25.5.08

Querem prorrogar a tunga do carioca

Folha de S. Paulo, Elio Gaspari, 25/05/2008:

Querem prorrogar a tunga do carioca

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A cada mês os cariocas perdem entre seis e doze pratos de comida para os magnatas dos transportes

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ARMOU-SE NA CÂMARA MUNICIPAL do Rio de Janeiro um dos maiores arrastões sociais já ocorridos na cidade. O repórter Luiz Ernesto Magalhães mostrou que 18 vereadores, liderados pelo doutor Jorge Mauro, querem prorrogar por pelo menos dez anos as concessões precárias das 420 linhas de ônibus da cidade.Trata-se de congelar o caos, pois a lei manda que até agosto o município faça uma licitação, submetendo a exploração desses serviços à livre concorrência do mercado.

As empresas de ônibus do Rio de Janeiro mandam mais que o arcebispo e arrecadam centenas de milhões de reais em dinheiro vivo (aquela espécie que anda em malas). A onipotência dos concessionários de ônibus transformou o sistema de transportes públicos da cidade numa bandalha voraz, anacrônica e predatória. Já o metrô é o mais caro do país e, por não oferecer descontos, arrisca ser o mais caro do mundo.

Olhando-se para São Paulo pode-se medir o tamanho do abuso social que se pratica no Rio. Um cidadão que durante 20 dias toma dois ônibus para ir ao trabalho e outros dois para voltar, gasta R$ 168 no Rio. Em São Paulo, onde o Bilhete Único permite que se façam duas viagens ao preço de uma só tarifa, gasta R$ 92. Uma economia de R$ 76 por mês.

Caso o percurso seja feito com ônibus e metrô, o paulistano gasta R$ 24 a menos do que o carioca. Se o cidadão passar da linha do metrô para a dos trens e tirar proveito da política de descontos, o refresco é de R$ 60 mensais.

Convertendo essas cifras em comida e estimando-se de R$ 6 o preço de um prato feito, os usuários da rede de transportes públicos de São Paulo almoçam entre seis e 12 vezes à custa da economia que fazem. Ou os cariocas entregam entre seis e 12 pratos de comida aos magnatas dos ônibus e do metrô. Os transportecas argumentam que o Rio não subsidia o transporte público. Aí é que está o erro. Nova York, Paris, Londres e São Paulo subsidiam.

O Bilhete Único de São Paulo atende 9 milhões de passageiros/dia. De cada dez usuários do metrô, sete tomaram ou tomarão um ônibus.

O prefeito Cesar Maia diz que vai abrir licitações para renovar as concessões. A ver. Já o governador Sérgio Cabral, anunciou que instituiria o Bilhete Único ainda em 2008. Abortou. Agora fala-se em fazer alguma coisa no ano que vem. Para gáudio dos empresários de transportes, será uma contrafação do que há pelo mundo.

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