12.2.09

Lula faz campanha. Para quem e quando?

MILTON COELHO DA GRAÇA

O presidente Lula fez um extraordinário comício para 5 mil prefeitos, os governantes executivos mais próximos dos 100 milhões de eleitores brasileiros, e que influenciam a maioria dos 52 mil vereadores (cuja maioria influencia uma percentagem significava desse mesmo público-alvo). Dilma a seu lado, como gerente do PAC – síntese e vitrina do trabalho de oito anos, promessa para mais quatro. Quatro mesmo? Ou só dois? Ou oito?

O presidente ainda não confirmou ser Dilma a candidata por ele apoiada para a eleição de 2010. Mas ninguém tem dúvida de que a está indicando como sucessora. Isso deixa uma dúvida: para a eleição do ano que vem ou para depois que a crise econômica global for superada?

Emílio Odebrecht teve oportunidade de conversar muitas horas com Lula, durante a viagem à Bolívia em que o Brasil reforçou laços e compromissos com o país vizinho enquanto Odebrecht consolidava seu projeto de produzir na boca dos poços de gás um poderoso complexo petroquímico, futuro fornecedor a quatro ou cinco países sul-americanos.

O empresário mostrou, após a visita, não ter a menor dúvida de que Lula seria o timoneiro mais capacitado para conduzir o país diante das marolas e tsunâmis da crise global. O entusiasmo levou-o até a pronunciar a expressão “terceiro mandato”, no momento rigorosamente proibida de ser pronunciada ou escrita nos corredores do poder.

O PT traça curvas e retas sobre as pesquisas DataFolha. E diagnostica: a queda nos índices de José Serra e a subida nos índices de Dilma são irreversíveis, indicam vitória certa da chefe da Casa Civil em outubro de 2010. Mas há muitos sinais vindos do universo político e econômico, que perturbam esse quadro aparentemente tão bem delineado.

Não só Odebrecht teme sacudidas indesejadas provocadas pela crise no ambiente social e institucional do país. Todos os grandes grupos industriais consideram que o Governo está agindo muito bem, através de sua maioria no Congresso, bem como do Banco Central, BNDES, bancos oficiais etc. no enfrentamento da crise. Nossos bancos privados não vivem nem uma fração dos problemas em outros países – desenvolvidos ou emergentes. Por que arriscar qualquer rasura nesse quadro?

Na política a candidata Dilma Roussef até agora não conseguiu obter dos outros partidos governistas o mesmo entusiasmo do PT. PMDB, bloquinho e suas dissidências, PP, PR etc. E, se a crise apertar, acho que haveria algum tipo de apelo por alguém confiável para a maioria do povo – 84%, por exemplo, seria um bom índice – uma versão moderna, mais abrangente e mais competente na comunicação social do que o queremismo de Getúlio Vargas.

Um ambiente tão tranqüilo que alguém, alegando interpretar o sentimento nacional majoritário, proponha, por exemplo, a realização das eleições nacional e estaduais em conjunto com as municipais em 2012. Ou em 2014. Delírio? É possível mas a crise estimula a imaginação.

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“Ensinar é aprender duas vezes”
Joseph Joubert (1754-1824), ensaísta francês

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CABEÇA DE OBAMA É PROTECIONISTA

Neill Fergusson, autor de “Ascent of money” (“Ascensão do dinheiro”), um ótimo retrospecto da evolução do mundo financeiro global, deu interessante entrevista à repórter Ângela Pimenta, da revista Exame. A última resposta adverte para uma perigosa tendência do governo Barack Obama, que afetaria muito nosso próprio receituário contra a crise:

“Precisamos lembrar duas coisas: a primeira é que o próprio Obama integra a ala mais à esquerda do Partido Democrata e que ele conta com o forte apoio dos sindicatos, que não são defensores das políticas de livre comércio. E baseado em coisas que o Obama disse durante a campanha, ele não se demonstrou um admirador do Nafta (NB: tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México) e certamente é muito menos provável que ele busque acordos de livre comércio com os demais países latino-americanos. Logo, esse não é um governo que se pareça comprometido com o livre comércio.”

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“Aprenda, meu filho, como o mundo é governado com tão pouca sabedoria”
Papa Júlio III (1487-1555)

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WOLFF: OBAMA NA ROTA DO FRACASSO

Martin Wolff, do “Financial Times” (e traduzido para muitos outros jornais do mundo, inclusive o nosso VALOR), faz outra advertência. O mais respeitado jornalista econômico do mundo, prevê que o plano de Obama - já aprovado também pelo Congresso americano – deverá fracassar. Por que? Porque Wolff acha que esse dinheirão deveria ser encaminhado para criar bancos sadios e confiáveis. não perder tempo em salvar o que ele chama de bancos “zumbis”.

Wolff afirma que essa opinião foi dada pelos próprios Estados Unidos aos japoneses na década de 80 – que a aceitaram e remodelaram o sistema bancário. Por que Obama teria tomado outro caminho – e errado? pergunta Wolff e ele mesmo responde:

“Pode ser que ele esteja torcendo pelo melhor. Mas também parece que ele se fez a pergunta errada. Não perguntou o que é necessário ser feito para assegurar uma solução. Em vez disso, ele se perguntou que melhor pode fazer, dadas três restrições arbitrárias e autoimpostas: nada de nacionalização, nada de prejuízos para os detentores de títulos; e nenhum dinheiro adicional concedido pelo Congresso. (…) Ao fazer a pergunta errada, Obama está fazendo uma aposta imensa. Ele deveria ter decidido limpar esses bancos imundos e sórdidos. Ele precisa repensar a situação, se já não for tarde demais.” (…) Ao fazer a pergunta errada, Obama está fazendo uma aposta imensa. Ele deveria ter decidido limpar esses bancos imundos e sórdidos. Ele precisa repensar a situação, se já não for tarde demais.”

