Até onde Sarney dará mais do que tirará?
Até onde Sarney dará mais do que tirará?
MILTON COELHO DA GRAÇA
A bancada do PT vai defender a permanência de José Sarney na presidência do Senado com tanta veemência como o grupo de Renan – que inclui a maioria dos senadores do PMDB e mais alguns de outras legendas. Isso deve ter sido acertado no jantar de ontem com o presidente Lula – sem papas na língua, sem conversa filiada: “Sarney é indispensável em nossa aliança com o PMDB”, terá sido dito com todas as letras o presidente, se necessário em tom ainda mais enfático do que usou em telefonema anterior para Aloizio Mercadante.
Aí, hoje de manhã, o presidente Lula conversará com o presidente do Senado e ambos acertarão todos os pormenores da operação “Fica, Sarney”. Uma operação que nem o deputado Michel Temer considerava essencial para consolidar sua candidatura a vice na chapa de dona Dilma Rousseff.
A senadora Ideli Salvati, a diligente e superfiel seguidora das instruções de Lula, ficará vigilante para que tudo se desenrole, daqu por diante, segundo o figurino delineado pelo chefe.
A única dúvida restante e fora de todo esse script chama-se opinião pública. O registro do passado realmente sugere que, com algumas medidas de impacto – umas 20 ou 30 diretorias fechadas –, umas dezenas de demissões de funcionários “pagãos” ou até com padrinhos, mas enfraquecidos por impressões digitais nos escândalos, tudo seria ajeitado e sepultado. O senador José Sarney talvez até fosse daqui a uns dez anos lembrado como a pessoa que restaurou os princípios de moralidade administrativa na Casa.
Mas acho que, neste caso pelo menos, a opinião pública possa alterar o script. O Partido dos Trabalhadores não é apêndice de alguma igreja ou de qualquer outra entidade com lema de “crer ou morrer”. Inclui pelo menos cinco ou seis tendências políticas e/ou ideológicas unidas por uma plataforma de ação comum. Até onde essa unidade poderá resistir a uma possível convulsão ou e rosão causada por insistência em uma convivência harmoniosa com o PMDB?
O PT tem uma história; não aceitou conviver sequer com o PMDB da resistência democrática à ditadura. Nem ao governador Requião, ainda fiel ao antigo ideário do partido, os petistas aceitam se aliar. Nem aos peemedebistas gaúchos, com figuras respeitadas como Pedro Simon e José Fogaça.
Em conversas com amigos petistas, a amargura é visível sempre que Sarney e outros “custos” da política de alianças são mencionados. Essa é uma questão ou, na verdade, “a” questão, em qualquer política de alianças. Até onde dá para esticar a tolerância, considerar favorável o saldo entre vantagens e desgastes?
A lista de nomes que reviram sua confiança no PT pode não ser muito grande, mas é perigosamente significativa. Francisco de Oliveira, Frei Beto, Milton Temer e vários outros não resistiram a dúvidas muito menos angustiantes do que as provocadas por Sarney.
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