7.11.12

Headphone

ANDREI BASTOS

O som me domina aos poucos,
e quando me dou conta,
já preencheu minha cabeça
e avança com velocidade
pelos tecidos nervosos do meu corpo,
chegando até meus dedos inquietos,
que subitamente acalmam,
como num afogamento ao contrário,
de cima para baixo.
Entorpecidos músculos e mente,
um grito cresce bem do fundo
e fica maior que tudo,
com seu sofrimento e sua música.

Meus olhos tristes de bêbado
se enchem de lágrimas
e meu coração se aperta com uma dor aguda
ao encontrar a voz da soprano
no vazio do quarto.
Tudo o que eu quero
é deitar meu corpo cansado
e dormir na escuridão dos meus olhos
fechados e indiferentes ao mundo.

Me entrego ao ar que respiro
e flutuo ao sabor da brisa
criada pelos meus pulmões preguiçosos.
As descargas elétricas
que descem pela minha espinha
provocam contorções como orgasmos
e meu gozo acontece pelo corpo inteiro,
em cada pedaço tocado
como um instrumento pela música.
Quanta dor e quanto amor
existem juntos no meu peito e no universo!

Cada novo acorde e cada nova nota
provocam sobressaltos de medo e incerteza
diante de cada instante futuro
e me entrego mais às névoas da inconsciência
que embala meu sono de olhos abertos.
Estou perdido nessa estrada imaginada,
não sei mais o caminho de volta,
só me resta prosseguir, até o seu fim
ou até o começo da próxima música.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial