6.3.09

Na conversa tudo bem, mas nos números…

MILTON COELHO DA GRAÇA

Meta de inflação e superávit primário são duas expressões que pouca gente entende direito, mas têm muito a ver com a vida de todos nós. Minha filha chama o noticiário econômico de “xarope”, mas, se não o engolirmos e entendermos, corremos o risco de ficar muito doentes.

A “meta” é uma promessa que o Brasil faz ao mundo inteiro, especialmente a quem pode investir aqui ou nos emprestar dinheiro, e a todos os brasileiros que planejam comprar qualquer coisa ou guardar algum dinheiro: os preços vão subir bem pouquinho. Neste momento, o Brasil está prometendo que, durante 2009, ficarão dentro do limite de 4,5% - uma merrequinha. E é preciso até que eles sempre estejam subindo um pouquinho, porque a deflação, isto é, a queda contínua dos preços, desestimula a produção e o consumo - afinal de contas, quem venderia ou compraria qualquer coisa sabendo que, amanhã, o preço seria menor?

Já o superávit primário é a promessa de que o Brasil vai guardar todos os anos um dinheirinho para pagar pelo menos os juros da dívida pública, de maneira que ela não cresça (hoje já equivale a um terço de tudo que produzimos durante um ano).

Se a inflação subir mais do que a “meta”, e o “superávit primário” não chegar ao objetivo estabelecido, a confiança no país começa a cair e aí começam a acontecer muitas coisas indesejáveis: diminui o interesse em produzir aqui, ninguém sabe onde vão parar os preços, todos ficam inseguros sobre economizar (lembrem-se de que a poupança hoje rende muito menos do que há uns dez anos) - enfim, saiam de baixo.

Como a “meta” e o “superávit” estão a perigo, é bom todos ficarmos de sobreaviso - quem sai todo dia para trabalhar, a dona de casa que tem controlar o orçamento doméstico, a empregada que depende do salário ou da diária para suas despesas, e até a garotada que faz questão daquele programinha semanal e não abre mão de mesada. Vejam os números cuidadosamente levantados pelo repórter Cristiano Romero, do jornal VALOR:

1. O ministro Guido Mantega continua a falar em crescimento de 4%. Mas instituições internacionais e analistas independentes aqui no Brasil já começam a prever que nosso PIB em 2009 vai acompanhar a maré negra da crise e ficará no máximo em 0,7% positivos (essa é a estimativa mais otimista, a mais pessimista é queda de 1,5%).

2. Com isso, o governo vai arrecadar em termos reais (isto é, descontada a inflação) menos este ano do que em 2008, porque, além do esfriamento da economia, alguns impostos foram reduzidos(como, por exemplo, o IPI sobre carros), salários e benefícios foram aumentados etc. Para se ter uma idéia melhor: em 2008, o governo Lula gastou MENOS com pessoal do que o governo FHC em 2002 - 4,59% do PIB em vez de 4,86%. A conta agora deve chegar aos 5%, aí por volta de uns 100 bilhões.

3. Nesse caso, segundo Luiz Guilherme Schymura, economista da super-insuspeita Fundação Getúlio Vargas, o tal do superávit ficará abaixo do objetivo fixado pelo governo (3,8%), entre 2,5 e 3,5%. Analistas do Credit Suisse Hedging-Grillo são mais precisos, apostam em 2,8%.

Resumindo a opereta: mesmo que o Governo queira incentivar a economia, não vai ter espaço para isso, a não ser colocando em risco os compromissos com estabilidade de preços, controle da dívida pública e planos de investimento. A inflação chegaria a 6%.

Como diria um filósofo de botequim: “Não está mole não”.

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“Tem gente que se acha honesta só porque não sabia da mamata.”

Millor Fernandes, humorista (1924- ), no livro “Todo homem é minha caça.”

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E-mails de leitores

M. Craveiro: Conto esta estorinha porque v. já escreveu uma notinha explicando como jogar nas loterias da Caixa é menos vantajoso para o apostador do que jogar no bicho. Ganhei um prêmio de 1500 reais na Quina. Só os prêmios até 800 reais são pagos nas lotéricas. Daí em diante é preciso ir a uma agência da Caixa. E aí é um sufoco. Já fui a três agências e ainda não recebi porque isso leva mais de uma hora. Poderia ser tão simples como receber do bicheiro: mostrar a aposta num guichê, conferir no computador (como é nas lotéricas) e pronto. Na Caixa v. tem primeiro de descobrir quem cuida do assunto. Geralmente é um gerente, que, dependendo do prêmio, quer que v. abra uma conta e, dependendo do valor, tenta empurrar no mínimo um título de capitalização (em que a chance de ganhar um prêmio é quase igual à da mega-sena e, no final de cinco anos sem poder mexer na grana, você recebe como se fosse uma poupança?

