30.10.09

Que inclusão é essa?

ANDREI BASTOS

Recebi um convite para debater a implementação da educação inclusiva na rede de ensino do Rio de Janeiro, em audiência pública promovida pelo vereador Paulo Messina, dia 29 de outubro, na Câmara Municipal. O motivo da audiência seria a preocupação de um grupo de mães diante do iminente fechamento das escolas especiais e a forçosa matrícula dos seus filhos em escolas regulares, o que já estaria determinado pelo Executivo. Um conflito dos brabos!

Cheguei com esta expectativa de antagonismo e fiquei surpreso com o bom senso e as palavras cordatas da secretária Claudia Costin, que informou não ser nada disso, muito antes pelo contrário, que tudo era boato e que ela estava ali, depois de cancelar compromisso de grande importância, para ouvir e aprender, já que não entendia do assunto e sua especialidade era gestão de políticas públicas, o que repetiu “348 vezes” durante o evento, coitada.

Em seguida, Claudia Grabois, diretora do Instituto Helena Antipoff, fez pronunciamento igualmente cordato, colocando-se à disposição para analisar cada caso, no instituto, o que parece não ter ficado claro e uma das mães presentes se animou a, mais adiante, discutir o problema do filho com a palestrante, levando-a à perda do foco do debate, que ela poderia ter aproveitado melhor no interesse da inclusão.

Diante do que foi apresentado pelas duas palestrantes iniciais, que enfaticamente informaram que a inclusão seria feita paulatinamente e sem traumas, fiquei achando que estava mal informado sobre a existência de antagonismos. Porém, as persistentes manifestações de desagrado de todas as mães próximas a mim, que ironizavam o que seria não mais que um recuo do governo diante da sua mobilização, acabaram por me convencer de que era travada ali verdadeira batalha.

O vereador Messina, de sorriso permanente e querendo agradar a todos, acabou comprometendo a qualidade do evento e seu desempenho como mediador ao não estabelecer limites de tempo para as palestras, que se tornaram enfadonhas e despropositadas. Tanto que, numa certa altura da chatice, o povo não aguentou e tomou o poder, interrompendo a fala de uma integrante da mesa que não captou as vibrações do ambiente, e passou a comandar a banda.

E como é que a banda toca? Certamente não é do jeito que o mediador deixou rolar na Cinelândia até meia-noite, quando foi desperdiçada uma oportunidade de realmente se discutir a educação inclusiva carioca. O que ficou, infelizmente, foi a vitória de Pirro de mães justificadamente dominadas pelos sentimentos, que saíram convencidas de que colocaram o governo contra a parede e forçaram seu recuo. Mesmo que isso seja verdade, não ocorreu o ganho real de um aprofundamento na discussão e na consolidação das conquistas obtidas pelas pessoas com deficiência, refletidas na Convenção da ONU, e as crianças e adolescentes com deficiência do Rio de Janeiro foram as baixas nessa batalha.

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