9.9.07

Mais um ladrão!

ANDREI BASTOS

Três coisas sempre me atrapalharam na vida e, segundo os padrões convencionais, contribuíram para impedir meu sucesso:

Não roubar, não ser puxa-saco e não ter sangue de barata.

Mas daqui pra frente tudo vai ser diferente. Minha experiência como candidato a deputado federal nas eleições de 2006 foi rica em ensinamentos e fui aluno aplicado. A nota que obtive, de 646 votos, na verdade foi um último e definitivo ensinamento. As regras do jogo ficaram claras para mim e resolvi deixar para trás os princípios que até então me nortearam.

A aula mais importante me foi dada por um eleitor, durante uma das quixotescas panfletagens que fiz com minha única cabo eleitoral, Danielle da Costa. A caminho da entrada da ABBR, onde ficaríamos pateticamente distribuindo panfletos e desperdiçando saliva com cidadãos indiferentes, eu seguia um pouco à frente e emparelhei com um casal que recebera de Danielle o meu panfleto. Olhando para o papel, o homem disse para a mulher com absoluta convicção: "Mais um ladrão!".

Aquilo me atordoou, mas logo recuperei o tino e pensei que ele tinha razão e que não adiantava contestar e me apresentar como probo. Afinal, como sentencia a sabedoria popular, "dize-me com quem andas e te direi quem és". Ora, se eu me apresentava como candidato a fazer companhia à súcia de corruptos e corruptores do Legislativo - vendilhões da pátria, da cidadania e da própria alma -, o que poderia pretender senão roubar também?

Portanto, partindo do consagrado pressuposto de que todo homem tem seu preço e tendo em vista que as eleições 2008 se aproximam, caso eu venha a me candidatar, como primeira medida já resolvi fixar o valor de um bilhão de dólares para me deixar corromper. Ou será melhor fazer o preço em euros? Estou inseguro diante das recentes desvalorizações da moeda do Tio Sam e do fato de Gisele Bündchen ter feito seu último contrato em euros.

Por outro lado, a palavra "dólares" tem forte apelo popular, é boa de marketing e já está introjetada profundamente no inconsciente coletivo, seja por terem sido encontrados milhares de exemplares dessa moeda em cuecas e malas, seja por causa do Tio Patinhas. Vou acabar ficando mesmo é com os dólares, sem dúvida mais conhecidos pelo eleitorado, particularmente pelo de baixa escolaridade, que ainda nem ouviu falar de euros.

É isso, caro cidadão. Penso ter estabelecido um preço condizente com o que você merece e com o valor do que me considero capaz de fazer por você e pela sociedade, se afinal eu decidir tentar entrar para alguma quadrilha, daqui ou de Brasília. Reflita e leve isso em consideração na hora de depositar seu voto na urna. Os dólares, não se preocupe, serão depositados por lobistas experientes nas minhas possíveis futuras contas em paraísos fiscais. Não é higiênico carregar dinheiro na cueca.

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