15.8.10

Quando portais da web se tornam barreiras

Blog Hoje em Pauta, 14/08/2010:

Quando portais da web se tornam barreiras

Isabela Pimentel

Twitter, Facebook e Orkut são nomes popularmente utilizados para denominar as redes sociais. Mas, será que de fato, ter acesso a uma ferramenta na internet é garantia de maior participação e democratização? É importante questionar o modo como a revolução digital alterou o exercício do jornalismo, a construção das notícias e a participação dos públicos neste processo.

A possibilidade de o cidadão, dotado de equipamento portátil “noticiar” um fato e poder enviá-lo e vê-lo publicado em portais dos grandes periódicos alterou os rumos da construção das notícias. Neste sentido, jornalismo cidadão tornou-se um nome frequente. Mas, o que grande parte dos veículos esquece, é que o conceito de cidadania tem vários significados e não se refere a um grupo estanque de pessoas, mas, sim, ao conjunto heterogêneo de seres humanos, com pensamentos distintos. Dizer que há apenas uma cidadania é recorrer à simplificação do conceito.

A cidadania, entendida como possibilidade de participação ativa na esfera social e política do indivíduo no meio em que está inserido e transita, compreende várias dimensões, e uma delas, por vezes, esquecida, é o acesso à informação. Após a reabertura política, nos anos 80, os meios de comunicação passaram a ser vistos como esfera potencial para práticas cidadãs, em defesa da justiça e luta. Porém, não é o que tem ocorrido.

A tão proclamada sociedade em rede e sua esfera virtual, criam barreiras, quando pensam estar incluindo, sendo muros, ao invés de portais de informação. Tal fato é notório nas chamadas “seções colaborativas” dos jornais em sua versão on-line. Apesar da presença de slogans como “aqui, todo cidadão é repórter”, os sites não respeitam conceitos fundamentais como a acessibilidade das interfaces na web, excluindo pessoas que possuem necessidades específicas e desejam contribuir, enviar dados, construir suas notícias e que são “barradas” pelas paredes construídas, impedindo a prática de um direito fundamental: ter acesso à informação e participação nas discussões em voga nos rumos políticos e sociais do país.

O jornalista Andrei Bastos, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB- RJ, conhecido por sua atuação militante em defesa da acessibilidade e inclusão social, explica que acompanhou o processo de informatização das redações e que a rotina profissional também foi modificada. Bastos iniciou a carreira aos 19 anos de idade, no Correio da Manhã, no ano de 1970.

“A internet não só impôs novas configurações aos sites dos periódicos, levando-os a ampliarem seus espaços de colaboração opinativa e informativa, como também determinou o mesmo nos jornais impressos, que hoje buscam um novo lugar nesta era da informação em que vivemos e que se caracteriza pela interatividade entre os veículos, impressos ou virtuais, e seus públicos”, afirma.

O jornalista acredita que à participação do público se relaciona uma transformação da democracia representativa em participativa, na qual todo cidadão é político. Ele aponta o trabalho de conscientização como um caminho para que a comunicação horizontal, inclusiva, seja, de fato, implantada. “Só um trabalho intenso pode fazer com que essa “invisibilidade” acabe e todos sejam incluídos, a exemplo do projeto jornalístico Inclusive, a Revista Digital de Direitos Humanos, Cidadania e Inclusão Social.

Para Bastos, a vontade política dos excluídos, com ou sem necessidades específicas, seja no campo da mídia ou sociedade em geral, é a chave da transformação. “Para isso - o que já vem sendo feito há bastante tempo pelas pessoas com deficiência - é preciso mostrar a cara, botar o bloco na rua e lutar por direitos”, conclui.

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