19.4.10

Novos caminhos

ANDREI BASTOS

Estamos vivendo um momento crítico, tanto na questão do meio ambiente como na questão sócio-econômica, no mundo e em nosso país. Não sabemos como será o futuro, diante da magnitude dos problemas e da natureza revolucionária das possíveis soluções para eles, e a característica principal do desafio que temos diante de nós é que estes dois aspectos, o ecológico e o social, não se apresentam mais em separado e constituem uma complexa equação que exige uma resposta única, na Europa do vulcão islandês ou no morro do Bumba, em Niterói.

Da mesma forma, quando abordamos especificamente as necessidades de inclusão social do imenso contingente de excluídos por preconceito ou discriminação, logo se impõe uma análise a partir da indivisibilidade de direitos, sem exclusivismos para tal ou qual segmento. Isto se deve, sobretudo, ao entendimento já consagrado de que, mesmo em sua diversidade, os seres humanos são iguais em direitos.

No Brasil, tal questão ganha contornos peculiares, que colocam outros desafios para quem trabalha a favor da inclusão. Em nosso país é preciso superar, em primeiro lugar, o descaminho promovido pela máquina assistencialista do Estado e, em segundo lugar, a cooptação de muitas organizações não governamentais por essa mesma máquina, que torna tais iniciativas dependentes de financiamentos oficiais.

Além disso, também é significativo o fato de muitas ONGs só conseguirem sobreviver à custa de contratos milionários com grandes empresas, estatais ou não, o que as leva a atuar como quaisquer outros negócios lucrativos, que precisam garantir rentabilidade, desvirtuando os papéis a que, ao menos supostamente, se propõem. É preciso experimentar novos caminhos.

Para que se viabilize um trabalho com independência e, ao mesmo tempo, se obtenha o maior alcance possível para as ações, talvez seja preciso se afastar das concepções convencionais de ONG ou empresa, lançar mão da atual convergência de mídias e buscar novos caminhos como, por exemplo, o da internet, onde é possível, no seu campo aberto, democrático e sem ranços coronelistas e autoritários, estabelecer pontos de partida para novas caminhadas, compromissadas com a ética, o bem comum e os direitos humanos.

Tendo como carta de princípios geral a Declaração Universal dos Direitos do Homem e acreditando na possibilidade de seus preceitos ganharem o pragmatismo e a urgência exigidos pela atualidade, tais “pontos de partida” de muito baixo custo têm grande chance de inverter o jogo no Terceiro Setor, colocando em primeiro plano quem é honesto na gestão e nos princípios e que, por isso mesmo, certamente será capaz de captar recursos junto ao grande público, diretamente.

Afinal, quando despendemos esforços para corresponder a perfis de financiadores ou a interesses alheios às causas pelas quais lutamos, deixamos de fazer o que tem real importância, que é encontrar soluções para os problemas e para o atendimento às necessidades dos excluídos.

O planeta certamente sobreviverá a catástrofes naturais ou sociais de qualquer magnitude. Nós é que precisamos encontrar nele nossos novos caminhos para viver, mais do que para apenas sobreviver.

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