14.5.11

Carta para o Teatro dos Quatro

Site Em Dia Com A Cidadania, 09/05/2011:

CARTA DE UMA CADEIRANTE AO TEATRO DOS QUATRO, NO RIO

Excluída em peça sobre inclusão

Segue a carta enviada à administração do teatro dos Quatro, um dos mais importantes do Rio, pla arquiteta cadeirante, Regina Cohen.
No quesito acessibilidade, realmente, estamos no século XIX!

Prezada Denise,

Sou arquiteta com deficiência física, me locomovo em cadeira de rodas, sou consultora em acessibilidade para Pessoas com Deficiência (PcD) e coordeno o Núcleo Pró-Acesso da UFRJ. Só agora consegui lhe escrever esta longa mensagem que espero que leia até o fim.

No domingo passado levei meu sobrinho de 9 anos para assistir com as turmas de sua escola uma peça que falava de Inclusão: TRIANGULINHA. Há alguns anos não frequentava o seu Teatro dos Quatro, em um dos Shopings que considero mais charmosos na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. Estacionei em uma das vagas especiais do estacionamento, subi pelo elevador e fui entrando pela bilheteria sem que ninguem me alertasse o que encontraria pela frente. Qual não foi minha surpresa quando tive que ficar literalmente paralizada diante das escadas. Como você pode ver pelas fotos que fiz questão de tirar, as muitas barreias, um degrau à frente e uma rampa muito inclinada atrás de mim, me colocaram em situação de exclusão com relação ao resto da platéia, tendo que ficar distante do meu sobrinho quando imaginava que este espetáculo infantil que falava sobre a diversidade nos mostraria o valor de conviver com aquela fantástica gurizada com seus amigos e seus pais.

Tente fechar os olhos e imaginar por um momento como me senti distante daquela comunhão festiva e afetiva diante de uma bela estória inclusiva e durante o debate que aconteceu logo depois. Algumas lágrimas rolaram e eu as escondi de todos. Pedi a palavra, falei com o grupo que não tinha culpa e quando saí tentei falar contigo, mas me disseram que você estava muito ocupada em uma reunião e eu não consegui. Neste espaço mais deficiente do que eu, fiquei mesmo em desvantagem, fui excluida e me senti muito diferente de todos. Sou sim diferente e penso que não existem duas pessoas sequer semelhantes nas suas condições físicas, sensoriais ou intelectuais, mas sou igual em direitos. Um direito à cultura presente em nossa legislação brasileira, na Convenção da ONU sobre os direitos da PcD e que me foi negado naquele degrau, naquela escada e na grande barreira atitudinal de não possibilitar o diálogo. Depois deste discurso, volto ao meu trabalho e penso que nos encontramos muito próximos de mostrar ao mundo o quanto estamos na vanguarda dos acontecimentos com lugares plenamente acessíveis para pessoas que não enxergam, não ouvem, em cadeira de rodas, pessoas muito gordas, muito baixas, com alguma dificuldade cognitiva ou com alguma deficiência.

O Rio e o Brasil atualmente pertencem ao meu mais nobre ideal e sonho de inclusão. Não podemos perder este trem tão veloz quanto todos os que estão sendo planejados para mostrar nossa mobilidade, nossa acessibilidade e nossa sustentabilidade ao mundo.

Nossas cidades com todos os seus espaços culturais também fazem parte deste sonho. Retomo o debate e te convido ao diálogo para tornar o Teatro dos Quatro, sob a sua responsabilidade, acessível. Andamos bastante ocupadas e talvez não tenhamos tempo ou dinheiro suficiente para tantas obras, ações e tarefas desta nossa modernidade.

Se preferir te convido, juntamente com sua equipe, para o I Seminário Estadual de Acessibilidade a Museus e Instituições Culturais, nos dias 09 e 10 de junho. Pode ser uma boa oportunidade para o início de uma conversa que também pode acontecer antes.

Segue abaixo meu celular. Aguardo seu contato.

Até Breve,

Regina Cohen
Núcleo Pró-Acesso
PROARQ/FAU/UFRJ
http://www.proacesso.fau.ufrj.br/

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial