26.7.10

Sou Flamengo, sou do bem

ANDREI BASTOS

Assassinos existem em todo lugar. De Doca Street e Michel Frank aos matadores de Dorothy Stang ou Celso Daniel, sem esquecer o jornalista Pimenta Neves, o noticiário sempre esteve coberto de sangue, em casos mais ou menos macabros. Claro que podemos estabelecer uma gradação no horror dos crimes, assim como podemos alcançar com entendimento muitas das circunstâncias e implicações deles.

É por isso que é uma bobagem dizer que o enriquecimento rápido de pessoas pobres e sem estudo, atletas ou ganhadores de loterias, as predispõem para o crime, por estarem despreparadas para a fortuna e para o poder que dela resulta. Se fosse assim, seriam incontáveis os “Jason” e “Hannibal Lecter” a nos aterrorizar.

Da mesma forma, também é descabido jogar a responsabilidade pela formação de atletas como cidadãos, com valores éticos elevados, para as agremiações esportivas. Seria o mesmo que obrigar a Caixa a acoplar cursos de ética e cidadania aos prêmios que distribui a ganhadores humildes dos seus jogos.

O problema é muito maior do que tentam mostrar as análises apressadas dos trágicos acontecimentos envolvendo o goleiro Bruno. Assassinatos à parte, o que se espera é que o Estado, antes de qualquer instituição que nele se abriga, proporcione à sociedade os valores e princípios para o exercício de uma cidadania plena, honrada e com respeito aos direitos humanos.

Se nossa sociedade faz vista grossa para tantos crimes, aceita que seus governantes justifiquem más condutas dizendo que sempre foi assim, mais do que quaisquer outros afirmando a idéia equivocada de que tudo podem, como podemos aceitar que só os despreparados pela pobreza pensam assim quando enriquecem?

Sem dúvida, é necessário que tais pessoas tenham orientação sobre como viver a vida de rico, antes de tudo para não jogarem dinheiro fora ou serem passadas para trás e rapidamente voltarem a ser pobres. Absurdo é dizer que a orientação será para afastá-las da prepotência e do crime.

Se existe espaço para assassinos realizarem seus intuitos, sentindo-se acima da lei, é porque existe uma percepção coletiva de impunidade. E esta percepção foi construída em toda uma história de desvios de dinheiro público sem punição, de subornos de guardas de trânsito, de carteiradas bem-sucedidas, de torturadores da ditadura impunes, de superfaturamento de obras públicas etc. etc. etc.

Assim como eu, que nem sou ligado em futebol e gosto do Flamengo pelo seu apelo popular, muitos flamenguistas ficaram constrangidos com os fatos que nos horrorizaram. Assim como eu, que tenho filhos e netos flamenguistas, para quem será difícil separar o joio do trigo, a nação rubro-negra precisa mostrar a cara e dizer que é do bem.

Tal postura não atende apenas à necessidade de defender a imagem do clube, que ficou arranhada. Ela serve, principalmente, para combater o preconceito e a discriminação contra os pobres, escondidas nas palavras bem escolhidas de alguns donos da verdade.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial