21.7.11

Esboço de resposta à convocação de Caetano

Este Mundo Possível, 18/07/2011:

Esboço de resposta à convocação de Caetano

ALTAMIR TOJAL

O que fazer quando os formadores de rebelião se tornam chapa-branca? Caetano Veloso empurra para frente o debate político no Brasil propondo o “entrudo antiempresas corruptoras”. Pense nisso!

Lúcido e oportuno, o artigo “Esboço de Resposta” parte da questão proposta por Juan Arias, correspondente do El País no Brasil, em outro artigo, intitulado “Por que os brasileiros não reagem?”. Arias, como tantos, anda intrigado com a apatia dos brasileiros em relação à escalada da corrupção no governo.

Caetano evoca a herança de Vargas e faz referências aos blogueiros que combatem a “imprensa golpista” e aos movimentos sociais (como a UNE) sustentados por verbas públicas.

O espetáculo da corrupção

De fato, o PT no governo conseguiu desmoralizar os movimentos sociais e demonizar a crítica. Ficou mesmo mais difícil mobilizar a sociedade para causas políticas amplas.

A causa do combate à corrupção no Brasil é, na verdade, a causa da sobrevivência da democracia. A naturalização da corrupção e a sua manipulação como espetáculo instrumentalizam a indignação popular, que se volta contra as instituições democráticas e não contra o governo que comanda o processo.

O pior é que o sucesso dessa estratégia é tanto maior quanto maior é o escândalo perpetrado pelos beneficiários da corrupção.

Entrudo antiempresas corruptoras

Caetano avança na reflexão sobre este tema ao especular a respeito de um novo acontecimento político no país, que ele chama de “entrudo antiempresas corruptoras”.

A corrupção no Brasil de hoje não é um vício de alguns. É um programa político para assegurar a permanência da aliança de poder do PT, PMDB, PR e demais partidos aliados, sustentada por bancos, empreiteiras e pelo sindicalismo colonizado e demais beneficiários de privilégios oficiais no país.

Catalisador de mobilização social

Combater as empresas corruptoras – entendidas como tais não só as que subornam autoridades, mas também as beneficiárias de verbas e de políticas públicas em troca do dinheiro e dos favores antecipados nas campanhas eleitorais – é uma tarefa cívica e pode se tornar um catalisador de mobilização social.

Destacam-se nesta categoria personagens notórios já amplamente recompensados, como Silvio Santos, e candidatos a recompensas, como Abílio Diniz. Mas os grandes campeões são furtivos empreiteiros e os banqueiros. Aqueles superfaturam obras públicas e estes se locupletam dos juros mais caros do mundo e produzem lucros inimagináveis.

Por que os juros não caem?

O recordista de lucro é o Itaú, com R$ 13,3 bilhões em 2010 (quando todo o Bolsa Família custou R$ 12 bilhões). O lucro dos oito maiores bancos alcançou R$ 45 bilhões em 2010. Não foi por acaso, portanto, que Roberto Setúbal, o dono do Itaú, disse em dezembro que “Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve”.

A política de juros não é hoje uma imposição de crises externas de liquidez. O capital internacional é abundante desde o começo do Governo Lula. Os juros altos e a enorme carga tributária pagam a conta do déficit público irresponsável, pressionam a inflação e forçam a valorização cambial, que agora, com a crise global, destrói a competitividade da indústria brasileira.

A oposição não pode ser refém nem se acovardar

Caetano termina o seu artigo conclamando a oposição a não ficar refém de reacionários, herdeiros da oposição a Vargas e das marchas da família com Deus pela liberdade.

Também aí o seu artigo é lúcido e oportuno. Ele pergunta: “Será que todas as tramóias de Lula com os parceiros mais variados são mesmo mais progressistas do que toda e qualquer crítica que se lhe faça?”.

A oposição não pode ficar refém de reacionários e muito menos se acovardar diante da totalização de poder desse regime comandado pelo capital e operado por uma aliança partidária onipotente até agora.

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