17.9.12

Fahrenheit net

ANDREI BASTOS

As recentes ondas de protestos que desestabilizaram os já inconstantes núcleos dirigentes dos continentes africano, asiático e sul-americano parecem ter finalmente convencido os membros do núcleo dirigente mundial da necessidade de se por em prática as medidas de controle definitivas, programadas nos primórdios da era cibernética. Durante as cinco últimas décadas assistimos ao desenvolvimento acelerado de uma infinidade de pequenos grupos de mobilização social com os mais diversos propósitos, mas todos em oposição às diretrizes emanadas do comando mundial.

Quando os centros do poder sentiram que sua hegemonia estava ameaçada pela ascensão de grandes massas populares marginalizadas à chamada sociedade de consumo, particularmente migrando para suas cidades e promovendo embates culturais literalmente violentos, acenderam o sinal amarelo de alerta e deram início à busca de novas formas de controle social.

Os conflitos que se sucederam à grande crise econômica, incendiando as mais importantes cidades europeias e americanas, na sua quase totalidade tiveram seu fogo alimentado pela circulação livre da informação na internet. A rede mundial de computadores teve um papel fundamental na conscientização e mobilização dos enormes contingentes que se lançaram à conquista de seus espaços no mundo.

Mas tanto quanto deu consistência e organicidade aos movimentos sociais, a natureza etérea da rede também lhes proporcionou uma fragilidade inerente. O paradoxo já havia sido percebido pelos organismos de inteligência dos governos centrais e no final do século XX tais instituições começaram a trabalhar na construção paciente do “grande instrumento de poder”.

Ao se dedicarem a intervenções no fluxo de informações da rede, os agentes dos serviços de inteligência logo perceberam que o alcance do seu trabalho poderia ser infinitamente maior e a certeza do seu sucesso ficou inquestionável. O que se evidenciou foi que, muito mais do que apenas conhecer, controlar e dirigir os movimentos sociais segundo os interesses das classes dominantes, pela rede de computadores seria possível se assenhorear de todo o conhecimento humano.

Não foi nem um pouco difícil induzir as sociedades a adotarem as novas maneiras de trabalhar, se comunicar, se informar, se divertir, estudar e ler seus livros, que durante séculos lhes chegaram como volumes impressos pesados, mas que, todos juntos, agora têm a leveza do tablet. Tanto para quem produzia como para quem consumia, a nova forma de viver se justificava plenamente pela racionalidade de custos, altos lucros e infinitas possibilidades operacionais e de consumo.

Com esta aceitação generalizada da nova ordem, o direcionamento de todo o conhecimento humano para as mídias digitais foi uma tarefa suave para os agentes das classes dominantes. A partir de determinado momento, tudo estava ao alcance de um dedo indicador que liberasse o imperceptível e fulminante vírus delete. Seguindo os mesmos padrões da concentração de capital e dos oligopólios, a chamada sociedade da informação nunca foi mais do que dois ou três conglomerados de mídia digital que passaram a controlar o conhecimento humano. Apenas isso.

Agora, diante do avanço das hordas de bárbaros, chegou a hora de deletar tal conhecimento, a começar pelos ebooks maravilhosos de leitores fascinados.

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