Castigo perpétuo
O Globo, Opinião, 05/06/2016:
Castigo perpétuo
MAUSY SCHOMAKER E ANDREI BASTOS
Não é verdade que a sociedade brasileira não prevê
o castigo perpétuo. Nós, pais de Alex Schomaker Bastos, fomos condenados a uma
pena perpétua no dia 8 de janeiro de 2015, quando nosso amado filho foi
assassinado covardemente por seres sem nenhuma humanidade, por causa de um
celular revendido por R$ 300,00.
Terça-feira passada, saiu a sentença condenando anderson
leandro bernardes e william augusto nogueira a 28 anos de reclusão. Aqui
fazemos questão de escrever seus nomes com letras minúsculas, de acordo com a
insignificância deles.
Quando recebemos a notícia da condenação, não
ficamos felizes. Como podemos ficar felizes revivendo a notícia da morte de
Alex e cada momento do nosso sofrimento desde então? Como podemos ficar felizes
com uma condenação que não corresponde à nossa pena perpétua? Nosso sentimento,
além da imensa tristeza, foi de gratidão ao acolhimento pela sociedade, que fez
o que era possível por meio da polícia e da Justiça. Mas não há justiça no
assassinato de nosso amado filho. Não há justiça na morte do Alex e de tantos
outros jovens, que têm seus sonhos interrompidos para que lhes sejam roubados celulares
e mochilas. A vida deve valer mais do que isso.
Acreditamos que a sentença do juiz Guilherme
Schilling Pollo Duarte diz tudo: ”...as circunstâncias do crime... mostraram-se
exacerbadas e destoantes daquelas normalmente associadas ao tipo penal
vulnerado, já que evidente o completo desprezo pela vida humana. Após um exame
aprofundado dos elementos de prova... foi possível constatar que a prática
criminosa tinha inicialmente o único propósito de proceder a subtração
patrimonial de um aparelho celular e uma mochila. Em seguida, verificou-se uma
verdadeira escalada criminosa que culminou com a morte da vítima de maneira
completamente desnecessária e cruel, num ato de incomum crueldade mesmo se
comparado com crimes similares verificados no cotidiano deste grande centro
urbano. Para tanto, a dupla criminosa aproveitou-se do fato de a vítima
encontrar-se já subjugada para ceifar sua vida sem nenhum motivo aparente.”
“... Após o primeiro disparo, e já depois de
garantida a subtração da mochila, um dos criminosos disse ao comparsa para ele
efetuar mais disparos contra a vítima e o comando foi atendido”... “certamente
a execução da vítima teve origem em um ato de extrema covardia, decorrente do
simples prazer de matar...”
O simples prazer de matar, como escreveu o juiz,
está na essência da barbárie cada vez mais presente em nossa sociedade.
Queremos continuar acreditando na Justiça, ausente no assassinato do Alex.
Queremos uma Justiça que também condene a ausência do Estado, que, em nosso “grande
centro urbano”, abandona seus cidadãos à própria sorte.
Nós, pais de Alex Schomaker Bastos, mesmo condenados
a uma pena perpétua, continuaremos a lutar pela cidadania, pela justiça e
jamais perdoaremos os assassinos covardes que nos condenaram.
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