3.1.08

O outro lado da medalha

O Globo, Opinião, 03/01/2008:

O outro lado da medalha

ANDREI BASTOS

A festa do Prêmio Brasil Olímpico, realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 17 de dezembro pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), fez justiça a Jade Barbosa e Thiago Pereira, eleitos os melhores atletas olímpicos do ano. Os dois, assim como todos os considerados melhores de 2007 no esporte olímpico brasileiro, entraram pela porta da frente do teatro, com direito a tapete vermelho e tudo.

Já a remadora Cláudia Cícero dos Santos e o nadador Daniel Dias, eleitos os melhores atletas paraolímpicos de 2007, entraram pela porta dos fundos do teatro. Junto com 17 outros medalhistas com deficiência, considerados os melhores, ficaram isolados dos olímpicos, em sala separada, por determinação do COB, o dono da festa.

Além de comunicar que o lugar deles era ali, naquela sala separada, o representante do COB fez questão de dizer que o lanche servido era igual ao dos olímpicos. Incrível, não? Realmente são muito generosos esses senhores que, vejam que bonito, convidaram os atletas com deficiência para a sua festa. Mas, por favor, sem entrar pela porta da frente. E sem falar em momento algum que a candidatura às Olimpíadas inclui as Paraolimpíadas.

Essa gente não se emenda!

Indignado com o tratamento recebido, o judoca Antônio Tenório, três medalhas de ouro paraolímpicas seguidas e também medalha de ouro no Parapan, se retirou em protesto. Igualmente indignado, André Brasil, nadador que conquistou seis medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze no Parapan, considera que os paraolímpicos foram tratados como intrusos.

Ou seja: a discriminação que já vinha de longe, particularmente de quando o COB proibiu que as federações olímpicas também se filiassem ao Comitê Paraolímpico Brasileiro sob a ameaça de não mais receberem verbas olímpicas; que se transformou em tragédia nos Jogos Parapan-Americanos, com a morte do atleta argentino Carlos Maslup - essa mesma conhecida discriminação esteve presente e foi destaque no Prêmio Brasil Olímpico.

Quem convida, dá banquete. Portanto, os senhores do COB perderam uma excelente oportunidade de nos deixarem quietos e festejarem sozinhos, pois não precisavam nos convidar, ainda mais quando o tratamento que nos foi dispensado serviu apenas para aumentar o desejo que temos de vê-los o mais longe possível do esporte brasileiro.

ANDREI BASTOS é assessor da Superintendência do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD).

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