24.1.10

Acessibilidade em Búzios

ANDREI BASTOS

Nessas minhas férias em Búzios, surpreso com vagas de estacionamento reservadas respeitadas, ônibus adaptados, rampas e calçadas rebaixadas, fiquei curioso e procurei saber como tinha sido essa história da acessibilidade no pedaço. Conversando aqui e ali, dando uma olhada nos arquivos dos jornais locais, constatei, mais uma vez, que do céu só cai chuva mesmo.

Descobri com as conversas e na pesquisa que, em 2006, a então deputada estadual Georgette Vidor, paraplégica, esteve na cidade fazendo palestras sobre acessibilidade e distribuindo cartilhas do Núcleo Pró-Acesso da UFRJ e que, no entanto, nesse mesmo ano foi sancionado um Plano Diretor que não contemplava as necessidades das pessoas com deficiência.

Também fiquei sabendo que, depois de algumas iniciativas para isso em outras cidades da Região dos Lagos, na forma de eventos para conscientização, só recentemente, em 2009, e por conta de uma decisão judicial, é claro, o município passou a respeitar a lei e a se tornar acessível.

Assim, a verdadeira história da acessibilidade em Búzios começa com Juciara Tardelli dos Santos Silva, paralítica dos membros inferiores, que “foi constrangida a ‘rastejar’ pelos degraus, para conseguir subir no ônibus”, inclusive ferindo-se pela acomodação inadequada durante a viagem. Ela acionou a empresa Salineira, que foi condenada pelo juiz João Carlos Corrêa, titular da 1ª Vara da Fazenda Pública, a lhe pagar uma indenização e a providenciar a adaptação de veículos.

Ou seja, caro leitor, sem Brahma não dá! Quer dizer: sem briga, sem luta pelos nossos direitos, nas cidades mais desenvolvidas ou em paraísos como Búzios, a inclusão das pessoas com deficiência não cai do céu, não acontece como simples resultado do discernimento humano.

Portanto, se o novelista Manoel Carlos levar Luciana para tomar sorvete e fazer compras na Rua das Pedras, fugindo do calor do “Rio 50 graus” num dos próximos capítulos ainda de verão de “Viver a Vida”, dará ao seu gigantesco público Brasil afora uma excelente oportunidade de se conscientizar e refletir sobre os benefícios da acessibilidade para todos e sobre a importância de se lutar por isso. Ricos, pobres, com deficiência ou não, em Búzios, no Leblon ou na favela da Sandrinha, a personagem que vive no extremo oposto ao glamour do high society e das passarelas, todos poderão se engajar nessa luta.

A simples existência da personagem tetraplégica na novela já é grande contribuição para a perda da nossa “invisibilidade” e, certamente, as questões das pessoas com deficiência também já estão sendo melhor compreendidas através do dia a dia de Luciana mostrado na TV.

Com tudo isso, talvez a acessibilidade passe um pouco a fazer parte do ideário popular, o que contribuirá para uma nova visão do mundo em que vivemos e para que muitas ações judiciais deixem de acontecer por inexistência de motivos, da mesma forma que deixarão de existir muitas outras Juciaras constrangidas.

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