os outros que esperamos também sejam conduzidos nos carros pretos para prisões federais, são corresponsáveis pela morte do Alex e de tantos outros jovens mortos pela violência e pelo abandono do nosso estado.

É forte dizer mortos pela corrupção? Não achamos. A corrupção é a "mãe" de nossos males e a ela não devemos nos acostumar nem aceitar como normal.

Não devemos nos acostumar a aceitar tudo pacificamente. O que - felizmente - parece que não estamos mais. Transformar tudo em uma piada é nossa característica e somos até invejados pelo nosso bom humor. 

Então vamos contar uma ótima história para nossos corruptos: "sabe a última do corrupto? Está em Bangu, mas pode escolher entre Bangu 1, 2 ou 3. E vai comer comida da cadeia, aquela que já foi motivo de muita história nebulosa. Lembra do Rei das Quentinhas?”

PS: Por que o Pezão não foi se tratar num hospital público? Será que ele não quis tirar a vaga de um cidadão?

Mausy e Andrei
Pais orgulhosos e entristecidos

#eusoualex