11.3.11

Reencontro

Blog Pra lá de Balzac, 11/03/2011:

Reencontro

RENÉE DURÃO

Entrei e procurei aquela mesa no fundo do restaurante, um lugar um pouco mais reservado, mas de onde eu poderia ver a porta de entrada. Percebi que as pessoas me viram entrar e comentavam. Estou acostumada com o sucesso, digamos assim. O garçom demorou bastante a se apresentar. Quando veio, não conseguia me encarar. Desviava o olhar para minhas unhas de cor púrpura, meus cabelos descoloridos e meu decote bem ventilado. E começou a paranóia.

Será que exagerei, caprichando demais para aquele tão esperado reencontro? Até tentei o comedimento, mas não escapo de ser eu mesma. Gloriosa! Será que ele iria gostar? Iria, desta vez, me perdoar? Superaria o que passamos? O coração tão forte me atordoava.

Duas mesas adiante, um homem me encarava à frente de sua mulher gorda e filha pequena. Fingi que não via, mas quando lancei meu infalível olhar de ave de rapina ele sorriu e piscou. Adoro o jogo de sedução, do mistério e atração da conquista, porém detesto os canalhas. Ele se levantou para ir ao toalete e, na passagem, deixou um pedacinho do guardanapo de papel com um telefone. Vigiei e, na volta, coloquei sorrateiramente no caminho minha perna caprichadamente bem depilada para a ocasião e o canalha levou um tombo feio. A mulher veio em socorro e a filha começou a chorar, enquanto eu sacava o espelhinho e reforçava o batom. Vitória! Mas a nóia voltou.

Uma bebidinha e relaxar? Aice ti de pêssego, amém. Um petisco que deixa a espera mais macia. As opções: frango à passarinho. Huuum, não sei. Filé à peritivo!!?? “Garçon! Batata frita!” O enrustidinho acenou um OK lá de longe.

E o coração na boca. Jorge dissera que o avião sairia de Congonhas às cinco e que estaria aqui por volta das sete. Pontual, educadíssimo, recatado e tímido. Entendo. Eu o amo.

As batatas chegaram quando a porta se abriu e ele entrou. O tremor das mãos e nas pernas, o frio na barriga e flashes do passado: a revelação, negação, preconceito, conflito e separação. Vidas em cidades diferentes.

De terno escuro, cabelos bem penteados, alto, porte atlético, olhos negros e firmes e mão forte que portava uma rosa. Como eu, chamou a atenção dos comensais. Eu não sabia se me levantava, se gritava ou mesmo se desmaiava. Jorge, por sorte, me achou logo. E veio.

Sentou-se, olhou à sua volta, pigarreou, demorou, mas me encarou com doçura. Apresentou a rosa quando as lágrimas já borravam toda minha maquiagem. Molhavam meus lábios que nada conseguiam articular quando ele disse baixinho. “Oi pai.”

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