28.4.08

Esteira na praia é enganação!

O Globo Online, Ancelmo.com, 28/04/2008:

Esteira na praia é enganação!

ANDREI BASTOS

A coluna de Ancelmo Gois publicou na semana passada a foto de uma senhora fazendo "test-drive" da esteira que inventaram para os deficientes curtirem o verão carioca. Mas como é que o povo cadeirante vai chegar na praia se não existe transporte público acessível na cidade? E depois, chegando na beirinha, o que o cadeirante vai fazer? Pular da cadeira de rodas para a água?

Essa história de esteira é uma tremenda enganação! Não adianta falar de inclusão, na praia, na rua, na chuva, ou numa casinha de sapê, se a turma não tem como ir e vir. Em contraposição a essa lorota, as histórias de restrições à liberdade, ao direito à educação e ao trabalho e à própria vida em sociedade são muitas, mas duas delas, recentes, ilustram bem as condições absurdas em que vivem as pessoas com deficiência no Rio de Janeiro.

Agora mesmo o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD) ganhou uma liminar na Justiça para garantir transporte para Bruno Lima Cardoso, um rapaz de 21 anos, tetraplégico, que passou no vestibular de Ciência da Computação na UFRJ e não tem como ir às aulas. A secretária municipal da Pessoa com Deficiência, Leda Azevedo, teve o desplante de oferecer uma van às terças-feiras para o rapaz e, talvez até por causa disso, o Judiciário deu imediatamente ganho de causa ao instituto e determinou que o município providencie transporte todos os dias, sob pena de multa diária pelo descumprimento.

Já Cláudio Pinto, paraplégico, morador de Campo Grande como Bruno, com mais de 30 anos, casado, dois filhos, foi obrigado a renunciar a um emprego na Light, no Centro da cidade, por não ter como se deslocar. Precisa dizer mais?

Diante dessas verdadeiras tragédias, uma esteira na praia não pode ser levada a sério e muito menos ser considerada um avanço em acessibilidade para a cidade do Rio de Janeiro. Em vez de resolver o que realmente interessa, que é a acessibilidade no transporte coletivo, a prefeitura fica inventando coisas que desviam a atenção da sociedade e não resolvem nada. É preciso que se estabeleça uma política de Estado, e não apenas políticas públicas de governo, que priorize essa questão do transporte público acessível nacionalmente, com ênfase muito forte no Rio de Janeiro, que tem uma frota de 10 mil ônibus e apenas 48 adaptados, o que é uma piada de profundo mau gosto. Se isso não for resolvido, vai ser tudo enganação como essa história das esteiras.

O prefeito deveria se dedicar verdadeiramente a resolver esse problema e não procurar, em ano eleitoral, apenas ganhar espaço nos jornais, como o da foto da cadeirante na coluna do Ancelmo. O que nós, pessoas com deficiência, precisamos é de cidadania plena.

(Link para Ancelmo.com)

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