2.4.08

Cotas para deficientes no mercado de trabalho

Entrevista minha no Jornal Visual, da TV Brasil, em 28/03/2008.

(Clique aqui e assista o programa pelo site do IBDD)

Transcrição:

Lavínia Ferraiolo – Vamos conhecer agora uma empresa que conhece o significado da palavra inclusão e mostrar que a deficiência não é empecilho para os deficientes.

Daniela Boaventura – Maurício trabalha há dois anos como analista de comércio exterior em uma empresa do Rio. Mas por usar cadeira de rodas, desde que sofreu um acidente e perdeu o movimento das pernas, no ano 2000, ele já enfrentou muitas dificuldades para conseguir emprego.

Maurício Roberto Steiger – Um entrevistador perguntou se eu conseguia ficar em pé. Aí ficou uma situação assim, meio, eu não sei na verdade se a pessoa já queria me descartar, na entrevista mesmo, ou se ela se assustou mesmo pelo peso que ele acharia que poderia ser um deficiente na empresa.

Daniela – Aqui existe um programa de inclusão para que deficientes não sejam discriminados ou prejudicados na hora de se locomover. Por lei, toda empresa deve ter de 1 a 5% do quadro formado por deficientes.

Cristiane de Lucas – É claro que a gente gostaria de cumprir a cota, coisa que hoje ainda não acontece, infelizmente, mas a gente tem um programa de médio e longo prazo e nosso objetivo realmente é permitir, é criar essa oportunidade para as pessoas.

Daniela – Quem não cumpre a lei é punido e qualquer pessoa pode denunciar a irregularidade.

Mario Neves – Ela deve procurar a Delegacia Regional do Trabalho, ou através do seu plantão de consulta, ou aqui, no núcleo de políticas sociais, e efetuar a denúncia que a empresa não está cumprindo a cota.

Lavínia – Para falar desse assunto, o Jornal Visual convidou Andrei Bastos. Ele é assessor de comunicação do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o IBDD. Fala pra gente, Andrei, sobre o mercado de cotas para os deficientes.

Andrei Bastos – Essa questão das cotas, nós consideramos um mal necessário e, de preferência, temporário. O que é que eu quero dizer com isso? Pode parecer que eu estou me contradizendo, porque eu defendo as cotas temporariamente, mas sou contra qualquer atitude de proteção especial, excepcional, para as pessoas com deficiência, desde uma proposta de Estatuto até qualquer outro tipo de coisa, porque isso só aumenta a segregação. Mas, por outro lado, a sociedade tem uma dívida, historicamente falando, enorme com essas pessoas devido à exclusão, que sempre foi a realidade delas. Então, isso precisa ser resolvido de alguma maneira e precisa ser tirada a diferença para que os deficientes fiquem em pé de igualdade com os não deficientes.

Lavínia – E porque a maioria das pessoas com deficiência não possuem qualificação profissional adequada?

Andrei – A maioria das pessoas que nasceram com alguma deficiência não possui essa qualificação. Porque aquelas que ficaram deficientes no decorrer da vida, como eu, por exemplo, que já tinha uma profissão, de jornalista. Agora, aquelas pessoas que nasceram com deficiência, elas começam a vida já enfrentando uma enorme gama de dificuldades, para estudar, não existe transporte público acessível, se elas conseguem chegar à escola, elas não conseguem aproveitar aquela escola porque ela não tem acessibilidade arquitetônica, não tem os equipamentos adequados, e não tem professores preparados para atender às diferentes deficiências.

Lavínia – E o que é preciso então para reverter esse quadro?

Andrei – Lavínia, esse é um problema muito sério porque no Brasil isso é uma questão estrutural, ela atinge a todos os brasileiros, quer dizer, a má qualidade da educação. E por extensão, evidentemente, as pessoas com deficiência com os agravantes que eu falei antes, da acessibilidade nos vários níveis. Eu acho que para reverter isso o país precisa adotar uma política de Estado. Não é uma política de governo. É uma política de Estado que priorize a educação para todos os brasileiros e que invista na acessibilidade arquitetônica das escolas, no preparo dos professores e, principalmente, no transporte público acessível.

Lavínia – Andrei, muito obrigada pela sua participação aqui no jornal.

Andrei – Lavínia, eu é que agradeço e agradeço aos telespectadores do Jornal Visual.

Lavínia – E para você, uma boa tarde e um excelente fim de semana.

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