Teresa Amaral na TV Cultura
Entrevista de Teresa Costa d’Amaral a Heródoto Barbeiro, no programa Planeta Cidade de 16/01/2008.
Transcrição:
Teresa Costa d’Amaral é bacharel em História e mestre em Comunicação Social com a tese “Deficiência e Democracia”. Foi a criadora da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência do governo federal e responsável pelo reconhecimento do Brasil como possuidor de uma das regulamentações mais modernas do mundo acerca dos direitos do deficiente. Com vários prêmios no currículo, ela é a presidente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Heródoto Barbeiro: Teresa, muito obrigado pela participação aqui conosco, na TV Cultura.
Teresa d´Amaral: Eu que agradeço, é uma alegria estar aqui com vocês.
Heródoto: Teresa, como é que é correto dizer? Pessoa com deficiência, pessoa portadora de deficiência, pessoa com necessidades especiais? Qual é o termo correto?
Teresa: Hoje o politicamente correto é pessoa com deficiência. Pensando que a pessoa está inteira e ela porta uma deficiência. Então nós abandonamos aquele modo antigo de falar de deficiente. Mas eu acho que isso não tem a menor importância, o importante é a gente falar do assunto, divulgar o assunto e colocar o assunto na ordem do dia.
Heródoto: Agora, Teresa, como é que você foi se interessar por esse assunto?
Teresa: Eu tive uma irmã deficiente e tive um sobrinho deficiente. Então está no meu sangue, na minha vida, e também por uma obrigação. Assim, eu sempre achei que eu tinha uma obrigação de contribuir para o meu país. E é tão difícil a gente encontrar uma maneira própria de contribuir, e eu de repente descobri naquilo que estava perto de mim, que eram os meus parentes, meus familiares, o modo próprio, o modo meu de trabalhar por um Brasil melhor.
Heródoto: Desde que você trabalha nessa área, mudaram as coisas?
Teresa: Eu acho que mudou muito, mudou principalmente o olhar da sociedade.
Heródoto: Então você quer dizer que as pessoas estão entendendo a necessidade de integração dessas pessoas na sociedade, da convivência com essas pessoas?
Teresa: Exatamente, estão perdendo o medo, estão perdendo aquela distância em que colocavam o deficiente, eu costumo dizer que o deficiente ficava sempre no quarto dos fundos da casa. Então, as próprias famílias estão perdendo o medo de trazer o deficiente para a sala e as próprias comunidades estão entendendo que o espaço do deficiente é o espaço da comunidade. Agora falta o governo entender isso.
Heródoto: E as empresas privadas estão entendendo isso?
Teresa: Acho que sim, estão.
Heródoto: Temos mais pessoas com deficiência trabalhando hoje do que no passado?
Teresa: Sim, eu acho que, por exemplo, no Instituto que eu criei, né? No IBDD, que a gente tem o trabalho de colocação no mercado, a nossa relação com as empresas mudou do começo do nosso trabalho para hoje. Hoje nós temos uma média de 3 empresas por dia ligando para o IBDD e pedindo mão-de-obra, temos 15 empresas novas por mês se colocando à disposição do IBDD e pedindo o trabalho do IBDD.
Heródoto: Mas Teresa, isso é porque a lei obriga ou porque os gestores estão entendendo que é importante?
Teresa: As duas coisas (risos). Não dá para separar não.
Heródoto: Às vezes parece, né? Às vezes dá a impressão de que “Não, nós temos que cumprir as leis”.
Teresa: Não, eu sempre fui contra cota sabe, até o dia que eu percebi que ela mudou realmente, ela força uma atitude. E aí tem dois modos de cumprir as cotas, o modo de cumprir a cota fingindo que está cumprindo, e tem o modo de cumprir a cota com responsabilidade, com vontade, com alma, com garra. Muitas empresas estão fazendo isso e eu acho que essa é a grande vitória, né? Porque a gente conquistando a empresa, conquista a sociedade. E conquistando a sociedade, conquista a empresa.
Heródoto: E a movimentação desse pessoal na sociedade, também melhorou?
Teresa: Olha, eu acho que melhorou, principalmente em algumas cidades do Brasil. Curitiba iniciou esse processo. Eu fico morta de inveja quando eu venho em São Paulo e só vejo ônibus com símbolo de cadeira de rodas. Eu moro no Rio, né? No Rio não existe isso, né? Então, São Paulo está dando o exemplo agora de como é possível no meio do caminho fazer essa transformação. Então as cidades menores estão fazendo também essa transformação. Mas você tocou num assunto que eu costumo dizer que é o direito de ir e vir, porque todos nós brigamos pelo nosso direito de ir e vir, até durante a repressão nós vivemos aquela questão de habeas corpus, e de não ter o nosso direito, a nossa liberdade, né? E os deficientes estão presos nas suas cadeiras de rodas quando vivem em uma cidade onde não podem exercer esse direito básico de cidadania que é o direito de ir e vir.
Heródoto: Teresa, muito obrigado pela participação conosco.
