4.1.10

Inês Etienne Romeu, cobaia da tortura

Em Dia Com a Cidadania, 04/01/2009:

INÊS ETIENNE ROMEU FICOU CEM DIAS COMO COBAIA DE TORTURA. DÁ PRA ACEITAR ISSO COMO CRIME POLÍTICO?

Por Marcia de Almeida

2009 terminou com uma crise política que pode tomar grandes proporções, com a reação dos 3 ministros das Forças Armadas e do intrépido Ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao novo Programa Nacional de Direitos Humanos, capitaneado pelo Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannucchi, e sancionado por Lula, semana passada.

Os quatro entregaram suas cartas de demissão ao presidente, dia 22, véspera de Natal, e Lula veio com a gracinha de dizer que assinou sem ler e que vai rever o artigo da discórdia, que cria a Comissão da Verdade, para investigar crimes de tortura cometidos durante a ditadura militar.

Os militares querem que estendam a investigação aos que participaram da luta armada. Ocorre, e até agora isso não veio sequer à baila, que a esquerda, pró-luta armada ou não, pagou o preço torpe imposto pela repressão: a tortura, o estupro, os desaparecimentos, esquartejamentos, aniquilamento psicológico, exílio, longos anos na prisão, suicídios.

A tortura é crime lesa-humanidade, crime hediondo, não pode ser considerada excesso, simplesmente.

Criar a Comissão da Verdade é a favor das Forças Armadas, que são formadas por oficiais militares das três armas, pessoas dedicadas à pátria, ao serviço público, com sacrifíos pessoais e das suas famílias. Não podem ser misturados com meia dúia, uma dúzia, duas dúias de pessoas que prendiam opositoras políticas, despiam-nas e praticavam torturas sexuais, que ocultavam cadáveres, tenho certeza de que o Ministro Jobim sabe disso. (Ministro Vannucchi, O Globo, 2 de janeiro de 2010, página 4)

Claro que sabe.

Como anistiar, por exemplo, os militares e civis que durante 100 dias torturaram e fizeram experiências de tortura com a brasileira Inês Etienne Romeu, homenageada em Brasília, antes do Natal (cerimônia que fez Dilma Durona chorar) na famosa Casa da Morte, em Petrópolis (casa clandestina mantida pelo Exército, da qual Inês foi a única sobrevivente, onde presos eram dizimados sistematicamente)? Inês saiu de lá para ser morta, pesando 32 quilos. Depois de um campanha internacional de denúncia da sua prisão clandestina, foi solta na casa de uma irmã, em Belo Horizonte, instada a se apresentar em um local público dali a dois dias, para ser morta como tendo reagido. Foi salva pela ousadia de uma irmã, que conseguiu oficializar sua prisão, onde cumpriu mais de oito anos de cadeia, saindo com a anistia.

Foi ela quem denunciou/confirmou que Cabo Anselmo era mesmo agente da repressão.

Me contou, em uma entrevista que fizemos para o Pasquim (Lilian Newlands, Elias Fajardo, Lucia Romeu, sua irmã, e eu), no presídio de Bangu, que um dos torturadores conversava com ela deitada numa cama, escalando o umbral da porta, o tempo todo.

E, incrível, todos saíam daquele laboratório de horrores e iam para suas casas, jantar com suas mulheres e seus filhos, como se viessem de um trabalho comum, em um escritório.

Dá pra considerar isso “crime político”?

(Saiba mais)

***

Leia também, e assine o manifesto:

Contra anistia a torturadores

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