15.4.09

Como apertar o cinto? Acabou até a barriga

MILTON COELHO DA GRAÇA

O presidente Lula talvez não se incomode muito com os discursos e protestos da Oposição ou mesmo com as críticas da imprensa, mas certamente está preocupadíssimo com o coro dos 700 prefeitos, reunidos nesta quarta-feira no auditório do Senado, no seminário “Municípios e a crise brasileira”. O título da coluna resume a queixa unânime sobre os cortes nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios pelo governo federal, e inspirada pelo discurso do prefeito baiano Jônatas Ventura (PMDB, Barra do Rocha), que se referiu diretamente ao apelo presidencial de que todos devemos apertar o cinto para enfrentar a critse global:

“Se não tiver (sic) uma solução imediata” – afirmou Jônatas, no melhor estilo baiano – os prefeitos vão cruzar os braços. Ninguém vai pedir votos ou trabalhar para a Dilma, deputados ou senadores. Nosso discurso com esse povo tem de ser de pressão. Ou nos ajudam ou vamos parar a nação. O bicho vai pegar, e eles vão acabar se destruindo com a gente. Como o presidente Lula vem pedir para apertar o cinto? Não tem nem mais barriga, o cinto já está nas costelas. Como dividir a panela que já está vazia?”

Barra do Rocha é um município pequeno, tem cerca de 9 mil habitantes. Nada melhor para descrevê-lo como o fato de que lá se registrou um dos dois piores resultados no mais recente (2008) IDEB - Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico entre os municípios de todo o país. 99 dos 100 piores resultados do IDEB ocorreram nas regiões Norte e Nordeste.

Mais de 99% dos municípios com menos de 10 mil habitantes não têm shopping center, cinema, livraria ou loja de discos. E só uma pequena percentagem dispõe de vídeo-locadoras ou lan houses.

O IBGE calcula que 47% da população do Nordeste são considerados pobres pelos critérios da ONU: menos de 50 reais por mês e; portanto, menos de um dólar por dia. Cerca de 200 famílias – mais de 10% da população de Barra do Rocha – recebem Bolsa Família. É um “grotão” típico, área em que o governo e o presidente Lula têm obtido os mais favoráveis índices de aprovação.

O tom de todo o seminário foi tão dramático como discurso de Jônatas e, sem a menor dúvida, foram um sinal de alarme para o presidente Lula e sua assessoria mais próxima. Até o fidelíssimo Severino Cavalcanti – que teve o mandato cassado por tomar gorjeta do concessionário do restaurante da Câmara Federal, quando era presidente da Casa – entrou no coro do choro:

“Estou aqui e falo porque sou fã do presidente Lula. Ele tem de fazer alguma coisa e rápido, para que não aconteça isso aí, que nem ele nem ninguém esperava. Se a gente cair, cai tudo, até ele e Dilma.”

O problema dos municípios – especialmente os pequenos – é grave, mas não muito difícil de resolver. Embora a solução deva ser parte de todo um projeto de enfrentamento da crise e não na base do corre-corre e para atender só onde está doendo mais agora.

Tudo tende a se agravar se a ambulância se tornar a única saída para cuidar da doença. Montadoras puxam para cá, outras indústrias puxam para lá, os banqueiros seguram as pontas, funcionários não querem pagar a conta que não consumiram, militares querem aviões e outras armas mesmo sem inimigos à vista etc. etc. O presidente pode ouvir todo mundo, mas, na hora certa, vai ter de fechar a porta e assumir sozinho a responsabilidade final. Como deve ser no regime presidencialista, no mesmo jeito do Obama – ele deve ser “o cara” para Lula.

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“Penso que o defeito fatal de uma porção de gente na política é que eles querem ser amados.”

Governador Mark Sanford, do estado americano de Carolina do Sul.

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FIDEL E NESTLÉ DEFENDEM ÁGUA CONTRA O ETANOL

Quem diria? Fidel Castro e o presidente mundial da multinacional Nestlé têm a mesma opinião – totalmente contrária – ao desenvolvimento do etanol. Ambos afirmam que defender os mananciais de água tem prioridade absoluta para o desenvolvimento sustentável e o aumento da produção de cana-de-açúcar aumentárá muito o consumo de água: um litro de combustível exige 9,1 mil litros de água.

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A Fundação Getúlio Vargas criou o IDSE – Indicador de Desenvolvimento Síco-Econômico –, um aperfeiçoamento do IDH (índice de desenvolvimento humano), medido pela Organização das Nações Unidas, baseado em apenas três fatores: renda, expectativa de vida e educação. A FGV usa 36 variáveis e, para começar, fez um estudo sobre a situação dos 27 estados da nossa federação, comparando os números mais atuais (2007) com os de 2001.

Nada de surpreendente na cabeça da lista, São Paulo era e continua o ser pelo IDSE o mais avançado. Na verdade, todos os estados brasileiros avançaram nesses sete anos. A tartaruga do time brasileiro, amigos leitores, não é Piauí e nem sequer está no nordeste. Tinha 65.2 pontos em 2001 – juntinho com Minas Gerais – mas agora caiu para 60,4.

E isso apesar de uma representação poderosa no Parlamento. Tem proporcionalmente mais representantes do que São Paulo, Rio, Minas ou Goiás, e o time é capitaneado pelo próprio presidente do Senado, José Sarney, maranhense que emigrou lá para cima só com o título eleitoral. Os amapaenses certamente preferiram Sarney a qualquer outro nascido no estado, pensando que o ex-presidente e o político mais resiliente do país daria um jeito e tornaria o progresso mais rápido. Agora, o que pode fazer o pobre Amapá?

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