Você decide: o Brasil é injusto com José Sarney?
MILTON COELHO DA GRAÇA
Eleito, aos 28 anos de idade por dois mandatos (1958-65) como deputado federal, apresentou-se ao eleitorado como participante do grupo progressista da UDN. Fazia discursos pela reforma agrária, mas acompanhava o partido, principal adversário do presidente Juscelino Kubitschek. Eleito deputado federal em 1958, apoiou o presidente Jânio Quadros, mas foi omisso no episódio da renúncia e na resistência democrática encabeçada por Brizola pela posse do vice-presidente João Goulart. Em 1964, manifestou-se contra o golpe que depôs o presidente João Goulart. Mas já no ano seguinte estava plenamente entrosado com o novo regime e, ao ser instituído o bipartidarismo, aderiu sem vacilação ao partido criado para apoiar o governo militar – a Aliança Renovadora Nacional (Arena).
Inteiramente submisso à ditadura, tornou-se governador do Maranhão em 1966, e, a seguir (1971), senador por dois mandatos. Durante todo esse tempo, nenhum gesto de protesto contra o golpe dentro do golpe que ocorreu em 1968 para impedir a posse do vice-presidente Pedro Aleixo nem contra o “pacote de abril” de 1976 contra o projeto de eleições diretas, mas votou com entusiasmo contra o projeto de eleições diretas em 1984.
Em 1979, com o fim do bipartidarismo, já havia participado da criação do Partido Democrático Social (PDS), apenas um sucessor da Arena, porque seus próprios participantes sentiam-se envergonhados desse nome. O líder da oposição, Tancredo Neves, candidato a presidente na eleição indireta (com participação apenas de senadores e deputados), após a decisão do Partido dos Trabalhadores (PT), sabia que não teria chance de vitória, a menos que conseguisse tomar alguns votos do PDS, que havia se dividido entre dois candidatos: Mário Andreazza e Paulo Maluf. Com a sabedoria de seus muitos anos de política (ele já fora ministro da Justiça do presidente Getulio Vargas, ministro de Juscelino e primeiro-ministro no regime parlamentarista), decidiu que José Sarney, entre os derrotados por Maluf no PDS, era o nome mais sensível à sedução de ser seu parceiro de chapa.
O destino foi cruel com o Brasil. Tancredo morreu no dia da posse e Sarney foi nosso presidente. Ainda arranjou mais um ano de mandato depois de tentar sem êxito a reeleição. Mas, embora terminando seu período sob vaias e uma inflação anual de 2.000% (isso mesmo, dois mil por cento), tem a seu crédito o pleno respeito às normas democráticas e a tranquila transmissão do cargo ao sucessor Fernando Collor – primeiro presidente da República eleito por voto universal e secreto desde 1960.
De um ano depois de sua saída do Planalto (1991) até hoje, José Sarney vem se elegendo senador pelo Amapá (onde tem domicílio exclusivamente eleitoral). Durante todos esses quase 19 anos, ele se elegeu três vezes presidente do Senado – em 1995, 2003 e 2009.
Um dado indispensável
Para uma avaliação de quase cinco décadas de atuação política ininterrupta como presidente da República, governador, senador e deputado, o Maranhão e o Amapá não conseguiram deixar os últimos lugares no Índice de Desenvolvimento Humano entre todos os Estados brasileiros.
Diante da acusação de participar – por ação direta ou omissão – de muitas violações da ética exigida à Presidência do Senado Federal, como também ilegalidades e até evidentes patifarias, Sarney discursou nesta quarta-feira (18/6) a todos os brasileiros:
“É injustiça do País julgar um homem com tantos anos de vida pública.”
Você, que nasceu antes ou depois disso, decida: José Sarney tem ou não razão ao dizer isso em sua defesa? Com essa biografia, o País está sendo injusto e não tem o direito de julgar um homem público?
Eleito, aos 28 anos de idade por dois mandatos (1958-65) como deputado federal, apresentou-se ao eleitorado como participante do grupo progressista da UDN. Fazia discursos pela reforma agrária, mas acompanhava o partido, principal adversário do presidente Juscelino Kubitschek. Eleito deputado federal em 1958, apoiou o presidente Jânio Quadros, mas foi omisso no episódio da renúncia e na resistência democrática encabeçada por Brizola pela posse do vice-presidente João Goulart. Em 1964, manifestou-se contra o golpe que depôs o presidente João Goulart. Mas já no ano seguinte estava plenamente entrosado com o novo regime e, ao ser instituído o bipartidarismo, aderiu sem vacilação ao partido criado para apoiar o governo militar – a Aliança Renovadora Nacional (Arena).
Inteiramente submisso à ditadura, tornou-se governador do Maranhão em 1966, e, a seguir (1971), senador por dois mandatos. Durante todo esse tempo, nenhum gesto de protesto contra o golpe dentro do golpe que ocorreu em 1968 para impedir a posse do vice-presidente Pedro Aleixo nem contra o “pacote de abril” de 1976 contra o projeto de eleições diretas, mas votou com entusiasmo contra o projeto de eleições diretas em 1984.
Em 1979, com o fim do bipartidarismo, já havia participado da criação do Partido Democrático Social (PDS), apenas um sucessor da Arena, porque seus próprios participantes sentiam-se envergonhados desse nome. O líder da oposição, Tancredo Neves, candidato a presidente na eleição indireta (com participação apenas de senadores e deputados), após a decisão do Partido dos Trabalhadores (PT), sabia que não teria chance de vitória, a menos que conseguisse tomar alguns votos do PDS, que havia se dividido entre dois candidatos: Mário Andreazza e Paulo Maluf. Com a sabedoria de seus muitos anos de política (ele já fora ministro da Justiça do presidente Getulio Vargas, ministro de Juscelino e primeiro-ministro no regime parlamentarista), decidiu que José Sarney, entre os derrotados por Maluf no PDS, era o nome mais sensível à sedução de ser seu parceiro de chapa.
O destino foi cruel com o Brasil. Tancredo morreu no dia da posse e Sarney foi nosso presidente. Ainda arranjou mais um ano de mandato depois de tentar sem êxito a reeleição. Mas, embora terminando seu período sob vaias e uma inflação anual de 2.000% (isso mesmo, dois mil por cento), tem a seu crédito o pleno respeito às normas democráticas e a tranquila transmissão do cargo ao sucessor Fernando Collor – primeiro presidente da República eleito por voto universal e secreto desde 1960.
De um ano depois de sua saída do Planalto (1991) até hoje, José Sarney vem se elegendo senador pelo Amapá (onde tem domicílio exclusivamente eleitoral). Durante todos esses quase 19 anos, ele se elegeu três vezes presidente do Senado – em 1995, 2003 e 2009.
Um dado indispensável
Para uma avaliação de quase cinco décadas de atuação política ininterrupta como presidente da República, governador, senador e deputado, o Maranhão e o Amapá não conseguiram deixar os últimos lugares no Índice de Desenvolvimento Humano entre todos os Estados brasileiros.
Diante da acusação de participar – por ação direta ou omissão – de muitas violações da ética exigida à Presidência do Senado Federal, como também ilegalidades e até evidentes patifarias, Sarney discursou nesta quarta-feira (18/6) a todos os brasileiros:
“É injustiça do País julgar um homem com tantos anos de vida pública.”
Você, que nasceu antes ou depois disso, decida: José Sarney tem ou não razão ao dizer isso em sua defesa? Com essa biografia, o País está sendo injusto e não tem o direito de julgar um homem público?
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