19.12.17

As palavras são nossas armas

As palavras são nossas armas
MAUSY SCHOMAKER E ANDREI BASTOS
Quando nosso amado filho, Alex Schomaker Bastos, de 24 anos, morreu pelas mãos de assassinos que queriam levar seu celular, nós também morremos, vazios e massacrados pela dor incomensurável e que jamais terá alívio.
Morremos junto com nosso filho. E morremos não só pelas mãos dos assassinos. Morremos também pela barbárie instalada em nossa cidade. A morte do Alex e de tantos outros jovens e crianças depois dele – incluindo crianças mortas dentro da mãe – substantivam a dimensão dessa barbárie.
Como pode nosso filho ser arrancado da vida de maneira tão cruel? Como viver sem compartilhar seus sonhos de estudar doenças raras, de se tornar um pesquisador e seguir a carreira de professor? Morte de filho é sinônimo de dor insana e eterna. Como sobreviver a isso? Porque viver não é possível.
Vingança? Pensamos sim. E muito. Mas é contraditório: Alex, como biólogo, estudava a vida, seu sonho era melhorar a vida e ensinar pela vida afora. Também é contraditório para nós porque sempre ensinamos que devemos lutar por nossos sonhos. E não podemos nos igualar a seres inumanos que atiram seis vezes num jovem caído no chão apenas para ficar com um celular.
Não existe humanidade em quem mata por um celular.
Não existe humanidade na incúria genocida de governantes corruptos que roubam dinheiro público, com uma voracidade sem limites, e deixam o Rio de Janeiro chegar a um ponto de abandono e desprezo pelos cidadãos como nunca se viu.
Mais que vingar, queremos honrar a memória de nosso filho e precisamos ter certeza de que fazemos o possível e o impossível, reagindo contra a violência que já é considerada normal em nossa cidade.
E para isso usamos as palavras. Acreditamos que essa é a maneira que temos para sobreviver à dor e ao luto.
Reagir e não deixar que a tristeza nos paralise. Unir nossa voz e nossas palavras àqueles que querem um Rio de Janeiro livre e lutam pela cidadania. Reagir.
As palavras que educam, proferidas todos os dias nas escolas, são as palavras e as vozes que buscamos para dar continuidade e realizar o sonho de Alex: “Quero me tornar um professor melhor, uma pessoa melhor. Gosto de ver o aluno entrar de um jeito e sair de outro”.
Para nós, a educação é a maneira mais eficaz de combater a barbárie.
“Os acusados mostraram evidente e completo desprezo pela vida humana”... As palavras da sentença proferida pelo juiz quando condenou os assassinos do Alex serviram para nos dar a certeza de que devíamos reagir e lutar pelo que nosso filho tanto amava: a vida. Reagir e lutar contra o desprezo pela vida.
Não perdoaremos jamais os assassinos do nosso filho. Não perdoaremos jamais os governantes que, por incúria, dolo, descaso e desprezo pelos cidadãos deixam ruas e praças entregues à escuridão do crime. E não falamos aqui da polícia, tão desprezada e humilhada como os demais cidadãos e um dos reflexos do menosprezo dos políticos por todos nós.
Não deixar o nome de Alex Schomaker Bastos ser esquecido é honrar nosso filho e é honrar, e não deixar esquecer, todos os jovens que morreram de forma violenta e estúpida no Rio de Janeiro.
Mesmo vivendo a condenação perpétua da tristeza, não queremos nos separar da palavra esperança. Queremos ter “esperança na esperança” de que, em nossa cidade, outros pais e outras mães não viverão a dor que vivemos.
Mausy Schomaker e Andrei Bastos são pais de Alex Schomaker Bastos, jovem biólogo assassinado por assaltantes em frente à UFRJ, em Botafogo.
Fonte: O Globo Online, 19/12/2017

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