3.10.11

Inclusão não se faz “goela abaixo”

Blog Tudo Bem Ser Diferente, 01/10/2011:

Inclusão – Comentários sobre a Reportagem veiculada pelo Jornal da Record News

A luta do Arthur pelo respeito ao seu direito de frequentar uma escola foi exibido em matéria do Jornal da Record News – o video está disponível na Internet, na página do R7: “Inclusão de crianças com deficiências em escolas comuns é um desafio”.

Desde que a reportagem foi ao ar, estou sendo procurada para esclarecer e comentar o que foi dito pela psicóloga Sra. Maria Luísa Bustamante, notadamente “o convívio não pode ser empurrado pela goela abaixo dos professores e dos alunos sem que haja um cuidado e uma preparação”.

Todos sabemos que a matéria é editada e, da mesma forma que muitas coisas que falei não foram veiculadas, não podemos ter certeza do contexto no qual tal assertiva estava inserida. Assim, prefiro acreditar que foi apenas uma escolha infeliz e que a profissional tenha tido o objetivo de dizer algo diferente do que ficou parecendo.

Gostaria de dizer que não conheço a referida psicóloga e não posso dizer qual sua real opinião sobre a Inclusão. Mas, fato é que todos tem direito a educação, a inclusão é lei e a discriminação é crime.

Obviamente, em alguns casos, dependendo da deficiência da criança, haverá a necessidade de profissionais com preparo especial para ajudá-las a desenvolver seu potencial e superar suas limitações – mas estamos falando de preparo técnico para atender a especificidade da criança da criança especial – NÃO É CURSO DE ACEITAÇÃO DE PESSOAS ESPECIAIS. Não existe preparação para se receber, aceitar e respeitar um ser humano. As deficiências não são somente inatas e podem ser adquiridas a qualquer tempo, por qualquer pessoa. Nenhuma mãe faz um curso especial para ser mãe de uma criança deficiente e não existe nenhum curso preparatório para pessoas antes de sofrer um acidente que lhes limitará suas habilidades.

É imperioso salientar que a diferença existe em todo lugar, pessoas portadoras de necessidades especiais frequentam shoppings, praças, supermercados e ninguém precisa de um preparo especial para frequentar tais locais ou deixa de frequentá-los para afastar-se das diferenças – os pais sabem que, na escola, seus filhos estarão em contato com outras pessoas e que, em não pode haver distinção de qualquer espécie seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza – ninguém põe o filho na escola esperando que esta lhe forneça um mundo de fantasia e isolamento, afastando-os da realidade da vida. Este tipo de opinião já gerou campos de concentração, apartheid, genocídio e, em escolas, Bullying quando um colega ou um professor resolve “não engolir o outro goela abaixo”.

Não se trata de ter que “engolir goela abaixo” – vivemos em sociedade e temos que nos comportar civilizadamente, respeitando normas jurídicas, sociais, morais e éticas. Assim, um professor não pode recusar um aluno ou escolher um aluno. Se ele escolheu lecionar, tem que aprender a atender todos os alunos. Se não se sente preparado, que busque ajuda e se prepare – Se não tem competência, gabarito ou intensão de atender a todos, é melhor que escolha outra profissão ou seja – na linguagem da psicologa “se escolheu ser professor, ele tem sim que engolir qualquer aluno que entrar em sua turma e aceitá-lo sem qualquer preconceito”

O mesmo serve para qualquer outra pessoa, mesmo outros alunos. Traduzindo, todo mundo tem que engolir todo mundo, “o direito de um termina quando começa o do outro”, a relação entre as pessoas é como uma rua de mão dupla “os normais têm que engolir os deficientes na mesma medida que os deficientes têm que engolir os normais”; para sermos respeitados, temos que saber respeitar; “o vento que venta lá, também venta cá”, e assim por diante. A nossa sociedade é plural e possui vários caminhos – foi assim que foi implantada a igualdade dos sexos, o sistema de cotas e outras políticas voltadas aos direitos humanos e pelo respeito à dignidade de todos.

Não se pode falar de crianças especiais como se estas fossem uma coisa desagradável, aberrações que estão sendo impostas aos professores e demais alunos…. são seres humanos, pessoas em desenvolvimento, crianças, que precisam de amor, atenção e respeito independente de qualquer preparo.

Gostaria de salientar também que apenas a colocação de rampas e elevadores não significam acessibilidade. Acessibilidade é, primeiramente, uma mudança de mentalidade – é saber reconhecer a especialidade de cada um e fornecer para cada pessoa qualquer coisa que for necessária para que ela desenvolva seu potencial.

Sou professora e já tive o prazer de lecionar para portadores de necessidades especiais, e posso dizer por experiencia própria que antes de qualquer preparo e especialização é preciso ter BOA VONTADE, HUMANIDADE, DISPOSIÇÃO PARA APRENDER E SE RECICLAR. Todo ser humano tem capacidade para aprender e todo ser humano tem também capacidade para ensinar.

No mais, a matéria foi muito bem editada e terminou de forma esplendida com a frase do neuropediatra Dr. Eduardo Zaeyen “ A inclusão é benéfica aos professores e outros alunos – vai mudar o conceito da tolerância ao diferente pela aceitação ao diferente, e aceita por que é capaz de identificar que o diferente é capaz de agregar valor”.

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