11.5.08

Indignação

Prezados amigos,

Prefiro não pensar, conforme sugere minha querida amiga Claudia, que o que vivi ontem foi uma simples aventura. As condições do Rio de Janeiro têm afetado muito mais em termos das sensações e emoções que eu e muitas outras pessoas temos experimentado nestes últimos tempos.

Acredito que aventura é algo de que se pode tirar algum prazer positivo. Entretanto, vivo em um pânico constante ao caminhar pelas ruas, o que me impede de curtir a paisagem urbana por ter que me concentrar nos muitos buracos das calçadas e nas irregularidades ou ressaltos do asfalto, além das medidas ou soluções bastante rudimentares de acesso aos lugares e edificações de minha cidade.

A queda que ocorreu ontem quando voltávamos de nossa manifestação na praia não foi a primeira, o que me tem levado a refletir muito mais acerca do meu papel como arquiteta que vem se dedicando nestes últimos tempos às questões da acessibilidade. Não estou ou sou resignada com estas situações “bem mais do que assustadoras” que aconteceram ao longo desta última semana nos lugares que mais gosto de frequentar: a praia que adoro, as ruas do Rio, a universidade onde trabalho e passo grande parte de minha vida e a FIERJ onde tento preservar minha identidade como judia e minhas tradições.

Passo da resignação para a indignação porque o contexto me impossibilita qualquer relação de afeto com certos espaços físicos, me levando a repensar algumas atuações e estratégias de ação, para que pessoas com alguma deficiência como eu e tantas outras com alguma mobilidade reduzida possam ter o poder de decisão sobre que locais podem ou querem ir. Ainda não tenho respostas, mas busco um caminho que possibilite nossa apropriação e identificação com a urbe que tanto amamos.

Abraços indignados em todos,
Regina Cohen
Núcleo Pró-Acesso - UFRJ
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
www.proacesso.fau.ufrj.br

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