2.5.11

O preço da exclusão

O Globo, Opinião, 28/04/2011:

O preço da exclusão

LAIS MENDES PIMENTEL e PATRICIA ALMEIDA

O debate sobre inclusão escolar avançou nas últimas semanas a partir de dois fatos: o anúncio do “possível fechamento” do Instituto Nacional de Educação de Surdos e do Instituto Benjamin Constant, para alunos cegos; e, o massacre de 12 jovens numa escola municipal de Realengo por um ex-aluno da instituição.

Não, o INES e o IBC nunca estiveram a ponto de ser fechados. O que não significa que devam ficar imunes a mudanças previstas pelo movimento mundial da inclusão, que prevê a gradual extinção das escolas especiais e incorporação dos alunos com deficiência nas escolas regulares perto de suas casas, direito inegociável inscrito em nossa Constituição.

Há 17 anos o Brasil assinou a Declaração de Salamanca, assumindo um compromisso internacional de promover a inclusão de alunos com necessidades educacionais específicas na rede regular de ensino, o que foi ratificado na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2008.

A Educação Básica é, então, direito de todos indiscriminadamente. A segunda situação chocou o Brasil.

Wellington Menezes, ex-aluno da Tasso da Silveira, volta à escola e dispara 60 tiros, matando 12 crianças. Primeira reação: o assassino era um maluco! Logo, parentes e ex-alunos da Tasso da Silveira revelaram que o rapaz tinha sabidos problemas psicológicos e fora vítima de Bullying. O que Wellington Menezes fez foi um acerto de contas. De vítima, ele passou a algoz.

Vem do Canadá o relatório que mostra como escolas realmente inclusivas são mais seguras.

“As raízes desse comportamento agressivo dos estudantes encontram-se em seus sentimentos de alienação, no fato de não acharem que pertencem ao ambiente escolar. Este problema é agravado pelo fracasso das escolas em atender às necessidades educacionais e emocionais desses alunos que se sentem excluídos. É este tipo de situação, em sua forma extrema, que propicia tragédias como as que ocorreram na Columbine High School e no Virginia Technological Institute.”

No Brasil, salas de recurso foram criadas para atender alunos com necessidades especiais. O que deve incluir também jovens sem diagnóstico de deficiência, mas que precisam de uma atenção extra ministrada por uma equipe multidisciplinar. São alunos que sofrem abusos em casa ou mesmo que têm problemas psicológicos, como era o caso do Wellington Menezes.

Mas há quem seja contra a inclusão escolar. São os que ignoram o quanto a Educação inclusiva estimula não só o “especial” como também educa a sensibilidade do aluno “não especial”. Fora os que preferem manter a alocação de vultosas verbas federais e o prestígio político das antigas instituições.

Quem defende a segregação com o argumento de que a Educação já é ruim sem inclusão está cometendo um perigoso erro de lógica, uma inversão rudimentar da relação causa-efeito.

O preço da Educação ”exclusiva” é o Bullying. E ninguém está livre de ser uma vítima dele.

LAIS MENDES PIMENTEL e PATRICIA ALMEIDA são jornalistas e mães de crianças com síndrome de Down.

