Para Lya Luft ler
O Globo, Opinião, 03/01/2013:
Para
Lya Luft ler
ANDREI BASTOS
Na minha opinião, com base no Censo 2010 do IBGE, que nos informa o
percentual de 1,4% de pessoas com “deficiência mental” (sic) severa, dentro dos
6,7% de pessoas com pelo menos uma deficiência severa, nos 23,9% de pessoas com
deficiência na população total brasileira, considero que praticamente todas essas
pessoas têm potencial e condições para serem incluídas ampla, geral e
irrestritamente na sociedade, da educação infantil ao mercado de trabalho, sob
pena de transformarmos a exceção em regra, prejudicando a maioria.
Na minha opinião, com base nas classificações de referência CID
(Classificação Internacional de Doenças) e CIF (Classificação Internacional de
Funcionalidade) da Organização Mundial de Saúde (OMS), que distinguem
deficiência de doença, considero que não é admissível dizer que uma pessoa com
deficiência tem uma doença, particularmente as que têm deficiência intelectual,
que vulgarmente são chamadas de doentes mentais. No caso de deficiências não
congênitas, como a minha, elas podem até resultar de doenças, pois foi um
câncer, que ficou para trás, que levou à amputação da minha perna esquerda.
Na minha opinião, com base no Artigo 7 da Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada no Brasil como emenda
constitucional, que preconiza que “os
Estados Partes deverão tomar todas as medidas necessárias para assegurar às
crianças com deficiência o pleno desfrute de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais, em igualdade de oportunidades com as demais crianças”,
considero que qualquer ação pela inclusão dessas crianças no ensino regular, de
acordo com os preceitos da educação inclusiva, não pode ser considerada
pejorativamente como parte do “politicamente correto”.
Na minha opinião, com base em declarações de educadores e defensores da
inclusão de crianças com deficiência no ensino regular, entre as quais destaco
a de Romeu Kasumi Sassaki, consultor de educação inclusiva, de que “o processo
de inclusão não pode ser interrompido à espera de que todos os educadores
estejam preparados para ensinar alunos com deficiência”, considero que o
aprendizado dos educadores ocorrerá no enfrentamento dos desafios colocados
pelas crianças com deficiência em suas salas de aula e, como nunca antes neste
país, em cursos de especialização na área do atendimento educacional
especializado (AEE).
Na minha opinião, com base na repercussão negativa alcançada pelas
declarações irresponsáveis de uma psicóloga que analisou o caso de Adam Lanza, o
jovem atirador da escola de Newtown, nos EUA, num programa de TV em rede
nacional de grande audiência, e disse asneiras como “estão dizendo que ele (Lanza) tinha Asperger, um tipo de
autismo em que a pessoa faz contato e às vezes é considerada inteligente”,
considero que quem tem espaço para opinar nos meios de comunicação é obrigado a
fundamentar declarações com implicações em áreas do conhecimento em que não tem
qualificação, sem prejuízo da liberdade de expressão.
Andrei Bastos é jornalista com
deficiência
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Leia também:
A inclusão de crianças com deficiência na educação infantil
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