Suíte 105
ANDREI BASTOS
A natureza humana é, de fato, surpreendente e, cada vez mais, nos apresenta aspectos da vida que desconhecíamos ou estavam encobertos pela névoa do preconceito e da discriminação.
O sexo, por exemplo, sempre sofreu, sofre, e ainda sofrerá por tempo inimaginável, com o travamento imposto por ideários equivocados, canhestros ou assumidamente discriminatórios, a exemplo da homofobia e da segregação racial.
Além disso, a plena realização desse instinto tão essencial, que no cotidiano perde a solenidade de estar a serviço da preservação da espécie e vira festa, depende determinantemente da autoestima dos protagonistas, sem falar de outros aspectos psicológicos.
Deixando de lado o que parece estar “chovendo no molhado”, embora as manchetes dos jornais nos informem que o tema está na ordem do dia, em NY ou Paris, o que interessa aqui é a prática sexual das pessoas com deficiência.
Quase todo mundo acha que deficiente não faz sexo, o que denuncia o quanto o preconceito é arraigado ou, no mínimo, um grande desconhecimento que as pessoas têm de si mesmas.
Mas o que está dito acima também ajuda a situar melhor as pessoas com deficiência em relação ao sexo, pois além das questões comuns a todos, elas precisam superar as barreiras próprias da sua condição.
Por outro lado, o instinto sexual é tão básico que se apresenta como forte motor da superação e da elevação da autoestima, não permitindo que essas pessoas se anulem nesse e em outros aspectos.
Curiosa, e tristemente, a real dimensão do preconceito em relação às pessoas com deficiência pode ser demonstrada, talvez mais do que tudo, pelo fato de uma cidade como a do Rio de Janeiro, conhecida mundialmente por seu forte apelo erótico, ter apenas dois motéis que se apresentam como “adaptados”.
Na verdade, esta é uma face cruel da discriminação, que chega ao absurdo de negar às pessoas com deficiência o direito à sexualidade. Se tais pessoas já são invisíveis nas ruas, escolas e escritórios, ainda mais invisíveis serão nas camas redondas e espelhos de teto das suítes dos motéis.
Como nem só de pão vive o homem, deficiente ou não, tanto quanto acessibilidade nos transportes e inclusão no mercado de trabalho, as pessoas com deficiência precisam de lugares apropriados para encontros amorosos, ou seja, de boates e motéis acessíveis.
Por que os donos desses estabelecimentos cariocas não seguem o exemplo de outros lugares do mundo e providenciam a acessibilidade? Afinal, um segmento que, segundo a Febraban – Federação Brasileira de Bancos, movimenta no país quase R$ 100 bilhões por ano, certamente pagará por períodos ou pernoites, com ou sem consumo no frigobar.
No mais, sem contar com os deficientes locais, o Rio, que já recebe grandes quantidades de turistas e, por causa dos importantes eventos internacionais que sediará em 2014 e 2016, receberá ainda mais, não pode deixar seu atendimento aos turistas com deficiência que queiram realizar encontros amorosos ficar praticamente restrito à suíte 105 de um conhecido motel da cidade.
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A natureza humana é, de fato, surpreendente e, cada vez mais, nos apresenta aspectos da vida que desconhecíamos ou estavam encobertos pela névoa do preconceito e da discriminação.
O sexo, por exemplo, sempre sofreu, sofre, e ainda sofrerá por tempo inimaginável, com o travamento imposto por ideários equivocados, canhestros ou assumidamente discriminatórios, a exemplo da homofobia e da segregação racial.
Além disso, a plena realização desse instinto tão essencial, que no cotidiano perde a solenidade de estar a serviço da preservação da espécie e vira festa, depende determinantemente da autoestima dos protagonistas, sem falar de outros aspectos psicológicos.
Deixando de lado o que parece estar “chovendo no molhado”, embora as manchetes dos jornais nos informem que o tema está na ordem do dia, em NY ou Paris, o que interessa aqui é a prática sexual das pessoas com deficiência.
Quase todo mundo acha que deficiente não faz sexo, o que denuncia o quanto o preconceito é arraigado ou, no mínimo, um grande desconhecimento que as pessoas têm de si mesmas.
Mas o que está dito acima também ajuda a situar melhor as pessoas com deficiência em relação ao sexo, pois além das questões comuns a todos, elas precisam superar as barreiras próprias da sua condição.
Por outro lado, o instinto sexual é tão básico que se apresenta como forte motor da superação e da elevação da autoestima, não permitindo que essas pessoas se anulem nesse e em outros aspectos.
Curiosa, e tristemente, a real dimensão do preconceito em relação às pessoas com deficiência pode ser demonstrada, talvez mais do que tudo, pelo fato de uma cidade como a do Rio de Janeiro, conhecida mundialmente por seu forte apelo erótico, ter apenas dois motéis que se apresentam como “adaptados”.
Na verdade, esta é uma face cruel da discriminação, que chega ao absurdo de negar às pessoas com deficiência o direito à sexualidade. Se tais pessoas já são invisíveis nas ruas, escolas e escritórios, ainda mais invisíveis serão nas camas redondas e espelhos de teto das suítes dos motéis.
Como nem só de pão vive o homem, deficiente ou não, tanto quanto acessibilidade nos transportes e inclusão no mercado de trabalho, as pessoas com deficiência precisam de lugares apropriados para encontros amorosos, ou seja, de boates e motéis acessíveis.
Por que os donos desses estabelecimentos cariocas não seguem o exemplo de outros lugares do mundo e providenciam a acessibilidade? Afinal, um segmento que, segundo a Febraban – Federação Brasileira de Bancos, movimenta no país quase R$ 100 bilhões por ano, certamente pagará por períodos ou pernoites, com ou sem consumo no frigobar.
No mais, sem contar com os deficientes locais, o Rio, que já recebe grandes quantidades de turistas e, por causa dos importantes eventos internacionais que sediará em 2014 e 2016, receberá ainda mais, não pode deixar seu atendimento aos turistas com deficiência que queiram realizar encontros amorosos ficar praticamente restrito à suíte 105 de um conhecido motel da cidade.
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