21.9.09

Vida de luta

ANDREI BASTOS

Desde 1982, em 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A data foi escolhida porque indica o início da primavera, o que simbolizaria o nascimento de reivindicações de cidadania e participação plena na sociedade, numa projeção dos nossos anseios nas mais belas manifestações da natureza.

A pujança e beleza da vida encontram em setembro seu momento de maior expressão e, assim como as plantas e flores, nós também crescemos em direção a um espaço de conquista de visibilidade e direitos. A visibilidade que o preconceito e a discriminação nos negaram e os direitos que a injustiça social nos sonegou. 21 de setembro é o dia em que festejamos com a alegria da primavera uma luta que é das nossas vidas inteiras – pela educação inclusiva, pela acessibilidade, pelo trabalho, pela cidadania.

Pessoas como Juliana Oliveira, apresentadora de TV tetraplégica, Ricardo Tadeu, desembargador do TRT com paralisia cerebral e cegueira, Georgette Vidor, técnica de ginástica olímpica paraplégica, Marco Antonio de Queiroz, especialista em acessibilidade na web cego, Fernanda Honorato, repórter de TV e passista da Portela com síndrome de Down, Daniel Dias, campeão paraolímpico de natação com má formação congênita, ou Danieli Haloten, atriz de telenovela cega, exemplificam com suas vidas o quanto é insensato o mundo de preconceito e discriminação em que vivemos.

Diante da real dimensão da exclusão social das pessoas com deficiência no Brasil, que não têm seus direitos respeitados da primeira infância à terceira idade, que não têm como ir e vir, estudar, trabalhar ou ter lazer, a lista de exemplos é muitíssimo maior do que a apresentada acima e inclui os 14,5% da população brasileira que têm algum tipo de deficiência e cada amanhecer como o de um dia de luta.

É verdade que nosso país tem uma das melhores legislações do mundo para as pessoas com deficiência, recentemente coroada com a ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU. Também é verdade que somos recordistas no desrespeito a essas leis, quando não as ignoramos.

Muitos de nós, pessoas com deficiência, e muitos dos que se solidarizam conosco costumam dizer que falta vontade política para as leis ganharem efetividade. Mas falta vontade política de quem, cara-pálida? Dos governantes e parlamentares, preocupados com dividendos eleitorais? Das almas caridosas fajutas, que alimentam sonhos de santidade do pau oco? De quem acha que somos coitadinhos e, em benefício de suas sinecuras, precisamos ser tutelados?

Nenhuma dessas vontades importa e vamos morrer na praia se esperarmos por alguma delas. Assim como a vontade de lutar e viver cada dia a cada dia, a vontade política que interessa, que é a única capaz de fazer acontecer, é a das próprias pessoas com deficiência. A exemplo de grandes conquistas da cidadania, como do Petróleo é Nosso, das Diretas Já ou dos Caras Pintadas, no dia em que formos para as ruas, com nossos familiares, amigos, e flores, deixaremos de ter uma vida de luta e poderemos simplesmente festejar a primavera.

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Clique aqui para conhecer a programação do Jornal Futura de hoje (reprise às 17h), com reportagem sobre educação inclusiva.

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