A íntegra do artigo pode ser lida pelos assinantes do UOL www.uol.com.br e leitores de VALOR.

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ESPIÕES EM AÇÃO NA BASE DE ALCÃNTARA

A Folha deu um “furo” de reportagem ao revelar (matéria do repórter Leonardo Souza), que, pela terceira vez, equipamentos de telemetria, capazes de captar, enviar e processar dados à distância) foram apreendidos, no mês de outubro passado, em bóias encontradas nas praias próximas ao Centro de ançamentos da Alcântara. Todo o material – encontrado por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) - foi levado para o Instituto de Pesquisas da Marinha, no Rio.

As bóias são de fabricação japonesa e espanhola, mas até hoje ninguém reclamou esses aparelhos. E a repercussão dessa excitante estória de espionagem foi mínima. O que parece confirmar sua veracidade.

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INSTANTÂNEO MUNDIAL DA DESIGUALDADE

Menos de 7 milhões de pessoas controlam 25% das riquezas de todo o mundo (estimadas vagamente em 300 trilhões de dólares).

Os 20% mais ricos do planeta – mais ou menos 1 bilhão e 700 milhões de pessoas – consomem 76,6% de tudo aquilo produzido no planeta. Os outros 5 bilhões e 100 milhões ficam com 23,4%.

(Dados do site do economista Anup Shah, prêmio Nobel)

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QUANDO ELES ENTRAM O FUNDO FICA RASO

Segundo Relatório Reservado, publicação on-line especializada em economia e negócios, com a eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara, “o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a se dedicar a um de seus esportes favoritos: tirar Sérgio Fontes da presidência da Fundação Real Grandeza”. A FRG é o fundo dos funcionários de Furnas.

Controlar fundos de previdência é um objeto de desejo dos parlamentares mais bem sucedidos. Eduardo Cunha é especialista nisso. Como presidente da Telerj e principalmente da CEDAE, ele já demonstrou suas “habilidades”. O pessoal de Furnas vem resistindo a todas as pressões políticas mas o Poder Executivo depende muito da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, controlada por Cunha.

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NÃO HÁ CRISE PARA FINANCIAR CASA NOVA

Neste janeiro, foram assinados quase 46 mil novos contratos de crédito imobiliário, no total aproximado de R$ 2 bi, média de quase 43 mil reais por imóvel financiado – o melhor resultado em toda a história da Caixa Econômica Federal nesse setor.

Mesmo com esses números estupendos, que demonstram o empenho do Governo no incentivo à construção civil, as empresas continuam pedindo maiores facilidades burocráticas etc.

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ITALIANAS TÊM DE ATURAR TAPA NA BUNDA

Tapa ou tapinha na bunda não deve ser interpretado como assédio sexual. Raciocínio bem italiano, até consagrado por decisão do Superior Tribunal do país. O gesto, que no Brasil pode provocar um belo bofetão na cara com pleno apoio dos circunstantes, foi considerado inocente, desde que tenha sido um fato “isolado” e “impulsivo”.

Uma senhora exigente de respeito pelos colegas e, principalmente, pelo chefe, levou à Justiça um tapa do chefe, que ainda a teria ameaçado de revide se ela denunciasse o gesto machista, ocorrido em 1994. Em primeira instância, o homem fora considerado culpado e condenado a um ano e meio de prisão e multa equivalente a uns 9 mil reias. Mas a sentença foi revogada, pórque a Suprema Corte não viu nada “libidinoso”.

A queixosa disse que as mulheres italianas, de agora em diante, não têm mais a quem reclamar de palmada, mesmo se doerem.

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JUSTIÇA E POLÍCIA DEVEM SER LENTAS?

No dia 4 de janeiro deste ano, na cidade chinesa de Luoyang, Xiong Zhemin em oito horas matou oito pessoas, inclusive uma criança de dois anos e dois deficientes mentais. Foi preso uma semana depois (depois que a polícia ofereceu recompensa de 16 mil reais por informações que levassem a sua captura) e, em apenas 29 dias, a polícia concluiu o inquérito policial e a Justiça encerrou o processo criminal, condenando Xiong à morte.

Dentro desse prazo, o tribunal ainda verificou (respondendo a alegações do advogado de defesa) que Xiong não era doente mental nem vítima de “muitos meses de insônia e problemas pessoais”, como se justificara em carta a um jornal.

Estou disposto a levar em conta que a Justiça na China pode não ser tão ciosa como nós dos direitos humanos. Mas há algo errado em nossos sistemas de instrução criminal e judicial, quando processos se arrastam durante anos e anos, mesmo diante de fatos plenamente conhecidos e testemunhados ou comprovados.

Estamos reformando o Código Penal, mas não vejo ainda razão para otimismo ou esperança de uma Justiça eficiente.

Que tal um instituto de pesquisas sair perguntando ao povo se gosta de nosso sistema de aplicar Justiça ou preferiria o tipo chinês?

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