3.4.08

Faroeste

ANDREI BASTOS

Com este mesmo título, em dezembro do ano passado a coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo, publicou nota que informou que “o vereador carioca Jorge Pereira blindou até o seu quarto de dormir”. Agora, em abril de 2008, o Informe JB publica a nota “Mandando bala”, que diz que “uma vereadora saiu da Câmara do Rio e viu meia dúzia de seguranças armados” que escoltavam um colega. E conclui a nota: “Ela mandou bala: ‘Como ele paga isso com salário de R$ 8 mil?’”.

Infelizmente, sabemos que foi publicada muita coisa sobre esse tema antes da primeira nota, no intervalo entre uma e outra e, certamente, o será depois desta última. O que aconteceu enquanto os cidadãos de bem cariocas preservavam suas mãos limpas da sujeira da política? A Câmara de Vereadores se transformou em covil?

Plagiando campanha publicitária de conhecida revista semanal, eu pergunto: é esta a cidade que queremos para nossos filhos?

Não! Eu não quero uma cidade assim para meus filhos, no futuro, e nem para mim, no presente. O que aconteceu com a “Cidade Maravilhosa”? Partiu-se e desintegrou-se como um velho filme da Atlândida mal conservado? Também não, para maior infelicidade nossa. Se a cidade estivesse partida, ao menos poderíamos identificar limites ou fronteiras, coisas que não existem mais. Estamos literalmente no meio de um tiroteio em que até são poucas as balas realmente perdidas, pois quase todas têm remetentes bons de mira e endereços certos. E estamos tão no meio do tiroteio, que muitos desses remetentes desfilam com suas reluzentes picapes e seus reluzentes ouros pelos corredores do poder político, hoje gravemente contaminado pelo banditismo.

Outra vez lançando mão do conteúdo da revista semanal citada acima, que publicou reportagem denunciando Che Guevara como tendo sido um assassino frio, eu diria que é justamente um Che sanguinário e implacável que faz falta nos dias de hoje, um comandante capaz de enfileirar essa gentalha no paredão de fuzilamento.

Do mesmo modo que não queremos uma cidade assim para viver, também não queremos uma democracia que permita essa representatividade nociva de comunidades carentes de tudo, menos de medo diante do poder de intimidação de bandidos que já nos fazem sentir saudade dos políticos apenas corruptos.

Mas o que estou dizendo? Por acaso defendo agora a ditadura contra a qual lutei e que me prendeu e torturou? Não, também não! Sou contra qualquer ditadura, de direita, de esquerda ou de qualquer natureza. O que é necessário fazer, com a máxima urgência, é o estabelecimento de regras e fiscalização eleitorais rígidas e, a curto prazo, uma reforma política que acabe com a possibilidade do clientelismo, da compra de votos e da presença de bandidos no poder político.

Se a democracia representativa está a serviço do mal, vamos transformá-la ou mesmo adotar outra forma de democracia, de modo a blindar a atividade política para o bem comum e não quartos de dormir ou picapes, sabe-se lá de que tipo de gente.

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