Teresa: Eu que agradeço a vocês, é um prazer.
Transcrição:
Teresa Costa d’Amaral é bacharel em História e mestre em Comunicação Social com a tese “Deficiência e Democracia”. Foi a criadora da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência do governo federal e responsável pelo reconhecimento do Brasil como possuidor de uma das regulamentações mais modernas do mundo acerca dos direitos do deficiente. Com vários prêmios no currículo, ela é a presidente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Heródoto Barbeiro: Teresa, muito obrigado pela participação aqui conosco, na TV Cultura.
Teresa d´Amaral: Eu que agradeço, é uma alegria estar aqui com vocês.
Heródoto: Teresa, como é que é correto dizer? Pessoa com deficiência, pessoa portadora de deficiência, pessoa com necessidades especiais? Qual é o termo correto?
Teresa: Hoje o politicamente correto é pessoa com deficiência. Pensando que a pessoa está inteira e ela porta uma deficiência. Então nós abandonamos aquele modo antigo de falar de deficiente. Mas eu acho que isso não tem a menor importância, o importante é a gente falar do assunto, divulgar o assunto e colocar o assunto na ordem do dia.
Heródoto: Agora, Teresa, como é que você foi se interessar por esse assunto?
Teresa: Eu tive uma irmã deficiente e tive um sobrinho deficiente. Então está no meu sangue, na minha vida, e também por uma obrigação. Assim, eu sempre achei que eu tinha uma obrigação de contribuir para o meu país. E é tão difícil a gente encontrar uma maneira própria de contribuir, e eu de repente descobri naquilo que estava perto de mim, que eram os meus parentes, meus familiares, o modo próprio, o modo meu de trabalhar por um Brasil melhor.
Heródoto: Desde que você trabalha nessa área, mudaram as coisas?
Teresa: Eu acho que mudou muito, mudou principalmente o olhar da sociedade.
Heródoto: Então você quer dizer que as pessoas estão entendendo a necessidade de integração dessas pessoas na sociedade, da convivência com essas pessoas?
Teresa: Exatamente, estão perdendo o medo, estão perdendo aquela distância em que colocavam o deficiente, eu costumo dizer que o deficiente ficava sempre no quarto dos fundos da casa. Então, as próprias famílias estão perdendo o medo de trazer o deficiente para a sala e as próprias comunidades estão entendendo que o espaço do deficiente é o espaço da comunidade. Agora falta o governo entender isso.
Heródoto: E as empresas privadas estão entendendo isso?
Teresa: Acho que sim, estão.
Heródoto: Temos mais pessoas com deficiência trabalhando hoje do que no passado?
Teresa: Sim, eu acho que, por exemplo, no Instituto que eu criei, né? No IBDD, que a gente tem o trabalho de colocação no mercado, a nossa relação com as empresas mudou do começo do nosso trabalho para hoje. Hoje nós temos uma média de 3 empresas por dia ligando para o IBDD e pedindo mão-de-obra, temos 15 empresas novas por mês se colocando à disposição do IBDD e pedindo o trabalho do IBDD.
Heródoto: Mas Teresa, isso é porque a lei obriga ou porque os gestores estão entendendo que é importante?
Teresa: As duas coisas (risos). Não dá para separar não.
Heródoto: Às vezes parece, né? Às vezes dá a impressão de que “Não, nós temos que cumprir as leis”.
Teresa: Não, eu sempre fui contra cota sabe, até o dia que eu percebi que ela mudou realmente, ela força uma atitude. E aí tem dois modos de cumprir as cotas, o modo de cumprir a cota fingindo que está cumprindo, e tem o modo de cumprir a cota com responsabilidade, com vontade, com alma, com garra. Muitas empresas estão fazendo isso e eu acho que essa é a grande vitória, né? Porque a gente conquistando a empresa, conquista a sociedade. E conquistando a sociedade, conquista a empresa.
Heródoto: E a movimentação desse pessoal na sociedade, também melhorou?
Teresa: Olha, eu acho que melhorou, principalmente em algumas cidades do Brasil. Curitiba iniciou esse processo. Eu fico morta de inveja quando eu venho em São Paulo e só vejo ônibus com símbolo de cadeira de rodas. Eu moro no Rio, né? No Rio não existe isso, né? Então, São Paulo está dando o exemplo agora de como é possível no meio do caminho fazer essa transformação. Então as cidades menores estão fazendo também essa transformação. Mas você tocou num assunto que eu costumo dizer que é o direito de ir e vir, porque todos nós brigamos pelo nosso direito de ir e vir, até durante a repressão nós vivemos aquela questão de habeas corpus, e de não ter o nosso direito, a nossa liberdade, né? E os deficientes estão presos nas suas cadeiras de rodas quando vivem em uma cidade onde não podem exercer esse direito básico de cidadania que é o direito de ir e vir.
Heródoto: Teresa, muito obrigado pela participação conosco.
Teresa: Eu que agradeço a vocês, é um prazer.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial