“Bolha do dólar” e outros números: governos entre presente e futuro
MILTON COELHO DA GRAÇA
“Primeiro, a segurança”. Este princípio básico de estratégia no futebol, enunciado há muitos anos pelo Arsenal, da Inglaterra, continua a ser seguido por muitos técnicos, sendo a versão brasileira conhecida como “retranca”.
Esse mesmo princípio é seguido pelo ser humano no comportamento econômico. Como sabemos, toda regra tem exceção. Mas, excetuando a tribo dos chamados gastadores compulsivos, qualquer um com dinheirinho (ou dinheirão) guardado, a reação predominante é a de sair de perto de qualquer risco e tratar de proteger seu capital.
E há também um segundo princípio obedecido desde o homem das cavernas, há mais de cem mil anos: a ganância – a busca permanente do maior rendimento com o menor esforço.
A conjugação desses dois princípios está na origem e no desenvolvimento das crises econômicas – cada um procura salvar o seu e usufruir o esforço alheio. E isso ocorre tanto em termos individuais como corporativos.
Todos os segmentos da sociedade – financeiro (controladores da poupança global, estimada vagamente em 300 trilhões de dólares), extrativo, manufatureiro, comercial, empresários e trabalhadores – se mexem com essa mesma lógica: primeiro o meu.
Tudo que temos visto, desde a quebra do Lehmann Brothers, em setembro do ano passado, designada como o momento da deflagração da crise, até hoje, obedece fielmente essa lógica. E tudo leva a crer que as conseqüências fatais serão o prolongamento desta crise, a inevitabilidade de uma próxima e alta probabilidade de que ela seja pior do que a atual. Não se pode deixar de lado o incrível dado de que as bolsas em todo o mundo registraram, no auge da crise, uma perda de valor superior a 100 trilhões de dólares – umas duas vezes o PIB mundial e umas sete o PIB americano. “Perda de valor”, é claro, no linguajar de economistas e analistas que insistem em ignorar a diferença entre preço e valor, e muito mais explicado pelo popular “preju”.
Além do maior perigo da “bolha do dólar” – ou seja, o excesso de dólares em circulação sobre as necessidades reais do mercado – surgem ou se mantêm uma maior concentração do capital, tanto produtivo como financeiro, a queda da confiança no sistema financeiro e a incapacidade de se recuperar um nível de emprego capaz de corrigir ou mesmo manter a atual desigualdade entre países e habitantes de cada país.
É isso aí, amigos – podem me catalogar no “bloco dos pessimistas” – vou até torcer para que eu esteja errado. Mas números não mentem. Nosso caro Guido Mantega pode continuar chefiando o Ministério das Informações Engabeladoras, mesmo contra as ponderações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que continua lançando flechas acauteladoras, alertando a importância de “se manter o pé no chão”.
Há um amplo debate internacional sobre a existência ou não da tal “bolha do dólar”. O Secretário do Tesouro americano chegou a mandar uma delegação ao Brasil para convencer o Ministério da Fazenda a não permitir que se concretizasse o acordo para a criação de uma “nova moeda de troca nas operações comerciais”. Só um jornalista contou essa estória direitinho, o competente Sérgio Leo, que cobre “relações externas” para o jornal VALOR. O presidente Lula fez em Ecaterinburgo, Rússia, o discurso preparado pelo Itamaraty a favor desse acordo. Mas, aqui chegando, ouviu Mantega e trocou de lado. (Essa frase final não é mais do Leo, é minha).
É um resumo muito interessante das reações do Brasil diante da crise: falamos uma coisa, fazemos outra; às vezes até falamos uma, depois falamos outra; ou fazemos uma, depois fazemos outra. Dependendo sempre do ministro que estiver mais perto ou mais forte. E isso, amigos, é perfeitamente normal num “governo de coalizão” e democrático, atento às pesquisas de opinião, quando o objetivo é governar sempre de olho no presente. Aqui e em qualquer outro país, governar em tempo de crise exige decisões de olho no futuro.
(Saiba mais)
“Primeiro, a segurança”. Este princípio básico de estratégia no futebol, enunciado há muitos anos pelo Arsenal, da Inglaterra, continua a ser seguido por muitos técnicos, sendo a versão brasileira conhecida como “retranca”.
Esse mesmo princípio é seguido pelo ser humano no comportamento econômico. Como sabemos, toda regra tem exceção. Mas, excetuando a tribo dos chamados gastadores compulsivos, qualquer um com dinheirinho (ou dinheirão) guardado, a reação predominante é a de sair de perto de qualquer risco e tratar de proteger seu capital.
E há também um segundo princípio obedecido desde o homem das cavernas, há mais de cem mil anos: a ganância – a busca permanente do maior rendimento com o menor esforço.
A conjugação desses dois princípios está na origem e no desenvolvimento das crises econômicas – cada um procura salvar o seu e usufruir o esforço alheio. E isso ocorre tanto em termos individuais como corporativos.
Todos os segmentos da sociedade – financeiro (controladores da poupança global, estimada vagamente em 300 trilhões de dólares), extrativo, manufatureiro, comercial, empresários e trabalhadores – se mexem com essa mesma lógica: primeiro o meu.
Tudo que temos visto, desde a quebra do Lehmann Brothers, em setembro do ano passado, designada como o momento da deflagração da crise, até hoje, obedece fielmente essa lógica. E tudo leva a crer que as conseqüências fatais serão o prolongamento desta crise, a inevitabilidade de uma próxima e alta probabilidade de que ela seja pior do que a atual. Não se pode deixar de lado o incrível dado de que as bolsas em todo o mundo registraram, no auge da crise, uma perda de valor superior a 100 trilhões de dólares – umas duas vezes o PIB mundial e umas sete o PIB americano. “Perda de valor”, é claro, no linguajar de economistas e analistas que insistem em ignorar a diferença entre preço e valor, e muito mais explicado pelo popular “preju”.
Além do maior perigo da “bolha do dólar” – ou seja, o excesso de dólares em circulação sobre as necessidades reais do mercado – surgem ou se mantêm uma maior concentração do capital, tanto produtivo como financeiro, a queda da confiança no sistema financeiro e a incapacidade de se recuperar um nível de emprego capaz de corrigir ou mesmo manter a atual desigualdade entre países e habitantes de cada país.
É isso aí, amigos – podem me catalogar no “bloco dos pessimistas” – vou até torcer para que eu esteja errado. Mas números não mentem. Nosso caro Guido Mantega pode continuar chefiando o Ministério das Informações Engabeladoras, mesmo contra as ponderações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que continua lançando flechas acauteladoras, alertando a importância de “se manter o pé no chão”.
Há um amplo debate internacional sobre a existência ou não da tal “bolha do dólar”. O Secretário do Tesouro americano chegou a mandar uma delegação ao Brasil para convencer o Ministério da Fazenda a não permitir que se concretizasse o acordo para a criação de uma “nova moeda de troca nas operações comerciais”. Só um jornalista contou essa estória direitinho, o competente Sérgio Leo, que cobre “relações externas” para o jornal VALOR. O presidente Lula fez em Ecaterinburgo, Rússia, o discurso preparado pelo Itamaraty a favor desse acordo. Mas, aqui chegando, ouviu Mantega e trocou de lado. (Essa frase final não é mais do Leo, é minha).
É um resumo muito interessante das reações do Brasil diante da crise: falamos uma coisa, fazemos outra; às vezes até falamos uma, depois falamos outra; ou fazemos uma, depois fazemos outra. Dependendo sempre do ministro que estiver mais perto ou mais forte. E isso, amigos, é perfeitamente normal num “governo de coalizão” e democrático, atento às pesquisas de opinião, quando o objetivo é governar sempre de olho no presente. Aqui e em qualquer outro país, governar em tempo de crise exige decisões de olho no futuro.
(Saiba mais)
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