26.1.09

Obama falou em paz mas exaltou a guerra

MILTON COELHO DA GRAÇA

Palavras lindas e roteiro adequado para mostrar a disposição de enfrentar a crise numa linha muito próxima à de Franklin Roosevelt na Grande Depressão da década de 30: usar o Estado para corrigir as distorções do mercado, prioridade para criação de empregos, modernização da infraestrutura, melhoria dos sistemas de educação e saúde, preservação do meio ambiente.

Mas Barack Obama, no discurso de posse como presidente dos Estados Unidos, foi pouco incisivo na questão que mais interessa a todos os povos do mundo: a busca incessante da paz.

“A América é amiga de cada nação (…) e estamos prontos a liderar novamente. (…) Vamos começar a deixar responsavelmente o Iraque para o seu povo e alcançar uma paz suada no Afeganistão. (…) Com velhos amigos e ex-inimigos vamos trabalhar incansavelmente para diminuir a ameaça nuclear. (…) Ao mundo muçulmano, buscamos um novo caminho à frente, baseado em respeito e interesse mútuos.

Espremendo promessas quase vãs, adjetivos e advérbios, a política externa foi reduzida a esses poucos compromissos. E Obama mostrou ainda acreditar na idéia de que a guerra do Vietnã foi justa – mesmo depois de ficar demonstrada em mais de 30 anos a falsidade da teoria de que a vitória comunista provocaria “efeito dominó” em todo o sudeste da Ásia.

Os EUA hoje procuram cada vez mais melhorar seu relacionamento comercial e cultural com o Vietnã. Mesmo assim Obama colocou a batalha de Khe San ao lado de Concord (pela Guerra da Independência), Gettysburgh (decidiu a vitória na Guerra de Secessão, causada pelo fim da escravatura) e Normandia (espetacular início da invasão da Europa e da derrota do nazismo).

Por que colocar uma derrota inglória no Vietnã ao lado das maiores e mais memoráveis vitórias nas lutas do povo americano pela liberdade e pela democracia? Não teria sido mais significativo recordar as 500 mil pessoas - uma multidão igualzinha à que assistia à sua posse - mas no dia 24 de abril de 1971 e pedindo o imediato fim da guerra no Vietnã?

Khe San seguramente não é boa lembrança para quem anuncia um novo caminho na política externa dos Estados Unidos.

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POR BAIXO, AMERICANOS E CHINESES SE CUTUCAM

William Lynn, novo subsecretário de Defesa dos Estados Unidos, demonstrou na semana passada que sua nomeação deve ter sido um “agrado” do presidente Obama àquilo que o presidente Eisenhower, na década de 60, batisou de “complexo industrial-militar”.

Lynn, ex-executivo da Raytheon, a maior fábrica de mísseis do mundo, declarou numa entrevista que seu país deveria se preocupar com a modernização militar da China “O ritmo e a escala dessa modernização, combinados com a falta de transparência sobre “capabilidades”* e intenções, são uma causa de preocupação, tanto para os EUA como para seus aliados e a região, em visão mais ampla. Os EUA devem manter vantagem nas áreas críticas para se atingir objetivos específicos operacionais.” (NR: uso o barbarismo “capabilidades”, para explicitar com a máxima clareza o pensamento de Wynn, porque, em inglês, essa palavra significa “a qualidade de ser capaz física, mental ou moralmente”, enquanto “capacities” se referiria a receber, segurar ou absorver.)

A China não gostou nem um pouco. No dia seguinte, Shi Yinhong, professor de Relações China-EUA, através de um jornal do Governo, disse coisas assim:

“Faz parte da cultura institucional do Pentágono partir de sua capacidade militar e ameaçar. O problema é que eles igualam capacidade militar e intenção estratégica.” (…) “A modernização militar da China é necessária â defesa nacional, mas a busca pela paz e pelo desenvolvimento continua a mesma. Os Estados Unidos estão vendo a China como uma potência militar através de uma lente de aumento. Deveriam primeiro examinar seus próprios problemas. Sem contar as despesas com as guerras no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos vêm tendo gastos militares de 400 bilhões de dólares anuais desde 2003. (…) Os Estados Unidos não são transparentes como dizem e muitos se perguntam o que será feito com toda essa força militar.”

Na véspera da posse de Obama, a China editou um enorme Livro Branco sobre a defesa do país. Números, intenções, objetivos – verdadeiros ou não – está tudo ali em centenas de páginas. Vamos torcer para a turma de cima começar a tratar destes assuntos antes que os Lynn e Shi elevem ainda mais o timbre das acusações mútuas.

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“Mantenha-se forte, se possível. Em qualquer caso, mantenha-se frio. Tenha ilimitada paciência. Nunca encurrale um adversário e sempre o ajude a salvar a face. Ponha-se na situação dele – de maneira a ver as coisas como ele as vê. Evite, como ao diabo, a certeza de estar certo – nada nos deixa tão cegos como isso.” (Conselho a Estadistas)

Basil Henry Lidell Hart (1895-1970), historiador e estrategista britânico

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MÃO ESTENDIDA A ALKMIN TORNA SERRA MAIS FORTE

O governador José Serra deve ter lido esse pensamento de Lidell Hart aí em cima. Convidou Geraldo Alkmin para uma conversa e os dois saíram do encontro exibindo um pacotão paulista bem amarrado, com o PSDB unido e tendo a seu lado o DEM, a fatia Orestes Quércia do PMDB e o PPS. Para começo de campanha, não está nada mal.

O governador Aécio Neves sentiu o golpe triplo – a perda do aliado que parecia certo (Alkmin), a desconfiança de que, indo para o PMDB, não contaria com esse partido inteiro, e o esvaziamento da idéia das prévias tucanas, que agora provavelmente só ajudariam ainda mais a candidatura Serra.

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RECORDAR É VIVER, MAS SEM PROFECIA

Na edição de 8 de outubro publiquei esta nota aí abaixo. De lá para cá Sarney disse um zilhão de vezes que não queria ser presidente do Senado, Garibaldi Alves outro zilhão que queria continuar, o presidente Lula repetiu incansavelmente que o ideal seria o PT ter o cargo com Tião Viana etc. etc. Republico só para se ver melhor o estilo manhoso de nossa política. Agora, na hora da onça beber água, confiram. Só falta ver se Temporão vai pagar mesmo a conta.

PMDB PREPARA FESTA, TEMPORÃO PAGA CONTA

Os chefões do PMDB já acertaram todo o esquema para ficar com a presidência das duas casas do Congresso: Michel Temer comandará a Câmara Federal, José Sarney, o Senado. O deputado Henrique Alves assume a presidência do partido e o alagoano Renan Calheiros ressuscita e será o líder no Senado, Tudo certinho, mas e o PT, que insiste no tal acordo de Senado para um, Câmara para outro, e quer lançar Tião Viana? Aí já está até embrulhado o presente de consolação: a cabeça do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que não vem “atendendo” bem os pedidos dos parlamentares.

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PARA PETISTAS LEREM NA CAMA

A ala mais à esquerda do PT, majoritária no Rio Grande do Sul, fez enorme zoeira contra a iniciativa do companheiro Jairo Jorge, eleito prefeito de Canoas, de convidar Cesare Busatto, ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil da governadora Yesa Crusius, para ocupar a Secretaria de Inovação e Projetos Estratégicos do município. Nenhum petista chamou Busatto de ladrão, incompetente, safado ou outra razão do gênero. Tudo girou em torno da simples premissa tão defendida por um bom pedaço do PT: ganhamos a eleição, não o eleito, o governo é nosso.

O prefeito brigou, disse que não abria mão de escolher seus auxiliares de confiança. Mas Busatto viu que a situação era complicada e preferiu abrir mão do convite.

Jairo Jorge, ao final, falou coisas que todo o seu partido deveria ler com carinho: “O PT que eu desejo não é o PT do isolamento, é o PT que tenha capacidade, sim, de construir um novo bloco político humilde, sem arrogâncias com seus parceiros. A política gaúcha se movimenta nos últimos 15 anos sobre a lógica do paradigma do conflito, do ódio, do nós e eles.”

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“Quem acreditar que nossos sorrisos significam abandono dos ensinamentos de Marx, Engels e Lênin, engana-se. Aqueles que esperam por isso vão esperar até camarão aprender a assobiar.”

Nikita Kruschev (1894-1971), dirigente soviético

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RAFAEL, CANDIDATO À CAMISA NÚMERO 2

Levado ainda garoto pelo Manchester United, Rafael Silva acabou de completar 18 anos (em 9 de julho) já está, como lateral direito, entre os 34 craques da equipe principal do provável campeão inglês. Participou de 14 partidas e. nesta terça-feira (20/1), ajudou o time a se classificar para a final da Copa Carling, em 1º de março: na vitória por 4 a 2, da intermediária do adversário. Rafael deu um passe milimétrico na cabeça do argentino Tevez, que só teve o trabalho de tirar do alcance do goleiro.

Fábio, levado pelo Manchester United junto com o irmão gêmeo Rafael, também está na equipe principal, mas se recupera de forte contusão. É bem possível que os dois estejam na seleção canarinho em 2014. Ou mesmo em 2010?

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É SÓ TRABALHAR: SERVIÇO NÃO FALTA

Nosso Congresso tem 10.675 projetos na fila para discussão e votação. Se os parlamentares pararem de conversar fiado e trabalharem para valer, têm serviço aí para uns três mandatos.

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