9.1.09

Na crise, uma coisa é certa: relaxem, a próxima será pior

Diário da Manhã, 09/01/2009:

NA CRISE, UMA COISA É CERTA: RELAXEM, A PRÓXIMA SERÁ PIOR

Milton Coelho da Graça

Cada economista, cada analista, cada ministro e cada banqueiro têm uma previsão – provavelmente todas erradas – sobre até quando e onde irá a crise global. Só existe uma absolutamente infalível: a próxima será pior.

Prestem atenção no noticiário tanto nacional como internacional. No meio da confusão, prossegue, inexorável, o processo de fusões e aquisições, tanto na área financeira como na industrial. Automobilísticas japonesas, chinesas e coreanas estão tratando de se juntarem, da mesma forma como vários outros segmentos industriais. Os bancos, então, vão formando conglomerados cada vez maiores. Na crise de 29, o número de bancos nos Estados Unidos reduziu-se dramaticamente e isso se repete agora em escala mundial.

A ária final desta opereta será a apoteose da concentração, sempre regida pela busca desenfreada dos números máximos possíveis de três índices, cujas siglas são os ícones de todas as escolas de administração do mundo (inclusive aquela que me ensinou): ROI (“rate on investment” ou “relação com o investimento”, “payback” (retorno do investimento) e EBITDA (“earnings before interest, taxes, depreciation and amortizations”, em bom português LAJIDA, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações).

Só que, quanto mais estes números aumentam, menos sobra para o resto da rapaziada, que não participa nem dos resultados nem das decisões. A soma disponível de produtos e serviços pode aumentar, mas quanto mais aumenta menos a rapaziada consegue consumir, mesmo com todos os esforços de marketing consumista, cada vez mais sedutor. Opa! Quase eu ia me esquecendo a óbvia solução: que tal uma prestação, um crédito pessoal, um cartão de crédito, uma hipoteca? Está faltando grana? Compre agora, pague depois.

O circulo da crise se fecha quando o endividamento, em vez de solucionar, agrava o problema. O turbilhão da busca pelo reequilíbrio se desencadeia.

Anotem só estes números, são somente brasileiros, mas refletem a tendência mundial: no início de 2008, nossos cinco maiores bancos – na época, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Real e Caixa Econômica Federal – concentravam 52,32% de todos os ativos bancários, um total mais ou menos de R$ 1,3 trilhão (dados do BC). No fim de 2008, nossos cinco maiores bancos – pelotão agora formado por Banco do Brasil (comprou a Nossa Caixa paulista), Itaú (juntou-se ao Unibanco), Santander (levou o Real), Bradesco e CEF – já controlava 65,72% de todos os ativos bancários, uma bagatela de R$ 2,04 trilhões. Um aumento de 54%!!!

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“O caminho da sabedoria é longo através dos conselhos, rápido e eficaz através dos exemplos.”

Sêneca, pensador romano

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AINDA PAGAMOS ERROS DA DITADURA

A América Latina Logística reduziu a metade os seus planos de investimento para este ano, adiou para o próximo ano a expansão da malha da Brasil Ferrovias no Centro Oeste e desistiu de participar das novas licitações da Ferrovia Norte-Sul, segundo a publicação Relatório Reservado.

O desmantelamento de nossas ferrovias foi um dos maiores equívocos da ditadura militar no Brasil, e essa burrice – que até hoje encarece os custos logísticos para nossas exportações de minérios e produtos agrícolas – vem sendo corrigida pelo esforço conjunto do poder público e ferrovias privadas. Essa freada da ALL certamente vai atrapalhar o esforço do país para superar a crise.

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PETRÓLEO: O MITO DA AUTO-SUFICIÊNCIA

Quando atingimos a produção de 1.800.000 barris diários de petróleo, a Petrobrás e o Governo anunciaram, com farta publicidade e eloqüentes discursos, a ansiada auto-suficiência do país. Mas a coisa não é bem assim, como quase sempre ocorre nos anúncios da Petrobrás, essa curiosa empresa em que nosso governo manda mas a maioria das ações está em mãos estrangeiras.