***
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2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Tenho um irmão com paralisia cerebral severa, hoje, com 40 anos.
Trabalho há 10 anos em uma Instituiçao de atendimento às pessoas com deficiência na área de Comunicação. O grande problema na minha opinião em relação a inclusão, consiste no fato da falta de conhecimento dos educadores em relação as inúmeras deficiêcias existentes.
Recebo em média por ano, cerca de 700 estudantes do ensino médio e superior que visitam à Instituição para realizarem trabalhos acadêmicos relacionados às pessoas com deficiência. Pasmem!!! Para cada dez estudantes, oito querem saber sobre a síndrome de down. Então eu pergunto? Por que ninguém fala dos altistas, das síndromes diversas, dos paralisados cerebrais, que são em número muito maior que a síndrome de down. Será por que muitos não tem caracteristicas físicas que os indentifiquem? Será que é porque de um modo geral as crianças com síndrome de down são mais carinhosas?
Isso sim é exclusão!
É excluir dentro da própria questão da deficiência!
Temos que considerar que até 70% dos paralisados tem a inteligência preservada e poderiam alçançar uma formação superior se houvesse estrura nas escolas para se trabalhar a comunicação alternativa. Não temos nada nas escolas!
No entanto, a criança com síndrome de down que tem a capacidade acadêmica limitada, estão sendo incluídas TEMPORARIAMENTE, tendo em vista que muitos quando chegam à adolescência, estão voltando para instituições especializadas, pois poucos conseguem concluir o ensino fundamental. As escolas capacitam para op mercado de trabalho?Não!!As escolas possuem atendimentos na área de saúde? Não!
Uma coisa é ser deficiente em uma família rica, a outra numa família pobre, como é o caso da grande maioria.
Achei a propaganda da menina com síndrome de down fantástica,é tudo que almejamos, porém, aqui na minha cidade, um grupo de mães de crianças com síndrome de down, foram para porta da empresa de ônibus protestar porque a empresa implaqntou o sistema de bilhetagem eletrônica e essas crianças que antes entravam pela porta da frente apresentando o passe, agora estão tendo que entrar pela porta de trás. Então eu pergunto? Se a criança com síndrome de down anda como as outras,por que nessas horas as mães não querem que sejam tratados com igualdade?
Por que o cidadão surdo que já trabaçha e ganha o salário como qualquer outro cidadão tem que ter passe livre? Que inclusão é essa?
Um dia desses, a mães de uma criança com síndrome de down estava reclamando justamente do fato acima citado e gritando dizia: É DIREITO e eu vou ao ministério público reclamar, o governo não faz nada pra gente!!!
Então eu comecei a fazer as contas com ela sobre o que o governa dava á ela pelo fato de ter uma filha down.
O estado paga a Instituição R$ 230,00 para o atendimento emperíodo integral na Instituição através de convênio.Ela recebe R$ 500, 00 do governo federal através do BPC para cuidar da sua filha única, Remédio ela pega na farmácia comunitária, transporte é gratuíto, ganha uma cesta básica da igreja que frequenta, recebe R$ 60,00 de bolsa família e ainda trabalha como diarista sem o GOVERNO saber \( se não perde o beneficio). Ou seja, mais R$ 400, 00,por mês.
Agora, o pai de família que tem quatro filhos para cuidar, ele não tem nenhum beneficio, a não ser o bolsa familia, e tem trabalçhar o dia inteiro pra ganhar, muitas vezes, um salário mínimo.
Que inclusão é essa?
Ressalto que tenho muitos amigos com síndrome de down, muitos trabalhando, e vou continuar minha luta em defesa dos direitos das pessoas com deficiência, no entanto, também vou continuar luatando pelo que é JUSTO PARA TODOS.

Flavio Mello

7:24 AM  
Anonymous Emiliano Aquino disse...

Sou pai de um menino surdo, de quatro anos; e solidarizo-me completamente com Laís Pimentel e Patrícia Almeida. Mas é preciso dizer uma coisa que não está sendo dita pelos defensores da inclusão total: é que não existe esse genérico universal chamado “deficiência”. Se aos portadores de síndrome de down as pesquisas demonstram ser melhor a convivência com outros meninos, em toda sua diversidade, isso é assim porque o compartilhamento das experiências, com base numa língua comum, é bom para todos: é na língua que se dá o conflito, as relações, as modificações de significantes, as superações… mas, pergunto, quando não se tem uma língua comum? Quando crianças de 0 a 11 anos ou mais) precisam ainda conviver com outros iguais a elas para aprenderem e exercitarem sua língua, que não é falada em casa, nem no parquinho do prédio, nem na praça pública, nem na televisão, sendo a escola, portanto, um lugar privileigiado (e quase único) para a aquisição da língua (logo, da linguagem), sob pena justamente de não adquirirem aquele desenvolvimento que as crianças que têm síndrome de down também precisam adquirir na partilha mais ampla de sua língua com outras crianças que também a falam? Sim, queremos que nossos flhos sejam incluídos no sistema educacional e na sociedade. Mas, para isso, precisam ter acesso a escolas em que aprendam e vivienciem sua língua. Sim, escolas bilíngues, não escolas especiais. Somos a favor da inclusão escolar, mas essa inclusão não necessariamente ocorre nas escolas monolíngues (de língua oral), mas, COMO O DIZ A PRÓPRIA DECLARAÇÃO DE SALMANCA, pode ser que precise ocorrer em salas e escolas específicas; a essas escolas específicas, o Decreto 5.626/2005 chamou de classes e escolas bilíngues, que têm a língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa, em sua modalidade escrita, como segunda língua.
Laís e Patrícia, nossos objetivos são os mesmos: que nossos filhos se incluem e permaneçam no sistema educacional; que eles sejam retirados das “escolas especiais”; que eles tenham o mesmo direito à escolarização.
Mas no caso de meu filho, que é surdo, que não fala a mesma língua que seus filhos, a melhor maneira de acontecer isso é a escola bilíngue libras / português. Seria terrível para seus filhos não poderem aprender e exercitar uma língua: essa alienação linguística retiraria deles todo desenvolvimento psíquico e cognitivo. É disso que meu filho está ameaçado. Sou solidário à sua luta; peço que sejam à minha.

2:41 PM  

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