A regra do jogo
ANDREI BASTOS
Há pouco tempo, num final de domingo super família, minha neta de cinco anos me convidou para assistir a um filme de terror, "daqueles com muito terror, pra assustar bastante", disse ela. Esta é uma das suas grandes curtições, junto com seu laptop da Barbie, bonecas, papel e lápis de cor.
Seu convite me surpreendeu e me fez lembrar das incontáveis notícias que nos chegam há bastante tempo sobre a banalização de muitas coisas que pareciam incomuns e verdadeiramente assustadoras às gerações mais antigas. Desde os terríveis assassinatos cometidos por adolescentes em escolas secundárias americanas até o inofensivo prazer em assistir filmes "com muito terror". Seja por valores religiosos, morais ou éticos, antigamente mais divulgados, não se aceitava com a tolerância de hoje em dia grande parte de procedimentos e fatos atualmente considerados banais.
Muito já se escreveu sobre banalização da violência, do sexo etc. e não pretendo aqui discorrer sobre a do terror, promovida pelos acervos das locadoras de vídeos infantis. Minha intenção é fazer um paralelo entre essas banalizações e uma outra, que tem relação direta com o momento político que vivemos neste ano de eleições.
O que as pesquisas de opinião parecem demonstrar até agora é que, assim como as crianças e adolescentes recebem uma avalanche de games e filmes de violência etc. em detrimento de ensinamentos e exemplos de valores e princípios dados por seus pais, perdendo o senso crítico, nós, ao recebermos uma avalanche de denúncias de corrupção e impunidade feita pela mídia há tanto tempo, ficamos anestesiados, entorpecidos, também perdendo o senso crítico, passando a aceitar tais práticas como uma espécie de "brazilian way of life" e não fazemos nada para mudar a realidade.
Mais que isso, as pesquisas e vivências atuais também parecem indicar que todos nós, da classe A à classe D, incorporamos tais práticas ao nosso cotidiano, entendendo, equivocadamente, que é assim que as coisas são feitas por todos e que não é possível agir de maneira diferente, e solitária.
Aparentemente imutável, esta parece ser a regra do jogo. Fica a pergunta, para reflexão: como podemos resgatar nossa visão crítica e participação política?
* Texto publicado pela primeira vez em 10/08/2006 no site www.andrei.bastos.nom.br
Há pouco tempo, num final de domingo super família, minha neta de cinco anos me convidou para assistir a um filme de terror, "daqueles com muito terror, pra assustar bastante", disse ela. Esta é uma das suas grandes curtições, junto com seu laptop da Barbie, bonecas, papel e lápis de cor.
Seu convite me surpreendeu e me fez lembrar das incontáveis notícias que nos chegam há bastante tempo sobre a banalização de muitas coisas que pareciam incomuns e verdadeiramente assustadoras às gerações mais antigas. Desde os terríveis assassinatos cometidos por adolescentes em escolas secundárias americanas até o inofensivo prazer em assistir filmes "com muito terror". Seja por valores religiosos, morais ou éticos, antigamente mais divulgados, não se aceitava com a tolerância de hoje em dia grande parte de procedimentos e fatos atualmente considerados banais.
Muito já se escreveu sobre banalização da violência, do sexo etc. e não pretendo aqui discorrer sobre a do terror, promovida pelos acervos das locadoras de vídeos infantis. Minha intenção é fazer um paralelo entre essas banalizações e uma outra, que tem relação direta com o momento político que vivemos neste ano de eleições.
O que as pesquisas de opinião parecem demonstrar até agora é que, assim como as crianças e adolescentes recebem uma avalanche de games e filmes de violência etc. em detrimento de ensinamentos e exemplos de valores e princípios dados por seus pais, perdendo o senso crítico, nós, ao recebermos uma avalanche de denúncias de corrupção e impunidade feita pela mídia há tanto tempo, ficamos anestesiados, entorpecidos, também perdendo o senso crítico, passando a aceitar tais práticas como uma espécie de "brazilian way of life" e não fazemos nada para mudar a realidade.
Mais que isso, as pesquisas e vivências atuais também parecem indicar que todos nós, da classe A à classe D, incorporamos tais práticas ao nosso cotidiano, entendendo, equivocadamente, que é assim que as coisas são feitas por todos e que não é possível agir de maneira diferente, e solitária.
Aparentemente imutável, esta parece ser a regra do jogo. Fica a pergunta, para reflexão: como podemos resgatar nossa visão crítica e participação política?
* Texto publicado pela primeira vez em 10/08/2006 no site www.andrei.bastos.nom.br
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