Fechado o balanço das nossas contas externas, o déficit da conta petróleo atingiu no ano passado 13,4 BILHÕES, o que equivale (com o preço do barril a 40 dólares) a 340 MILHÕES DE BARRIS.

Enquanto isso, a Petrobrás continua envenenando o ar de nossas cidades, por desrespeitar as especificações ambientais para o diesel fornecido aos ônibus de todas as Cidades brasileiras e, agora mesmo, está sendo convocada perlo ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, para explicar porque não incluiu três cláusulas exigidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para todos os contratos de fornecimento de óleo combustível a novas usinas térmicas Quatro dessas usinas poderão adiar a entrada em funcionamento – inclusive a Goiânia II, em Aparecida de Goiás, 145,2 MW de potência, contrato com início neste mês de janeiro.

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“Desenvolvimento sem internet seria o equivalente a industrialização sem eletricidade na Era Industrial. Sem uma economia e um sistema de administração baseados na internet, qualquer país tem pouca chance de gerar os recursos necessários para cobrir suas necessidades de desenvolvimento, num terreno sustentável em termos econômicos, sociais e ambientais.”

Manuel Castells, sociólogo espanhol e professor da Universidade da Califórnia.>

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IMAGINEM, MEIRELLES CRITICOU BANQUEIROS

Ele falou com um sorriso, mas falou, e numa reunião pedida por banqueiros e industriais, com a proposta de antecipar a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) e a redução da taxa Selic, atualmente em 13,75%.

“Vamos falar sério” - assim Meirelles começou seu argumento de que os bancos, em vez de pedirem redução da Selic, deveriam diminuir seus “spreads”. Esse spread é aquilo que os bancos põem em cima da Selic nas taxas para os clientes. A Selic representa algo em torno de 1,15% ao mês, enquanto os juros cobrados pelos bancos a empresas chegam hoje até 6 ou 7% ao mês. Essa diferença, amigos, tem o nome elegante de “spread”.

Luis Aubert Neto, da Associação de Indústrias de Máquinas e Equipamentos, fez um comentário sensato: “Banqueiros pedirem para baixar os juros é milagre.”

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O PREÇO ÁS VEZES É IGUAL, MAS COMEMOS MENOS

Para diabéticos, o jeito é comprar biscoitos sem açúcar e, por isso, sou freguês do Fibrocrac. Até há pouco tempo, ele vinha em caixas com quatro pacotinhos de 40 gramas, total 160g.

O preço não subiu nos últimos três ou quatro meses. Mas, apenas com pequena indicação nos pacotinhos, estes passaram a ter apenas 35g cada e a caixa, teoricamente, 140g. Na verdade, botei na balança e deu menos do que isso.

Enfim, esse é um recurso que vem sendo usado por muitos fabricantes, inclusive grandes. O PROCON quer, com razão, que o consumidor seja alertado com maior clareza. E há um outro aspecto curioso nessa história: se esse produto estiver na lista dos usados na pesquisa da inflação, o preço continuará a ser o mesmo, nós é que estaremos comendo menos.

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COMO É POSSÍVEL ESPANTAR MORCEGOS?

Outra estorinha de consumidor, mas esta é engraçada. O sótão da minha casa virou hospedaria de morcegos. Fiquei sabendo que morcego é espécie protegida – com justiça – mas tenho de arranjar um jeito de dar ordem de despejo a esses hóspedes não-convidados, até porque não fazem nenhuma diferença entre dependências para dormir e fazer cocô, a sujeira é assustadora.

Um especialista em combate a ratos me disse que pedras desodorantes usadas nos nossos banheiros são ótimas para manter os morcegos à distância. Espalhei várias no sótão e, agora, uma semana depois, descobri que os morcegos comeram todas elas e, pelo jeito, gostaram muito. Alguma idéia de como posso espantar definitivamente essa rapaziada? Mandem-me um e-mail aqui para www.dm.com.br

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“Eu nunca viajo sem meu diário. A gente sempre deve ter alguma coisa sensacional para ler no trem.”

Oscar Wilde 1856-1900), escritor inglês

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