27.10.11

A admirável coragem dos argentinos

O Globo Online, 27/10/2011:

ESMA
Justiça argentina condena à prisão perpétua quatro ex-oficiais da Marinha por crimes da ditadura

BUENOS AIRES – Em uma decisão histórica, a Justiça argentina condenou na noite de quarta-feira à prisão perpétua quatro ex-oficiais da Marinha por crimes contra a Humanidade cometidos durante a última ditadura militar no país (1976-1983). A sentença imputada a Alfredo Astiz, Jorge “El Tigre” Acosta, Antonio Pernías, Ricardo Cavallo, e a outros oito repressores é a primeira imputada ao grupo da Escola de Mecânica da Armada(Esma), onde funcionou a prisão clandestina mais importante da ditadura.

No julgamento, iniciado em dezembro de 2009, os condenados responderam a 86 casos de sequestros, prisões, torturas e homicídios contra dissidentes políticos. Outros quatro réus foram condenados a penas entre 18 e 25 anos de prisão. Dois foram absolvidos. Pela Esma, passaram cerca de 5 mil presos, dos quais menos da metade sobreviveram.

O veredicto, anunciado horas depois do horário previsto, foi aplaudido por sobreviventes, parentes de vítimas da ditadura e ativistas que acompanharam a leitura por meio de um telão colocado em frente ao tribunal de Buenos Aires.

“Olé, olé, vai acontecer como aos nazistas, aonde forem iremos buscar”, gritaram quando a câmera mostrou o rosto de Astiz – um dos símbolos da ditadura argentina e conhecido como “anjo da morte” -, que já está preso.

Acusados de matar freiras, jornalista e fundadoras das Mães da Praça de Maio

O processo levou mais de 22 meses e reuniu depoimentos de mais de 200 testemunhas para apresentar as acusações contra os 18 réus.

Entre os assassinatos pelos quais eram acusados, estavam as mortes de três fundadoras do grupo Mães da Praça de Maio (Azucena Villaflor, Mary Bianco e Ester de Careaga), o jornalista Rodolfo Walsh e as freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet.

- É outro dia histórico, um desses dias que jamais pensamos que íamos viver – disse Taty Almeida, fundadora das Mães da Praça de Maio.

Outros ativistas avaliaram este como o primeiro passo e criticaram a absolvição de dois dos 18 julgados.

- Em termos jurídicos, a leitura da sentença é a culminação de uma luta de dois anos – afirmou, segundo o jornal “Clarín”, Carlos Lordkipanidse, sobrevivente da Esma, afirmando que o julgamento envolveu uma parte menor dos casos denunciados e uma pequena quantidade de repressores.

Para Enrique Fukman, outro sobrevivente, a decisão trouxe “sensações contraditórias: a alegria de chegar a este momento, depois de tantos anos de luta, e a convicção de que esta causa é uma parte” que deverá ter outros processos.

Emoção no anúncio das sentenças

Do lado de fora do tribunal, o momento mais emocionante foi o anúncio da condenação de Astiz. Acusado do assassinato das freiras francesas e da sueca Dagmar Hagelin, ele havia se infiltrado entre as Mães da Praça de Maio para organizar o sequestro de Azucena Villaflor. Condenado na França à prisão perpétua em 1990, ele não podia sair da Argentina.

Beneficiado pelas leis argentinas conhecidas como Ponto Final e Obediência Devida, do governo Raúl Alfonsín (1983-1989), ele nunca havia sido condenado no país. Mas, quando o Congresso anulou em 2003 a regra, Astiz recebeu condenação à prisão preventiva.

O tribunal determinou que até a decisão final sobre a pena, os condenados continuarão sob o regime atual de detenção. Alguns estão em prisão domiciliar por razões de saúde e outros estão em prisão comum, como é o caso de Astiz.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/10/27/justica-argentina-condena-prisao-perpetua-quatro-ex-oficiais-da-marinha-por-crimes-da-ditadura-925668970.asp#ixzz1bzJ7Q72X

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