5.12.09

Coluna do Milton

ALÔ ALÔ, BOLHAS. CRIADORES DA CRISE SOMOS NÓS MESMOS

Milton Coelho da Graça

Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, mais uma vez ganhando um dinheirinho no Brasil como palestrante no encerramento da ExpoManagement, disse anteontem em São Paulo que vai vender todos os seus investimentos (poucos, segundo ele próprio) no Brasil. Por que? Ele receia os riscos que o país correndo ao se tornar “o queridinho” dos investidores internacionais. E aconselha muita cautela para não repetir as crises do México (1994) e Argentina (2004), também precedidas por alegria geral do mercado.

O real está valorizado demais, alerta Krugman, “porque os mercados estão perdendo o contato com a realidade”, o fluxo exagerado de capitais estrangeiros cria “o risco de formação de bolhas domésticas.”.

Certo, Mr. Krugman. Economista que refuta princípios básicos do neoliberalismo, mas, até para continuar a receber convites para palestras, tem o cuidado de não bater com muita força em teclas dolorosas para a sensibilidade dos ouvintes. Por exemplo, Krugman em momento nenhum menciona o fato fundamental de que uma boa parte (provavelmente a maior) desse fluxo de investimentos é de origem brasileira: saiu daqui – sabe Deus como! – e volta para aproveitar a deliciosa atração que o Brasil oferece com uma das mais altas taxas reais de juros em todo o mundo.

Krugman há muito tempo deixou de acreditar no dogma da absoluta racionalidade no comportamento das forças de mercado. Mas tem o cuidado de usar a palavra “bolha” para definir como surpresa e/ou novidade algo que Karl Marx explicou há mais de um século: valor e preço são dois conceitos diferentes.

Marx definiu valor de uma mercadoria como a quantidade de trabalho socialmente necessário para a produção dessa mercadoria.

O preço de um Big Mac é diferente em cada país e até independe das cotações cambiais. Mas a revista-ícone do mundo capitalista – The Economist – a considera a melhor “moeda” para a comparação entre economias de diferentes países. Por que? Porque, seja onde for, o Big Mac resulta da mesma quantidade de trabalho socialmente necessário para produzi-lo. E o que é “trabalho socialmente necessário”: é trabalho qualificado pelo nível de conhecimento tecnológico que, pelo menos teoricamente, é adotado em todo o mundo pela rede McDonald.

Por razões facilmente compreensíveis, nem The Economist nem a rede Mcdonald explicam que essa idéia foi de Marx. Krugman também não vê motivo para falar sobre isso em suas palestras. Da mesma forma como os neoliberais – que com ele têm incansáveis embates e tertúlias acadêmicas – acham imprudente ir fundo na discussão das razões da crise. Crescente concentração da riqueza pela apropriação do avanço científico e tecnológico, desemprego e conseqüente queda no rendimento da maioria das famílias etc. – tudo fica reduzido a uma só palavra – “bolha” – síntese da surpreendente e inexplicável queda dos preços dos ativos, sejam eles máquinas, prédios, matérias primas ou dinheiro e outros papéis.

Sabemos todos o que significa “bolha”, em linguagem popular brasileira. Paul Krugman, no aviso de que pretende vender seus ativos em reais porque tem medo de “bolha”, na verdade também está se referindo a nós – os verdadeiros “bolhas” em toda essa história.

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“Um estadista é um político a serviço da nação. Um político é um estadista que coloca a nação a seu serviço.”

Georges Pompidou (1911-1974), Primeiro-ministro (1962-68) e Presidente da França (1969-74).

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MELHOR HOMENAGEM AO SACRIFÍCIO: A VERDADE

O presidente Lula, na visita à Ucrânia, afirmou que espera assistir, ainda em seu mandato, o lançamento do foguete Ciclone, da base de Alcântara.

Estamos todos torcendo junto com ele. Mas também continuamos torcendo para que a Aeronáutica esclareça as razões das mortes de 21 dos melhores cientistas e técnicos aeroespaciais brasileiros na explosão do foguete VLS em agosto de 2003. Todos temos direito de saber se houve ou não quebra das normas de segurança. Há uma versão de que estavam na plataforma muito mais pessoas do que o recomendável. Por causa da iminente partida de um avião para São José dos Campos, que levaria muitos desses cientistas e técnicos para o descanso semanal com suas famílias, teria havido relaxamento das normas e aumento do número de vítimas.

Seria ótimo que a Aeronáutica homenageasse a memória das vítimas daquele desastre com a divulgação de toda a verdade.

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