12.10.13

Proteção

Pelo dia das crianças:

Proteção

ANDREI BASTOS

Eu lancei meu livro Assimétricos no dia 1º de outubro. Na noite do dia 3, antes de encontrar amigos na Cobal do Humaitá para comemorar, fui levar os livros dos meus netos, a quem dediquei a publicação. Depois que me despedi da minha neta Elisa, rumei para a casa da minha filha Olivia levando os exemplares dos outros netos, Sofia e Daniel. Entrando na rua deles, que faz esquina com a Visconde Silva, avancei até quase o final do quarteirão procurando vaga, mas resolvi dar uma ré e parar de qualquer jeito na frente da casa.

Parei no exato momento em que, a uma distância de meia quadra, a babá ia apressada com as crianças, o Daniel no carrinho de bebê. Achei que iam encontrar os pais e fui atrás. Ao emparelhar e perguntar aonde iam, a babá não respondeu e continuou andando depressa. Estranhando o comportamento da mulher, avancei mais um pouco, até a quadra seguinte, subi na calçada, abri as portas do lado direito do carro e perguntei o que estava acontecendo. A babá continuou sem responder, me fazia sinal de silêncio e, sem largar o telefone, continuou a andar apressada.

Nesse momento, a Sofia, maiorzinha e mais esperta, se desvencilhou e entrou no banco de trás do meu carro. A mulher, sem nem me olhar, continuou empurrando o carrinho de bebê com o Daniel e eu comecei a segui-la de carro, com o pisca-alerta ligado e mandando aos gritos que ela parasse e me entregasse a criança.

Dobramos à direita na Rua Voluntários da Pátria nessa perseguição e, quando chegamos na esquina da Real Grandeza, também dobrei à direita, atravessei o carro quase no meio da rua, e gritei para que ela entregasse meu neto. Quando a mulher, fugindo de mim, tentou passar por trás do carro para seguir pela Voluntários, eu saí e comecei a avançar. Nessa hora, vi que do outro lado do cruzamento, parado em segundo lugar antes do sinal fechado, estava um carro da polícia com as luzes vermelhas piscando. Notei que a babá olhou na mesma direção, falou nervosa ao telefone “mas é o avô delas!” e, finalmente, soltou o Daniel do carrinho e o colocou no meu banco do carona, pois eu tinha aberto a porta do carro.

Com isso, eu não quis mais saber de nada, arranquei com as crianças e fui para o bar Belmiro, na esquina da casa delas. De lá, fiquei ligando para minha filha, seu marido e sua mãe, com todas as ligações caindo em caixas postais, até que Olivia respondeu a um torpedo dizendo que estavam numa reunião de pais na escola. Eu os convenci a irem nos encontrar e depois, quando tudo se acalmou, quando eles já tinham ido para casa, fiquei dando um tempo por ali. Quando eu já ia embora, a babá reapareceu passando na minha frente direto e ainda sem responder às minhas perguntas sobre o que tinha acontecido. Liguei para minha filha avisando que a mulher estava voltando e disse que ficaria esperando notícias ali mesmo. Já passava de 22h.

Depois que Olivia me disse que estava tudo bem, fui encontrar meus amigos mas até agora não estou tranquilo e fico nervoso quando lembro do que aconteceu, da cena da mulher se afastando com Daniel e eu com medo de perdê-los de vista. Vai demorar para passar, se passar…

A história que a babá contou foi a do sequestro de uma filha, que estaria em poder de bandidos etc. etc. Infelizmente, perdi inteiramente a confiança nela, pois, na melhor das hipóteses, não teve expediente para ligar para um de nós, expondo as crianças a um grande perigo, pois os caras mandaram que ela as levasse quando ficaram sabendo que se tratava de uma babá e estava cuidando dos filhos dos patrões, o que poderia resultar num sequestro real, como fizeram com a mãe de um amigo meu que, obedecendo a ordens iguais, acabou sendo sequestrada de verdade e foi preciso pagar resgate e acionar a polícia para libertá-la.

O que também me faz admitir a possibilidade de que poderia se efetivar um sequestro real é o fato de que os bandidos mudaram as orientações duas vezes. Começaram apenas pedindo dinheiro (R$ 5.000,00, segundo a babá) mas, quando souberam das crianças, mandaram que elas fossem levadas junto até um lugar que indicariam e, finalmente, quando as crianças foram resgatadas por mim, voltaram apenas ao dinheiro, mandando que a mulher comprasse créditos para celulares, pois ela dissera que só tinha menos de R$ 1.000,00 no banco.

Durante todo o episódio, agi com tranquilidade e firmeza surpreendentes, como se estivesse sendo guiado e protegido e resolvi contar essa história para que mais pessoas se previnam em relação a tal perigo.

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