20.8.09

“Me envergonho de estar no PT”

Folha de S. Paulo, 20/08/2009:

“Me envergonho de estar no PT”, diz senador

Flávio Arns, cujo mandato acaba em 2011, lidera protestos contra intervenção de Lula em favor de Sarney, contrariando parte da bancada

Líder do partido, Mercadante ameaçou mais uma vez deixar o cargo, mas recuou e culpou presidente do Senado pela crise instalada na sigla

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A vitória de José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética do Senado provocou um racha no PT e deixou em situação difícil o líder da bancada, Aloizio Mercadante (SP). Apesar de mais de uma vez ter repetido a ameaça de renunciar à liderança, ele terminou o dia no cargo e jogou para Sarney a culpa pela crise no partido.

“A crise no Senado e, hoje, a crise na bancada do PT é de responsabilidade do senador José Sarney. Se ele tivesse tido um gesto de grandeza, teria preservado a instituição e permitido uma apuração que, seguramente, ajudaria o Senado a encontrar um outro caminho”, disse Mercadante em entrevista, logo depois de uma reunião da bancada em que só compareceram 6 dos 11 senadores petistas, já descontada Marina Silva (AC), que deixou o partido.

No final do dia, Mercadante foi criticado por senadores do PT e um deles -Flávio Arns (PR)- anunciou que fará uma consulta à Justiça para ver se pode sair do partido. “O PT jogou a ética no lixo, vai ter que achar outra bandeira. O partido deu as costas à sociedade, ao povo e às bandeiras tão caras para tantas pessoas. Posso dizer que tenho vergonha de estar no PT”, afirmou.

“Vou pedir para a Justiça que concorde com meu argumento de que houve quebra do ideário partidário”, disse o senador, que é irmão de Zilda Arns, uma das idealizadoras da Pastoral da Criança. O mandato dele termina em 2011.

“Ficamos desamparados pelo nosso líder. Nada do que foi combinado foi cumprido. Fomos para o sacrifício”, disse Delcídio Amaral (PT-MS).

As críticas de Mercadante a Sarney foram uma tentativa de esconder o verdadeiro motivo do racha: a interferência direta do presidente Lula, que desde o início da crise forçava o apoio dos senadores petistas a Sarney, ao contrário de posição de parte da bancada.

Com receio do desgaste político de apoiar Sarney e prejudicar sua reeleição no próximo ano, Mercadante tentou até a última hora convencer seus colegas a aprovarem o desarquivamento de pelo menos um dos processos contra o presidente do Senado, mas fracassou.

Na reunião de ontem, o líder colocou o cargo à disposição, mas ouviu pedidos para que permanecesse. “A minha vontade, hoje, verdadeira, era sair da liderança do PT. Meu cargo está totalmente à disposição, só não quero agravar a crise num dia como hoje”, disse.

Dos três senadores que votaram pelo arquivamento, só João Pedro (AM) estava presente na reunião do final do dia, convocada por Mercadante. Ideli Salvatti (SC) e Delcídio se recusaram a participar, sem clima após um dia de divergências. Os dois, que sairão candidatos em 2010, queriam ser substituídos para que não precisassem se expor e votar a favor de Sarney, mas Mercadante se recusou a endossar o pedido.

Após a reunião com os petistas, Mercadante tentou explicar o motivo de não ter lido a nota na qual o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), orientava o voto pró-Sarney, conforme havia sido combinado pela manhã.

“Seria hipocrisia eu ler uma carta que não concordo. Disse que não encaminharia essa posição. E que, se fosse para encaminhar posição contrária a meus valores, eu preferia deixar a liderança.” Também afirmou que os senadores votaram no conselho “por uma decisão partidária”, e não por vontade própria. “Fizeram constrangidos”, disse, descrevendo o dia como “triste para o PT”. (LETÍCIA SANDER e VALDO CRUZ)

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