20.4.08

Esteira na praia é enganação!

A propósito da instalação de esteiras nas praias cariocas, para cadeirantes poderem chegar na água, o Jornal do Rio, da Rádio Nacional, me entrevistou no dia 18/04/2008.

(Clique aqui e ouça a entrevista)

Transcrição:

Jair Lemos – Amanhã aqui no Rio será inaugurada a primeira esteira de acessibilidade na praia. A esteira será instalada logo pela manhã na altura do posto 11, do Leblon. Apesar das diversas iniciativas que têm sido adotadas pelo governo e empresas, a acessibilidade continua sendo uma das maiores reivindicações e um dos principais problemas enfrentados pelas pessoas portadoras de deficiência. Para avaliar um pouco melhor a situação hoje, no Estado, o Jornal do Rio segunda edição conversa agora com Andrei Bastos, assessor de Comunicação do IBDD, Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Boa noite, Andrei.

Andrei Bastos – Boa noite, Jair, e boa noite ouvintes da Rádio Nacional.

Jair – A instalação da esteira de acessibilidade na praia é sem dúvida um avanço, mas o instituto tem acompanhado o planejamento do governo local? Quantas esteiras precisariam ser instaladas, Andrei?

Andrei – Pois é, Jair, infelizmente eu não posso concordar com você, que uma esteira na praia seja um avanço em acessibilidade para a cidade do Rio de Janeiro. Na nossa opinião, isso é mais uma grande enganação da prefeitura carioca, porque como é que as pessoas com deficiência vão chegar à praia e usar essa esteira se elas não têm transporte público adaptado? Então, em vez de resolver o problema que realmente interessa, que é a acessibilidade no transporte coletivo, a prefeitura fica inventando essas coisas aí de esteira na praia, de coisas que não resolvem o problema dos deficientes cariocas.

Jair – Andrei, tá aí então, são várias nuances que nos levam a fazer a pergunta e ao entrevistado de dar essa resposta e a sua opinião. Agora, nós acompanhamos outras iniciativas, como a instalação de rampas de acesso em determinados locais, como prédios públicos e calçadas. Agora, como o senhor avalia a questão da acessibilidade aqui no Rio?

Andrei – Olha, o IBDD também ganhou uma causa nessa questão da acessibilidade nos prédios públicos, porque existe um decreto de 2004, que é o 5296, assinado pelo presidente Lula, que estabeleceu prazos para a implantação da acessibilidade de um modo geral, e o prazo para os prédios públicos venceu no dia 3 de junho do ano passado. Então, o IBDD entrou com uma ação civil pública na Justiça Federal contra a União, o Estado e o Município e ganhou já, liminarmente, uma decisão judicial que estabeleceu uma multa de 10 mil reais por dia por prédio público não adaptado.

Jair – Existem ainda dificuldades de se garantir os direitos da pessoa com deficiência com o Estado, é verdade. Que aspectos ainda devem receber uma atenção então especial na definição de políticas, Andrei?

Andrei – Olha, eu acho que tem que ser estabelecida uma política de Estado, e não políticas públicas de governo, priorizando essa questão do transporte público nacionalmente, mas com uma ênfase muito forte, principalmente, no Rio de Janeiro, porque São Paulo já vem avançando muito nesse sentido, o Paraná também. Agora, o Rio de Janeiro tem uma frota de 10 mil ônibus e apenas 48 adaptados. Isso é uma piada de profundo mau gosto, e não adianta falar em inclusão da pessoa com deficiência no trabalho, na educação, se ela não tem como chegar a esses lugares, se ela não tem como chegar na sua escola e no seu trabalho. Se não for resolvida a questão do transporte público acessível, nenhuma outra será resolvida. Vai ser tudo enganação como essa história das esteiras.

Jair – Bem, conversamos com Andrei Bastos, assessor de comunicação do IBDD, Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Algo mais a acrescentar, Andrei?

Andrei – Apenas que o prefeito da nossa cidade deveria se dedicar verdadeiramente a resolver esse problema das pessoas com deficiência e não procurar, em ano eleitoral, fazer coisas como essa, que têm o objetivo apenas de aparecer nos jornais, como tem a foto hoje da cadeirante no jornal O Globo, e a gente vê atrás dela um degrau, vamos chamar assim, bastante alto, e eu pergunto: como ela desceu para a praia? Alguém teve que carregá-la. Então, não existe autonomia, e o que nós precisamos, as pessoas com deficiência, é de cidadania plena.

Jair – Conversamos com Andrei Bastos, assessor de comunicação do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Obrigado, Andrei, até uma próxima oportunidade e boa noite.

Andrei – Obrigado, Jair, e boa noite aos ouvintes da Rádio Nacional.

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