Crise avança. Como Lula pode surfar a marolona
MILTON COELHO DA GRAÇA
Continuamos mal como estamos desde o início da crise. Os ministros cada vez se entendem menos, porque o governo é heterogêneo e não está submetido ou mesmo vinculado por um projeto nacional. À medida que as circunstâncias da crise se agravam, cada ministro puxa para o lado dos interesses e idéias que representa. E cada um puxa para um lado diferente. A confusão vai se agravando.
Há uma primeira questão, sobre a qual não só o Brasil mas o mundo inteiro debate: devemos prosseguir no caminho da globalização ou recuar para o protecionismo, porque, como diz nosso caipira flagrado por Guimarães Rosa. “em tempo de murici, cada qual cuida de si”?
A rodada Doha, que iria fazer avançar o processo de globalização, fracassou e não se vê condições no horizonte para que esse processo seja reatado. Todo o mundo está convencido de que o progresso da espécie humana só será possível com mais trocas comerciais e, portanto, maior recompensa para a produtividade e para o desenvolvimento científico e tecnológico. Mas cada país quer exportar mais e importar menos para se defender do contágio crescente da recessão.
Foi só o Planalto bobear e um subsubsub secretário decretou a volta das licenças de importação. Felizmente a reação foi tão grande que o Governo imediatamente puxou o freio de mão. Mas ficou claro que o Ministério do Desenvolvimento é um ninho de protecionistas sempre pronto a mudar o rumo de nossa história.
A segunda questão é a dos juros. O COPOM – Conselho de Política Monetária – não teve como se opor à grita nacional contra a maior taxa real de juros do mundo. Baixamos a taxa nominal de 13,75% para 12,75%. Um por centinho só. Mas três dos oito conselheiros votaram por uma redução menor, apenas 0,75% e a ata da reunião já avisa que esse negócio de baixa não vai virar moda. Enquanto isso, os juros de todos os países realmente preocupados com a crise já estão próximos de zero por cento. Ou seja: há no COPOM e no Banco Central um ninho de protetores dos bancos e rentistas – únicos interessados em juros altos.
Uma terceira questão é quem deve ser mais ajudado pelo Governo? No mundo inteiro a preocupação maior é com a manutenção do nível de emprego. Mas tem de ser emprego produtivo, que leve a maior produção, renda e consumo imediatamente ou no futuro. O BNDES vai levar 100 bilhões de reais, mas a distribuição desse dinheiro ainda não tem regras claras e a desconfiança é forte de que só vai ajudar a concentração industrial porque não estão previstos mecanismos para beneficiar médias e pequenas empresas. Também não transparece um propósito firme de beneficiar o avanço científico-tecnológico, chave da competitividade futura.
Globalização encrencada, protecionismo acalentado mas publicamente rejeitado – no mundo também se busca como solução a criação ou ampliação de acordos bilaterais e/ou multilaterais. Agora mesmo a China está negociando livre comércio com a Suíça, sua velha parceira na arrancada para a industrialização (foram as empresas e máquinas suíças que levaram os tecidos chineses a dominar o mercado internacional). A Europa já tem 27 sócios e disposição para acrescentar novos. Os Estados Unidos de Obama preparam planos para ampliar o NAFTA, até aqui apenas com México e Canadá.
Só o Mercosul continua emperrado, tendo apenas uma lista de tarifas comuns na mão e sem mostrar disposição para avançar. Por que? Porque uma grande parte dos industriais de Brasil e Argentina sempre sonhou com territórios fechados a mercadorias estrangeiras, muitas vezes achando ministros e até governos inteiros sensíveis a seus eternos lamentos.
O Brasil, desde Collor, havia entendido que progresso constante só seria possível com o estímulo científico-tecnológico dado pela concorrência internacional. Exemplo que todos lembram: brinquedos chineses tornaram absurdos os preços da Estrela.
O presidente Lula tem de reunir todos os seus auxiliares de primeiro time, bater o punho (ou qualquer outra parte do corpo) na mesa e dizer claramente:
“Quero surfar nessa marolona. Quero juros mais baixos JÁ,quem pensar em protecionismo não precisa voltar a esta mesa. Quero o dinheiro economizado com a baixa de juros sobre a dívida interna – calculo aí pelo menos uns 40 bilhões - usado para abrir linhas de financiamento com juro real máximo de um por cento ao mês a pequenas e médias empresas, pesquisa científico-tecnológica, estradas de ferro e de rodagem (conversem com o Serra que ele é bom nisso), crédito rápido e superbarato para financiar exportações. Quem cortar mais fundo em despesas de custeio simples vai sentar aqui ao meu lado nas reuniões. Ô Mantega, fica calado por uns três meses; Mangabeira, traduz o que falei para teus amigos intelectuais entenderem bem o que estou falando. E, ô Dilma, vai logo mandando preparar o vestido da posse!”