Estorinha edificante, Craveiro. E, agora, sob o comando do peemedebista Moreira Franco (o que é que um político faz na direção de cargo técnico da Caixa?) haverá sorteios diários da Quina, para combater o “bicho”. Como o povo não é besta, continuará a preferir acertar um milhar do que uma quadra. A chance de acertar é maior.

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FARSAS E MARRETAS EM NOSSO CONGRESSO

“Vamos ver até onde vai durar esse confete pós-carnaval” – assim resumiu o líder do Bloco de Esquerda na Câmara Federal, Márcio França (PSB-SP) a pantomima armada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após levar um chega-pra-lá de Lula (“chega de ganância”) ao tentar meter a mão no fundo Real Grandeza, dos funcionários de Furnas.

Todo mundo sabe que não é pra valer o requerimento de Cunha por uma CPI que investigue os fundos de pensão. É apenas para criar outro problema para o Presidente. Já existem cinco pedidos de CPI (máximo permitido pelo regimento da Câmara). Ele quer intimidar o PT – não apenas a ala da boquinha (a ex-governadora Benedita da Silva e sua turma), que gosta também de “administrar” o dinheirinho de funcionários, mas também a ala “séria”, que não mete a mão em cumbuca, mas não quer criar problemas para a governabilidade.

É isso aí, amigos, muito confete. Vejam o caso do diretor do Senado, Agaciel Maia, outro “protegido” do senador José Sarney, que tem uma casa que vale mais de 5 milhões de reais. Ele explica que comprou o terreno e fez a construção em nome do irmão (deputado João Maia).e não foi até hoje ao cartório para explicar por quê. Até agora nenhum repórter se lembrou de perguntar: de quem ele comprou?

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“Toda política se baseia na indiferença dos interessados, sem a qual não há política possível.”

General Charles de Gaulle (1890-1970), presidente francês, em “Discursos e mensagens”.

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PELA ESTATÍSTICA O RISCO É SÉRIO

Levantamento estatístico interessante dos economistas Robert J. Barro e José F. Ursúa: dados de 25 países até 2006 mostram que houve 195 grandes quedas dos mercados de ações (com mais de 25% de perdas) e 84 recessões (declínios econômicos superiores a 10 por cento). Os Estados Unidos tiveram uma de 1917 a 1921, provavelmente causada pela epidemia de gripe espanhola, e a Grande Depressão de 1929 a 1933.

A atual queda nas bolsas dos Estados Unidos e outros países, segundo Barro e Ursúa, dão motivo para nos preocuparmos com uma depressão.

A íntegra desse documento (em inglês, feito para o National Bureau of Economic Research – Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, do governo dos Estados Unidos – pode lê-lo em www.nber.org/papers/w14760 .

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ARMAS E MAIS ARMAS NUM MUNDO FAMINTO

Outras estatísticas - estas feitas pelo Instituto de Pesquisa pela Paz Internacional, de Estocolmo, revela que, em 2007, as despesas militares continuaram subindo e atingiram cifra estratosférica: 1,339 trilhões de dólares, equivalentes a 1 trilhão e 200 bilhões de 2005. Ou seja: em termos reais, os gastos militares aumentaram 6 por cento em dois anos e 45 por cento desde 1998! 2,5% do PIB do mundo, 202 dólares per capita de todos os habitantes deste planeta!

Esses números estão todos no anuário para 2007 do Instituto, recentemente lançado.

Só os Estados Unidos gastam 45% desse número fabuloso, seguidos por Reino Unido, China, França e Japão, cada um pagando entre 4 a 5% da fatura total. Juntando os 15 maiores gastadores, eles respondem por 83% do total.

Nós até que gastamos pouco, mas os militares mais os ministros Mangabeira Unger e Nelson Jobim fazem lobby constante por maiores gastos com armas, mesmo em época de crise.

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