13.12.07

Estava escrito nas estrelas *

ANDREI BASTOS

A vida de Teresa Costa d’Amaral, filha do jornalista Odylo Costa Filho, foi moldada por princípios sólidos de justiça social. Mestre em Comunicação com a tese “Deficiência e Democracia”, criou, em 1986, a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), órgão ligado à Presidência. Idealizou a Lei 7.853, de 1989, que trata da inclusão social das pessoas com deficiência, criminaliza o preconceito e obriga o Ministério Público a defender seus direitos coletivos. Com o sonho de fazer uma instituição inovadora, fundou, em 1998, o IBDD – Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que hoje se destaca no terceiro setor e no movimento das pessoas com deficiência.

A minha vida entrou na trajetória de Teresa no passado recente. Eu tinha as duas pernas quando disse para Georgette Vidor, ao me apresentar como colaborador voluntário na sua campanha para deputada estadual, que estava ali assumindo compromisso com um projeto político para a pessoa com deficiência que não se esgotava na sua possível eleição.

Georgette se elegeu e, quando eu trabalhava em seu gabinete na Alerj, fui obrigado a amputar uma perna, tornando-me deficiente em inescrutável ironia da vida. A essa altura meu engajamento já era total: revoltado diante da condição de prisioneiras de suas próprias casas de muitas pessoas com deficiência de baixa renda no Rio de Janeiro, eu consegui publicar um artigo sobre o problema no jornal O Globo.

Teresa leu, gostou e quis me conhecer, pois compartilhava das idéias colocadas no texto. Assim nasceu a amizade que deu concretude ao novo sentido da minha vida. Ao me aproximar de Teresa e de seu trabalho, descobri sua enorme generosidade, a exemplo da atenção que me dedicou, e um mundo diferente do que conhecemos habitualmente, pleno de solidariedade e oásis de excelência no seu campo de atuação. Tornei-me seu colaborador e do IBDD, instituição indissociável de sua pessoa, criada pela sua alma nem um pouco pequena, e que, por sua vez, realizava os sonhos que também eram os meus. Sonhos de igualdade, de solidariedade, de construção de um país mais justo.

Ao mesmo tempo, ainda na Alerj, pela primeira vez eu me filiava a um partido político, o PPS, desta vez em clara e previsível ironia da vida, como um retorno às origens em que fui gestado. Quando nasci, meus pais, ambos com vinte anos de idade, eram militantes do Partidão. Mas porque a atividade político-partidária tardia e porque o PPS? Primeiro porque cheguei à conclusão de que a degradação da atividade política só pode ser revertida se as pessoas de bem ocuparem todo o espaço possível nela. Nesse sentido, a chegada de Teresa representa um avanço incomensurável. E terminando de responder, o PPS, além de representar para mim uma volta às origens, era a possibilidade ética possível, fora da confusão partidária pós-ditadura em que tive a felicidade de não me perder.

Ao dividir minha vida entre partido e IBDD, nem de longe eu imaginava que viveria um dia como o de hoje, em que esta divisão se torna unidade e explicita o encontro de princípios iguais de respeito à dignidade e aos direitos humanos, à ética, aos valores mais caros da civilização. Estou muito honrado e orgulhoso, confesso sem pejo, em apresentar o PPS a Teresa Costa d’Amaral e em apresentar Teresa ao Partido Popular Socialista. Muito obrigado pelo privilégio.

* Discurso por ocasião da filiação de Teresa Costa d’Amaral ao PPS, em 13 de dezembro de 2007, um dia de muita chuva.

Foto: Margareth Pinheiro















Roberto Percinoto, presidente do PPS/Rio, Teresa d’Amaral e Andrei Bastos

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