18.4.14

Experiências doidas do Cacá

O vagão feminino

Cassiano Fernandez

Cinco horas da tarde, horário de pico, em plena sexta-feira, pessoas enlouquecidas entram e saem da Estação Central do metrô parecendo uma manada de búfalos em debandada.

Eu, como uma lebre desviando daquele turbilhão, tentava com o auxilio de um segurança galgar a plataforma para tomar o trem em direção a Botafogo. Foi quando este, ao chegarmos ao fim da escada, me conduziu ao trem correto, porém me despachando no primeiro vagão aberto.

É sabido (eu não sabia) que em dois determinados períodos do dia existe pelo menos um vagão exclusivo para mulheres em cada trem. Após ter sido lançado dentro do vagão como um pacote a um contêiner, percebi que mulheres me cercavam por todos os lados – eu nunca tinha visto tanta mulher junta! Eram de todos os tipos possíveis e imagináveis.

Ao constatar a situação, indaguei de mim para mim:

“Que merda que estou fazendo aqui?!”

Começo a reparar por detrás dos óculos escuros os olhares indignados de duas delas.

Olhando para o meu lado direito entendi que não estava sozinho em questão de gênero, havia encostado na parede com um jeito blasé, como se nada estivesse acontecendo, um homem sem nenhum tipo de dificuldade que pudesse explicar sua presença ali.

A conversa das mulheres já estava começando a me irritar, sobretudo o timbre de voz da mais velha, que me soava como um trompete desafinado, dizendo que aquilo era um absurdo, que não havia nenhum tipo de fiscalização, que afinal de contas o que aquele homem “desavisado” estaria fazendo ali.

Resolvi acabar com a quizumba colocando a mulher na maior saia justa de sua vida. Toquei levemente no braço da mais nova perguntando com tom de ingênuo e pesaroso:

“Com licença, querida, esse vagão é exclusivo para mulheres?”

“É sim”, respondeu-me esta sorrindo.

Foi então que reparei que a idosa perdia as cores. Sem perder tempo repliquei com ar solidário dirigindo-me diretamente à senhora:

“Ih, meu Deus, mil perdões, o homem do metrô me despachou aqui sem que eu nada soubesse. A senhora quer que eu salte na próxima estação e troque de vagão?”

Ela num salto ergueu-se de seu lugar praticamente implorando:

“Não meu filho, pelo amor de Deus, fica aí! Você não tem culpa de nada, estávamos falando daquele ali de pé junto à parede. Eu ofendi?”


Respondi serenamente que não e seguimos o nosso caminho conversando sobre amenidades.

Fonte: Blog do Comdef-Rio

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