Em Furnas, o Carnaval começa na quinta
Folha de S. Paulo, 22/02/2009:
ELIO GASPARI
Em Furnas, o Carnaval começa na quinta
No lusco-fusco da festa, querem alcançar a caixa dos aposentados da Fundação Real Grandeza
NOSSO GUIA, com sua trajetória de sindicalista; a ministra Dilma Rousseff, com seu currículo no setor de energia; e o senador Jarbas Vasconcelos, com as credenciais de caçador de malandros, deveriam marcar um encontro para as 14h de quinta-feira na sede da Fundação Real Grandeza, no Rio de Janeiro. A essa hora começará a reunião do Conselho Deliberativo do fundo de pensão dos trabalhadores das Centrais Elétricas de Furnas, destinada a destituir seu presidente, Sérgio Wilson, e o diretor de investimentos, Ricardo Nogueira.
Com um capital de R$ 6,3 bilhões, 12.500 associados, 6.500 aposentados e pensionistas, a Real Grandeza administra o ervanário dos trabalhadores da estatal que gera 10% da energia elétrica do país. As artes de Asmodeu entregaram esse gigante a donatários do PMDB do Rio.
Pelo menos um de seus presidentes, o arquiteto Luiz Paulo Conde, teve sua indicação publicamente assumida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A degola dos dois administradores do fundo disparou uma mobilização inédita no sindicalismo brasileiro. Os funcionários de Furnas pararam seu escritório central na segunda-feira e ameaçam ir à greve, sem reivindicar coisa alguma. Querem apenas proteger o patrimônio de suas aposentadorias. Entregue a administrações ruinosas, a Real Grandeza passou por diversas caixas do “mensalão” e perdeu R$ 153 milhões no Banco Santos. Um de seus gerentes de análises de investimentos tinha a proteção de Delúbio Soares. A canibalização fez com que o fundo fechasse suas contas com um superávit de míseros R$ 2 milhões. (A atual diretoria encerrou 2008 com R$ 1,2 bilhão.)
O caso da Real Grandeza desceu dos céus como resposta àqueles que criticaram o senador Jarbas Vasconcelos por falta de “especificidade”. Se os dois administradores praticaram atos impróprios, nada melhor do que expô-los à luz do Sol. No entanto, são acusados de mau relacionamento com a diretoria de Furnas. (Falta definir “bom relacionamento”.) Eles só podem ser demitidos pelo Conselho Deliberativo, composto por seis titulares. Três são indicados por Furnas e pela Eletronuclear. Os demais são eleitos pelos funcionários e pelos aposentados. Cada titular tem um suplente. O golpe já foi a voto no ano passado e perdeu de 6 a 0. Logo depois apareceu uma oferta: os aposentados levavam a presidência da fundação, mas entregavam a diretoria de investimentos (logo ela). Foi rebarbada.
Desde janeiro de 2008, quando começaram as pressões pela degola dos dois servidores, renunciaram 6 dos 7 titulares e suplentes indicados por Furnas. Três nas últimas semanas.
Na caça aos dois administradores há um aspecto curioso. Eles têm mandato até outubro deste ano. Para que a pressa? Mais: por que a reunião do conselho foi marcada para logo depois do Carnaval?
(Saiba mais)
ELIO GASPARI
Em Furnas, o Carnaval começa na quinta
No lusco-fusco da festa, querem alcançar a caixa dos aposentados da Fundação Real Grandeza
NOSSO GUIA, com sua trajetória de sindicalista; a ministra Dilma Rousseff, com seu currículo no setor de energia; e o senador Jarbas Vasconcelos, com as credenciais de caçador de malandros, deveriam marcar um encontro para as 14h de quinta-feira na sede da Fundação Real Grandeza, no Rio de Janeiro. A essa hora começará a reunião do Conselho Deliberativo do fundo de pensão dos trabalhadores das Centrais Elétricas de Furnas, destinada a destituir seu presidente, Sérgio Wilson, e o diretor de investimentos, Ricardo Nogueira.
Com um capital de R$ 6,3 bilhões, 12.500 associados, 6.500 aposentados e pensionistas, a Real Grandeza administra o ervanário dos trabalhadores da estatal que gera 10% da energia elétrica do país. As artes de Asmodeu entregaram esse gigante a donatários do PMDB do Rio.
Pelo menos um de seus presidentes, o arquiteto Luiz Paulo Conde, teve sua indicação publicamente assumida pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A degola dos dois administradores do fundo disparou uma mobilização inédita no sindicalismo brasileiro. Os funcionários de Furnas pararam seu escritório central na segunda-feira e ameaçam ir à greve, sem reivindicar coisa alguma. Querem apenas proteger o patrimônio de suas aposentadorias. Entregue a administrações ruinosas, a Real Grandeza passou por diversas caixas do “mensalão” e perdeu R$ 153 milhões no Banco Santos. Um de seus gerentes de análises de investimentos tinha a proteção de Delúbio Soares. A canibalização fez com que o fundo fechasse suas contas com um superávit de míseros R$ 2 milhões. (A atual diretoria encerrou 2008 com R$ 1,2 bilhão.)
O caso da Real Grandeza desceu dos céus como resposta àqueles que criticaram o senador Jarbas Vasconcelos por falta de “especificidade”. Se os dois administradores praticaram atos impróprios, nada melhor do que expô-los à luz do Sol. No entanto, são acusados de mau relacionamento com a diretoria de Furnas. (Falta definir “bom relacionamento”.) Eles só podem ser demitidos pelo Conselho Deliberativo, composto por seis titulares. Três são indicados por Furnas e pela Eletronuclear. Os demais são eleitos pelos funcionários e pelos aposentados. Cada titular tem um suplente. O golpe já foi a voto no ano passado e perdeu de 6 a 0. Logo depois apareceu uma oferta: os aposentados levavam a presidência da fundação, mas entregavam a diretoria de investimentos (logo ela). Foi rebarbada.
Desde janeiro de 2008, quando começaram as pressões pela degola dos dois servidores, renunciaram 6 dos 7 titulares e suplentes indicados por Furnas. Três nas últimas semanas.
Na caça aos dois administradores há um aspecto curioso. Eles têm mandato até outubro deste ano. Para que a pressa? Mais: por que a reunião do conselho foi marcada para logo depois do Carnaval?
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