27.5.15

Sem compra, não há venda

Policial quebra um cofre encontrado num dos boxes do camelódromo da Uruguaiana: 150 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça, foram cumpridos – Márcia Foletto / Agência O Globo

O Globo, Em primeira pessoa, 27/05/2015:

Sem compra, não há venda

MAUSY SCHOMAKER e ANDREI BASTOS

É impossível “achar normal” comprar um telefone de R$ 3 mil por R$ 300. Uma bicicleta de R$ 2 mil por R$ 250. Quando as pessoas compram celulares e suas peças nos camelôs, sem nota fiscal, e acham que estão sendo espertas e economizando, na verdade, estão sendo coniventes. Agem como membros das quadrilhas que assaltam, esfaqueiam e matam para roubar um aparelho.

Todos que compram produtos roubados, como peças de carros, bicicletas etc, fazem parte do esquema de ladrões e assassinos no Rio de Janeiro. Tomara que essa operação seja a primeira de muitas. Que elas sirvam para sufocar o mercado fornecedor de produtos roubados. Sem comprador, não há fornecedor. Tomara que essa operação ajude a chegar aos assassinos do Alex. E aos que mataram outros.

Eu vi na Saara, pouco antes de o Alex morrer, uma banca de camelô cheia de celulares, muitos ainda sujos de terra, e uns dois com o vidro quebrado. E pessoas negociando o preço. Lembro-me disso, porque na hora pensei: será que a pessoa de quem roubaram ficou muito ferida? Não poderia imaginar que, no dia 8 de janeiro, nosso amado filho seria morto com sete tiros, por dois assaltantes de moto, por causa de seu celular. Que ele ganhou no Natal e foi comprado em dez vezes, por menos de R$ 1,5 mil. Ainda estamos pagando as parcelas que faltam.

Quem o recomprou? E por quanto? Gostaríamos muito de saber. O preço foi muito alto. Custou a vida do Alex e a nossa alegria de viver. Nós, pais do Alex, não acreditamos que ao comprar produtos numa banquinha o cidadão acredite que o vendedor conseguiu comprar aqueles produtos “tão mais baratos” numa ponta de estoque. No caso de peças de carros, não sei se as “robautos” ainda são muito populares. Mas não é à toa que foram denominadas assim. Quem compra numa robauto faz parte do roubo.

O ciclista e médico Jaime Gold só foi morto porque quem o assaltou e matou já tinha para quem vender a bicicleta. O receptador só comprou a bike porque já tinha a quem vendê-la. É uma lei da Economia. Se existe mercado comprador, haverá fornecedor. E as “fábricas” estão sempre contratando operários. A linha de produção não para.

*Pais do estudante Alex Schomaker, morto durante assalto em Botafogo

Fonte: O Globo Online

Saiba mais: Roubo de celular tem aumento de 63% nos quatro primeiros meses do ano na capital

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial