Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
MILTON COELHO DA GRAÇA
O dilema dos países mais desenvolvidos é esse: se adotarem uma forte política de estímulos – como querem Estados Unidos, Reino Unido e Japão – um dos riscos seria a volta da inflação e o outro seria a desvalorização do dólar e conseqüente perda de confiança dos investidores em aceitá-lo como moeda de referência internacional; se os estímulos forem homeopáticos e a ênfase recair em mais regulamentação do mercado financeiro em geral – como quer a União Européia - o risco seria a maior demora para o retorno do vigor anterior das linhas de financiamento. Os 13 participantes emergentes, com destaque para os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) dão apenas palpites nessa reunião do G-20, que termina hoje em Londres, não têm poder suficiente para impor um caminho.
Só a China, montada em cima de reservas superiores a 2 trilhões de dólares, soltou a idéia que poderá se tornar a jóia única da unidade neste encontro, convocado com a intenção de montar um programa completo de enfrentamento da crise - a substituição do dólar por uma nova moeda de referência internacional - assim mesmo se Barack Obama aceitar que o bom para o resto do mundo pode ser também para os Estados Unidos.
Neste debate sem fim sobre razões e saídas da crise, ninguém sequer menciona a teoria de Marx sobre valor, que, para ele, era “a quantidade de trabalho socialmente necessário para se produzir determinada mercadoria”.
Para os economistas liberais, valor e preço são a mesma coisa e determinados pelo mercado. Mas, quando se afirma que trilhões foram perdidos em ações, títulos, imóveis etc., é preciso lembrar que nenhuma fábrica, nenhum imóvel desapareceu. Os PREÇOS das ações, títulos, imóveis etc. é que caíram estrondosamente.
Deixemos o papo teórico de lado. O Japão, nos últimos dez anos, fez pelo menos cinco planos de estímulos fiscais e financeiros. E não conseguiu resolver o problema da estagnação econômica, aparentemente porque usou mal o dinheiro, beneficiando apenas grandes grupos amigos do poder. O presidente Lula precisa se lembrar disso quando o BNDES montar grandes esquemas de financiamento para as empresas globais brasileiras ou as globais estrangeiras aqui instaladas, como as montadoras. Temos de pensar primeiro em medidas favoráveis às pequenas e médias empresas – como o Banco Central já fez, com uma linha especial de crédito, embora ainda pequena, para esse fim.
Em outras páginas o leitor encontrará as decisões tomadas em Londres. Deveremos ter o consenso possível entre as posições de EUA e Europa, e a intenção de envolver os países emergentes no fortalecimento de instituições internacionais etc. Mas as questões centrais são ideológicas e Londres ainda não terá respostas para elas:
O capitalismo moderno, com uns 300 trilhões de dólares entesourados em papéis de variados tipos, e num mundo em que a comunicação tornou-se imediata, pode crescer ou até sobreviver sob um maior controle do Estado? Será possível ao dólar continuar confiável como moeda de referência, com os Estados Unidos mantendo déficits orçamentários e comerciais num mundo cada vez mais globalizado e interdependente? Qual é o nível “tolerável” de inflação no combate à crise? Para evitarmos a crise atual, será preciso necessariamente criar as bases da seguinte e provavelmente mais grave?
E adianta acharmos soluções econômicas e financeiras, se ao mesmo tempo não equacionarmos compromissos e soluções para evitar a auto-destruição por problemas de meio ambiente e desigualdade social?
(Saiba mais)
O dilema dos países mais desenvolvidos é esse: se adotarem uma forte política de estímulos – como querem Estados Unidos, Reino Unido e Japão – um dos riscos seria a volta da inflação e o outro seria a desvalorização do dólar e conseqüente perda de confiança dos investidores em aceitá-lo como moeda de referência internacional; se os estímulos forem homeopáticos e a ênfase recair em mais regulamentação do mercado financeiro em geral – como quer a União Européia - o risco seria a maior demora para o retorno do vigor anterior das linhas de financiamento. Os 13 participantes emergentes, com destaque para os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) dão apenas palpites nessa reunião do G-20, que termina hoje em Londres, não têm poder suficiente para impor um caminho.
Só a China, montada em cima de reservas superiores a 2 trilhões de dólares, soltou a idéia que poderá se tornar a jóia única da unidade neste encontro, convocado com a intenção de montar um programa completo de enfrentamento da crise - a substituição do dólar por uma nova moeda de referência internacional - assim mesmo se Barack Obama aceitar que o bom para o resto do mundo pode ser também para os Estados Unidos.
Neste debate sem fim sobre razões e saídas da crise, ninguém sequer menciona a teoria de Marx sobre valor, que, para ele, era “a quantidade de trabalho socialmente necessário para se produzir determinada mercadoria”.
Para os economistas liberais, valor e preço são a mesma coisa e determinados pelo mercado. Mas, quando se afirma que trilhões foram perdidos em ações, títulos, imóveis etc., é preciso lembrar que nenhuma fábrica, nenhum imóvel desapareceu. Os PREÇOS das ações, títulos, imóveis etc. é que caíram estrondosamente.
Deixemos o papo teórico de lado. O Japão, nos últimos dez anos, fez pelo menos cinco planos de estímulos fiscais e financeiros. E não conseguiu resolver o problema da estagnação econômica, aparentemente porque usou mal o dinheiro, beneficiando apenas grandes grupos amigos do poder. O presidente Lula precisa se lembrar disso quando o BNDES montar grandes esquemas de financiamento para as empresas globais brasileiras ou as globais estrangeiras aqui instaladas, como as montadoras. Temos de pensar primeiro em medidas favoráveis às pequenas e médias empresas – como o Banco Central já fez, com uma linha especial de crédito, embora ainda pequena, para esse fim.
Em outras páginas o leitor encontrará as decisões tomadas em Londres. Deveremos ter o consenso possível entre as posições de EUA e Europa, e a intenção de envolver os países emergentes no fortalecimento de instituições internacionais etc. Mas as questões centrais são ideológicas e Londres ainda não terá respostas para elas:
O capitalismo moderno, com uns 300 trilhões de dólares entesourados em papéis de variados tipos, e num mundo em que a comunicação tornou-se imediata, pode crescer ou até sobreviver sob um maior controle do Estado? Será possível ao dólar continuar confiável como moeda de referência, com os Estados Unidos mantendo déficits orçamentários e comerciais num mundo cada vez mais globalizado e interdependente? Qual é o nível “tolerável” de inflação no combate à crise? Para evitarmos a crise atual, será preciso necessariamente criar as bases da seguinte e provavelmente mais grave?
E adianta acharmos soluções econômicas e financeiras, se ao mesmo tempo não equacionarmos compromissos e soluções para evitar a auto-destruição por problemas de meio ambiente e desigualdade social?
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