29.9.09

Coluna do Milton

PMDB E IBOPE LEMBRAM CLARAS E INDIGESTAS VERDADES AO PT

Milton Coelho da Graça

Carlos Augusto Montenegro já tinha dito que Dilma Roussef tem muito pequena chance de vencer a eleição presidencial de 2010, tendo em vista seu alto Índice de rejeição. Agora, tendo nas mãos os números da mais recente pesquisa de seu instituto, o Ibope, explica cruamente por que o lulismo é forte, mas essa força não se estende ao partido que o elegeu: “Há muito tempo não entra uma pessoa importante no PT.” Ou seja, Ricardo Berzoini comanda uma daquelas folias em que “quem está de fora não entra” mas vem deixando sair muita gente que estava dentro”.

Outras verdades, tão indigestas como essa, vieram de Michel Temer e Orestes Quércia, durante reunião em que os dois discutiram (ou acertaram?) suas divergências sobre o rumo eleitoral do PMDB. Temer explicou por que seria bom definir já sua candidatura à vice na chapa de d. Dilma (e, naturalmente, manter os dentes do partido bem apertados nas tetas do governo até o fim do segundo mandato do presidente Lula). Quércia argumentou que isso seria uma “fria”, mostrou os números do Ibope e que seria melhor ouvir as decisões de todas as convenções do partido – e suas múltiplas almas e interesses - daqui a mais alguns meses.

Curiosamente, Quércia estava de fato também refletindo o interesse do PT, assustadíssimo pelo temor de que a consolidação de um imediato acordo eleitoral PT-PMDB arruíne relações com os outros partidos de esquerda e também reduza suas possibilidades de eleger deputados e senadores.

E, em algum momento desse papo sem chance de chegar a qualquer conclusão, Michel Temer teria dito a segunda frase difícil de engulir para o PT: “Ô Quércia, não esqueça nosso acordo, você manda no partido em São Paulo, mas eu cuido dele nacionalmente.”

Ou seja, já é claramente admitida pelo PMDB uma separação amigável na eleição de 2010, mais ou menos assim: São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pernambuco certamente não ficarão com a candidatura petista, seja ela Dilma Roussef ou qualquer outra. E pelo menos umas três ou quatro outras novas direções estaduais devem preferir outra (s) candidatura (s).

Se você, leitor, fosse presidente do PT, o que estaria pensando?

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“Já existem razões para se temer que a Revolução possa, como Saturno, devorar cada um de seus filhos, um por um.”

Pierre Vergniaud (1753-1793), revolucionário francês, durante o julgamento que o condenou à guilhotina. Escreveu na parede da prisão: “Antes a morte do que a desonra”.

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SABER COMO E QUERER: RECEITA ANTICORRUPÇÃO

Nove governos estaduais seguem o programa Modernizando a Gestão Pública, financiado por empresas privadas, que busca introduzir na administração pública o uso de métodos de controle que favoreçam o melhor aproveitamento possível dos recursos públicos.

Mas três deles (dois do PT – Marcelo Deda, de Sergipe, e Jacques Warner, da Bahia, e um do PMDB – Paulo Hartung, do Espírito Santo) se destacam pelo empenho nesse esforço por maior produtividade e maior cuidado com o dinheiro dos contribuintes: fecharam também parcerias com a Fundação Getúlio Vargas para a criação de um “banco de preços”, capaz de permitir maior rapidez e garantia de custos menores em todas as licitações.

Em alguns casos, a redução de preços chega até 30% e facilita muito o processo de compras – especialmente nas áreas de limpeza, alimentação etc. em escolas, hospitais e presídios.

São Paulo também foi um dos pioneiros nessa área, criando na atual administração um pregão eletrônico, em convênio com a Fundação Instituto de Administração – todas as compras somente são feitas pelos preços indicados nesse pregão ou abaixo deles.

Não é difícil governar sem roubar nem deixar roubar. É só saber como e querer.

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UM SONHO PARECIDO COM O DE MUSSOLINI

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pode ter belas intenções nacionalistas quando insiste em defender um projeto de desenvolvimento apoiado na criação de grandes empresas industriais nacionais, capazes de enfrentar com sucesso a competição internacional. Isso nada tem de novo, já foi pensado por Getúlio Vargas no Estado Novo mas também serviu de base, na década de 30, para a ascensão e queda de Hitler e Mussolini na Alemanha e na Itália.

Nesta versão para o século XXI, Coutinho dá atenção mínma às pequenas e médias empresas reservando seu maior entusiasmo para fusões e aquisições nas areas de produção de alimentos, celulose, minérios e outras. Agora vem tentando forjar a chamada “usina global” consolidando a indústria siderúrgica – CSN, Gerdau, Usiminas, Arcelor.

Um expert na área, Marco Pólo Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, apontou a fragilidade básica do projeto do presidente BNDES em reportagem da repórter Vera Saavedra Durão (jornal VALOR): “Não é só uma questão de vontade. Não faz sentido produzir e consolidar sem ter mercado interno”. E arrematou citando o dono da maior siderúrgica do mundo, Lakshimi Mittal: “Só produzo o que posso vender”.

Nossas empresas industriais cresceram – praticamente todas – à sombra da proteção do Estado. E uma significaiva proporção dos empresários investiu uma porção razoável dos lucros em paraísos fiscais – não em máquinas e equipamentos – mas em fundos e bancos, alguns severamente atingidos pelas perdas na especulação com derivativos. Uma razoável amostra dessa tendência foi mostrada pelos prejuízos de usineiros, Sadia, Aracruz, Votorantim e outros.

Antropólogos, historiadores, psicólogos talvez possam nos dizer se essa busca telúrica de segurança e/ou inserção nas elites internacionais já está inserida na própria psiquê. Roberto Marinho certa vez disse que era o único dono de jornal que não acertava com fornecedores de papel uma comissãozinha de 2 a 4% depositada lá fora.

Caro presidente do BNDES: pare de ter sonhos globais, não iguais, mas sob inspiração de Hitler e Mussolini. Pense primeiro em estimular o pleno atendimento do mercado industrial interno – receita bem sucedida de Israel, China, Suécia e outros países. Antes que o dinheiro do BNDES escorra ainda mais para a Suíça e outros paraísos.

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“Ensino a vocês o Superhomem. O Homem é algo a ser superado.”

Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, Prólogo ao Cap. 3 de “Assim falou Zaratustra”.

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