Continuamos mal como estamos desde o início da crise. Os ministros cada vez se entendem menos, porque o governo é heterogêneo e não está submetido ou mesmo vinculado por um projeto nacional. À medida que as circunstâncias da crise se agravam, cada ministro puxa para o lado dos interesses e idéias que representa. E cada um puxa para um lado diferente. A confusão vai se agravando.
Há uma primeira questão, sobre a qual não só o Brasil mas o mundo inteiro debate: devemos prosseguir no caminho da globalização ou recuar para o protecionismo, porque, como diz nosso caipira flagrado por Guimarães Rosa. “em tempo de murici, cada qual cuida de si”?
A rodada Doha, que iria fazer avançar o processo de globalização, fracassou e não se vê condições no horizonte para que esse processo seja reatado. Todo o mundo está convencido de que o progresso da espécie humana só será possível com mais trocas comerciais e, portanto, maior recompensa para a produtividade e para o desenvolvimento científico e tecnológico. Mas cada país quer exportar mais e importar menos para se defender do contágio crescente da recessão.
Foi só o Planalto bobear e um subsubsub secretário decretou a volta das licenças de importação. Felizmente a reação foi tão grande que o Governo imediatamente puxou o freio de mão. Mas ficou claro que o Ministério do Desenvolvimento é um ninho de protecionistas sempre pronto a mudar o rumo de nossa história.
A segunda questão é a dos juros. O COPOM – Conselho de Política Monetária – não teve como se opor à grita nacional contra a maior taxa real de juros do mundo. Baixamos a taxa nominal de 13,75% para 12,75%. Um por centinho só. Mas três dos oito conselheiros votaram por uma redução menor, apenas 0,75% e a ata da reunião já avisa que esse negócio de baixa não vai virar moda. Enquanto isso, os juros de todos os países realmente preocupados com a crise já estão próximos de zero por cento. Ou seja: há no COPOM e no Banco Central um ninho de protetores dos bancos e rentistas – únicos interessados em juros altos.
Uma terceira questão é quem deve ser mais ajudado pelo Governo? No mundo inteiro a preocupação maior é com a manutenção do nível de emprego. Mas tem de ser emprego produtivo, que leve a maior produção, renda e consumo imediatamente ou no futuro. O BNDES vai levar 100 bilhões de reais, mas a distribuição desse dinheiro ainda não tem regras claras e a desconfiança é forte de que só vai ajudar a concentração industrial porque não estão previstos mecanismos para beneficiar médias e pequenas empresas. Também não transparece um propósito firme de beneficiar o avanço científico-tecnológico, chave da competitividade futura.
Globalização encrencada, protecionismo acalentado mas publicamente rejeitado – no mundo também se busca como solução a criação ou ampliação de acordos bilaterais e/ou multilaterais. Agora mesmo a China está negociando livre comércio com a Suíça, sua velha parceira na arrancada para a industrialização (foram as empresas e máquinas suíças que levaram os tecidos chineses a dominar o mercado internacional). A Europa já tem 27 sócios e disposição para acrescentar novos. Os Estados Unidos de Obama preparam planos para ampliar o NAFTA, até aqui apenas com México e Canadá.
Só o Mercosul continua emperrado, tendo apenas uma lista de tarifas comuns na mão e sem mostrar disposição para avançar. Por que? Porque uma grande parte dos industriais de Brasil e Argentina sempre sonhou com territórios fechados a mercadorias estrangeiras, muitas vezes achando ministros e até governos inteiros sensíveis a seus eternos lamentos.
O Brasil, desde Collor, havia entendido que progresso constante só seria possível com o estímulo científico-tecnológico dado pela concorrência internacional. Exemplo que todos lembram: brinquedos chineses tornaram absurdos os preços da Estrela.
O presidente Lula tem de reunir todos os seus auxiliares de primeiro time, bater o punho (ou qualquer outra parte do corpo) na mesa e dizer claramente:
“Quero surfar nessa marolona. Quero juros mais baixos JÁ,quem pensar em protecionismo não precisa voltar a esta mesa. Quero o dinheiro economizado com a baixa de juros sobre a dívida interna – calculo aí pelo menos uns 40 bilhões - usado para abrir linhas de financiamento com juro real máximo de um por cento ao mês a pequenas e médias empresas, pesquisa científico-tecnológica, estradas de ferro e de rodagem (conversem com o Serra que ele é bom nisso), crédito rápido e superbarato para financiar exportações. Quem cortar mais fundo em despesas de custeio simples vai sentar aqui ao meu lado nas reuniões. Ô Mantega, fica calado por uns três meses; Mangabeira, traduz o que falei para teus amigos intelectuais entenderem bem o que estou falando. E, ô Dilma, vai logo mandando preparar o vestido da posse!”
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