Heroísmo sem limites
Luiz Cláudio Pereira, Luís Cláudio Pontes e Alexandre Gaschi quando verificaram a acessibilidade no Maracanã, palco da abertura dos Jogos Parapan-americanos de 2007
O IBDD (www.ibdd.org.br) vai publicar um livro em homenagem aos seus atletas durante os Jogos Parapan-americanos. Os autores são João Máximo (texto), Rogério Reis (fotos) e Victor Burton (design gráfico).
Heroísmo sem limites
CATARINA D’AMARAL
Heroísmo sem limites é o título de um livro que o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência vai publicar durante os Jogos Parapan-americanos. Esta proposta não é fortuita, não é casual. Ela tem mais que um objetivo. Tem um sentido. É uma construção.
O Rio de Janeiro vive em 2007 um momento espetacular no mundo do esporte. Entre 13 e 29 de julho acontecem, por toda a cidade, os Jogos Pan-americanos. Cerca de 5.500 atletas de 42 países da América do Norte à América do Sul participarão das 33 modalidades desportivas que fazem parte do Pan. O mundo todo conhece essa competição, todo o Brasil está seguindo as notícias sobre a preparação do Rio de Janeiro para os jogos, e espera ansioso pelo seu início. Mas nem todo o país sabe que, terminado o Pan, tem início o Parapan-americano, a competição paradesportiva oficial das Américas. Pela primeira vez as competições pan-americanas desportivas e paradesportivas serão realizadas na mesma cidade, uma na seqüência da outra. Os estádios, as concentrações, os alojamentos, a infra-estrutura criada para o Pan servirão também ao Parapan. A publicidade em torno aos dois eventos, no entanto, não será a mesma.
É pena.
Se o esporte é o lugar por excelência da superação de limites, os atletas com deficiência já começam a competição como campeões. Se o esporte emociona e contribui para a grandeza do homem, o paradesporto exalta o heroísmo sem limites dos atletas com deficiência; ele enobrece a alma. As exigências diárias na vida de uma pessoa com deficiência no Brasil fazem dela uma lutadora, e as competições esportivas internacionais dão a chance ao mundo de conhecê-la.
O IBDD participa e quer participar ainda mais da divulgação do paradesporto. Para a pessoa com deficiência, o esporte rompe várias barreiras: é uma forma de reabilitação física e psicológica que, além de ajudar a vencer o preconceito, mostra à sociedade que sua vida pode ser ativa, competitiva e autônoma. Por isso, o IBDD pensa diferente. Para o Instituto, o Rio de Janeiro vive em 2007 este momento espetacular: entre os dias 12 e 19 de agosto a cidade irá sediar os Jogos Parapan-americanos. 1.300 atletas com deficiência disputarão 10 modalidades: atletismo, basquetebol em cadeira de rodas, natação, halterofilismo, futebol de 5, futebol de 7, judô, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e voleibol sentado. O Brasil participará de todas elas. O IBDD, como clube paradesportivo, tem 14 atletas pré-convocados para competirem na natação, no judô e no futebol de 7 (para paralisados cerebrais). No judô, deverão participar Antonio Tenório, tricampeão paraolímpico, que recebeu em dezembro de 2006 o troféu de melhor atleta paraolímpico masculino do ano no Prêmio Brasil Olímpico, concedido pelo Comitê Olímpico Brasileiro – COB; Eduardo Paes, medalha de Prata nas Paraolimpíadas de Atenas; Elmo Mamede Carvalho Vaz, campeão brasileiro em 2005 na categoria meio-pesado, campeão brasileiro de boxe até sofrer um acidente durante um treino preparatório para a luta em que deveria disputar o título mundial contra Evander Hollyfield e perder a visão em um olho, e, progressivamente, no outro; Lourdes Maria Silva de Souza, bicampeã brasileira, medalha de ouro no mundial de 2005 e de bronze em 2006; Roberto Paixão, campeão da Copa Brasil 2006, e Renata Quintão. A seleção brasileira de futebol de 7 poderá contar com Adriano Biggi, integrante da seleção nas Paraolímpiadas de Atlanta, Sidnei e Atenas; José Carlos Monteiro Guimarães, o Zeca, artilheiro do time de futebol do IBDD e da seleção brasileira paraolímpica; Thiago Carneiro, eleito o jogador revelação do campeonato brasileiro em Campo Grande/MS, integrando a equipe do IBDD; Pedro Santos Jr. e Antonio Marcos Passos da Rocha, todos os cinco membros do time de futebol de 7 do IBDD. Na natação, estão pré-convocados José Afonso Medeiros, o Caco, campeão paraolímpico em Atlanta nos 50m borboleta, campeão mundial no Torneio de Natação realizado na ilha de Malta, em 1994 (competição em que bateu o recorde mundial, superado apenas seis anos depois), três vezes medalha de ouro e uma vez de prata no Parapan-americano de Mar del Plata em 2003; e André Brasil, que conquistou quatro medalhas de ouro no Mundial de Natação Paraolímpica 2006, realizado em Durban, na África do Sul, nas provas de 50m, 100m e 400m livres, e 100m borboleta, batendo o recorde mundial nas provas de 50m e 100m livres e nos 100m borboleta. Além das medalhas de ouro, André também conquistou a medalha de bronze nos 200m medley e no revezamento de 4x100m.
É pelo seu envolvimento direto com o paradesporto, é por conhecer as dificuldades e as conquistas que os atletas com deficiência experimentam nas suas vidas que o IBDD acredita que o Parapan-americano merece todo o destaque e a atenção da mídia, e através dela, de todo o Brasil. O IBDD pretende contribuir produzindo um livro em homenagem aos seus atletas. Uma publicação centrada nas belas imagens que nascem do trabalho – do treino às competições e às vitórias – de todos os atletas do IBDD, cujo núcleo paradesportivo inclui, além dos esportes de competição que participarão do Parapan, bocha e dança.
O Rio de Janeiro está se organizando para sediar o Pan, mas também está se preparando para receber os atletas parapan-americanos. O maior estádio de futebol do mundo, o Maracanã, foi inteiramente adaptado para se tornar acessível às pessoas com deficiência. Os que jogam e os que assistem. A Vila Pan-americana foi projetada para receber os atletas com deficiência. Essas obras sobreviverão ao Pan e poderão ser parte do processo de inclusão das pessoas com deficiência na cidade, na sociedade e no mundo do trabalho. Esse processo é longo e árduo, o IBDD sabe disso. A sua proposta é aproveitar, por meio da publicação de um livro de alto apelo visual, a oportunidade aberta pelo Parapan de dar visibilidade ao paradesporto e contribuir para as mudanças tão necessárias à construção da cidadania das pessoas com deficiência no Brasil.
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